UFMG deposita patente para dispositivo usado em transporte de órgãos para transplante
Nesta sexta-feira, 27 de setembro, é o Dia Nacional da Doação de Órgãos. No Brasil, mais de 40 mil pessoas aguardam por um órgão para transplante, segundo o Ministério da Saúde. A maioria, quase 90%, espera por um rim. E quando o assunto é transplante de órgãos o foco quase sempre está sobre os doadores. Mas outro fator impacta e muito o trabalho das equipes médicas mundo afora: o transporte dos órgãos. Na luta contra o tempo, já que cada órgão tem um tempo máximo diferente para ser retirado e doado a um receptor, segundo a Organização Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a logística inadequada responde por 5% a 10% das doações não concretizadas. Os transplantes, procedimentos complexos, envolvem a substituição de órgãos doentes por saudáveis, com o transporte desempenhando papel crítico.
Segundo a ABTO, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define regulamentos para o transporte de órgãos, para garantir a sua integridade e evitar a contaminação. A escolha da via de transporte e embalagem apropriadas são cruciais, já que, segundo a organização, problemas logísticos podem levar à perda de órgãos doados, com destaque para a necessidade de investir em infraestrutura, capacitação e simplificação de processos.
“Ainda hoje, os órgãos são transportados de forma quase artesanal, naqueles coolers encontrados em supermercados, onde colocamos gelo e órgão lá dentro. Em alguns locais, não há nem termômetros para monitorarmos essa temperatura, correndo o risco, entre outros problemas, de o órgão congelar”, explica Marcelo Sanches, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Instituto Alfa Gastro, do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, responsável pelos transplantes de fígado da Unidade.
A solução para o problema veio da Escola de Arquitetura da UFMG: o então estudante de graduação de Design Wallace Terra apresentou um novo design para transporte de órgãos como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Durante toda a graduação pensava em como aplicar meus conhecimentos na logística de transporte e quando me deparei com o transplante de órgãos vi que ali havia muitos problemas a serem enfrentados”, destaca o pesquisador.
A ideia foi recebida com entusiasmo pelos profissionais do Hospital das Clínicas que, durante um ano, trabalharam com o estudante para gerar a tecnologia. “Recebemos como uma grata surpresa um aluno da graduação com essa ideia. Já que, com o trabalho em conjunto, temos, hoje, uma excelente alternativa para enfrentar o problema do transporte de órgãos no Brasil”, destaca Sanches. O pedido de patente, Dispositivo para acondicionamento, preservação e transporte de órgãos para transplante, foi depositado pela UFMG junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), em julho deste ano.
O trabalho foi orientado pela professora Laura Cota, da Escola de Arquitetura da UFMG, e co-orientado por Luan Moura, do Centro Universitário Teresa D’Ávila (Unifatea) e por Marcelo Sanches, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
A tecnologia
Segundo os pesquisadores, o dispositivo feito à base de polipropileno, um termoplástico, visa oferecer facilidade, estabilidade e segurança, com o intuito de reduzir o estresse da equipe médica ao fazer o transporte e o estresse do próprio órgão. “Criamos uma alça adaptada, que serve tanto para a movimentação horizontal como para a vertical, por exemplo, ao carregar a caixa para o porta-malas e depois subir escadas”, explica Terra.
Já na parte interna, foi criada uma espécie de bolsa de silicone, com filamentos, segundo os inventores, inspirados nas estrelas do mar, isso para que o órgão fique suspenso, em meio à solução aquosa e não sofra impactos no interior da caixa como acontece hoje. Essa redução de impacto reduziria o estresse do órgão, com uma consequente maior aceitação nos transplantes.
Durante a redação do pedido de patente, analistas do Núcleo de Inovação da UFMG fizeram buscas por tecnologias ao redor do mundo que se propunham a resolver o mesmo problema. “Não encontramos tecnologias similares a essa, que não carrega um alto nível de complexidade, o que facilita sua produção por parte de empresas do ramo e apresenta elementos novos e interessantes para serem incorporados ao transporte de órgãos no Brasil”, destaca o redator de patentes da UFMG, Nathan Giovanni.
O Núcleo de Inovação da Universidade procura agora empresas parceiras para a fabricação dos dispositivos, que serão usados em um projeto piloto no transporte de órgãos a serem transplantados no Hospital das Clínicas da UFMG.