Tese da UFMG premiada trata de efeitos da política externa no comércio internacional do Brasil

Pesquisa de Mario Schettino Valente recebeu Menção Honrosa em concurso da Anpocs

Nas últimas décadas, a política externa do Brasil contribuiu para o aumento das exportações, a redução das importações e a proteção do mercado nacional. A magnitude dos efeitos sobre o comércio exterior não foi suficiente, contudo, para fazer a competitividade do Brasil crescer no mesmo ritmo do que ocorreu com outros países em desenvolvimento e com países da América Latina e Caribe. Mario Schettino Valente apresentou esses e outros resultados em tese desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFMG. 

O estudo foi agraciado com Menção Honrosa em concurso da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) no qual foram avaliados mais de 90 trabalhos nas áreas de Antropologia, Sociologia e Ciência Política e Relações Internacionais. Prêmios e menções honrosas foram anunciados no encerramento do 45º encontro da Anpocs, no final de outubro.

Os estudos que resultaram na tese Política externa e desenvolvimento no Brasil (1985-2018): os efeitos da ação externa do Estado brasileiro sobre o comércio exterior partiram da ideia comumente difundida entre a elite política brasileira, a opinião pública e também na literatura acadêmica de que a política externa brasileira é um dos instrumentos de promoção do desenvolvimento. Para verificar empiricamente essa conexão, Schettino avaliou políticas públicas como forma de determinar o tamanho dos impactos da ação do Estado sobre o comércio exterior.

“Minha investigação lançou mão do modelo gravitacional, oriundo dos estudos econômicos, para estimar os efeitos da política externa implementada entre 1985 e 2018 – com ênfase em acordos de integração econômica, viagens presidenciais e presença de embaixadas – sobre os resultados comerciais na relação com outros países”, afirma o autor da pesquisa, que foi orientado pelo professor Dawisson Belém Lopes, da Fafich, e coorientada por Jean Daudelin, docente da Norman Paterson School of International Affairs, vinculada à Carleton University (Ottawa, Canadá).

Modelo gravitacional

Mario Schettino explica que estudos tradicionais sobre a política externa brasileira são alvo de críticas porque os arquivos consultados – por exemplo, documentos produzidos pela burocracia estatal ou pela sociedade civil – tendem a ter viés positivo ou negativo, o que dificulta aferir a efetividade das ações. Ele adotou, então, o modelo gravitacional, metodologia quantitativa que, em geral, prevê fluxos de comércio bilateral com base no tamanho das economias e na distância entre os territórios.

“Isolei fatores como os de proximidade linguística e afinidades políticas e culturais, entre outros, para medir especificamente a influência dos acordos, das viagens dos presidentes da República e da existência de representações diplomáticas brasileiras nos 100 maiores parceiros comerciais do país. Foi possível identificar, por exemplo, alguns tipos de acordo com efeitos mais intensos”, conta Schettino, que fez sua formação na UFMG desde o ensino médio – passou pelo Colégio Técnico, graduou-se na Faculdade de Direito e cursou mestrado e doutorado na Fafich. Na graduação, passou temporada na Universitá di Bologna (Itália); mais recentemente, fez estágio doutoral na Norman Paterson School da Carleton University.

De acordo com o pesquisador, foi possível perceber o papel do Mercosul no incremento das exportações brasileiras, mas não ficou demonstrada concentração dos efeitos da política externa em setores determinados. Seus planos de pesquisa para o futuro próximo incluem a comparação dos resultados das ações da diplomacia brasileira com os de vizinhos da América do Sul – o Chile, para ficar num caso, tem estratégia mais focada no aumento do livre comércio – e a investigação de como a América do Sul se insere na rede de comércio internacional após a reorganização promovida pela China.

Tese: Política externa e desenvolvimento no Brasil (1985-2018): os efeitos da ação externa do Estado brasileiro sobre o comércio exterior

Autor: Mario Schettino Valente

Orientador: Dawisson Belém Lopes

Coorientador: Jean Daudelin

Programa de Pós-graduação: Ciência Política

Defesa: 20 de fevereiro de 2020

Texto de Itamar Rigueira Jr.

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG