UFMG e UFCG desenvolvem projeto para recomendação de produtos e serviços em automóveis
Iniciativa baseada em inteligência artificial busca aprimorar soluções de 'marketplace' para condutores e passageiros
Com a evolução tecnológica e o surgimento da inteligência artificial (ou IA), os carros se tornaram dispositivos interativos, capazes de capturar informações do ambiente e do motorista por meio de sensores e de acessar dados disponíveis digitalmente quando conectados à internet. No entanto, como os motoristas ainda precisam dirigir, tarefas secundárias que exigem a interação e a atenção do motorista ainda representam um desafio. Para responder às novas necessidades criadas pelo ambiente veicular, projeto desenvolvido pela UFMG, em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e com a fabricante de automóveis Stellantis, visa desenvolver sistemas veiculares que, levando em conta a localização do carro, a hora do dia e as interações recentes do motorista, façam recomendações relevantes para os condutores.
"Nossa intenção é fazer que o tempo gasto dentro dos carros seja mais bem aproveitado pelos motoristas. Os sistemas que pretendemos desenvolver deverão facilitar tarefas recorrentes. Se o motorista, por exemplo, pretende fazer determinada rota, o sistema pode verificar o que está faltando na sua casa e indicar um supermercado no caminho para que ele compre esse item", afirma o professor Rodrygo Santos, do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG e coordenador do projeto Recomendação contextual em ambientes veiculares, desenvolvido com o professor Marcos André Gonçalves, também do DCC.
Rodrygo explica que o projeto tem potencial para revolucionar a indústria automotiva, aprimorando as soluções de marketplace veicular existentes e contribuindo para a satisfação e fidelização de consumidores de carros. “A proposta é um sistema que gere novos negócios relacionados à conectividade veicular e novos serviços baseados nas informações georreferenciadas do veículo, usando modelos de inteligência artificial aplicados aos dados coletados, mas garantindo a privacidade dos dados do usuário e do veículo.”
Segundo o professor, veículos conectados e com acesso à internet são realidade, e já existem até carros com mecanismos de pagamento que possibilitam que o motorista faça transações de deles. Ele ressalta, porém, que os sistemas precisam considerar que a atenção do motorista deve priorizar a condução do veículo, ou seja, devem agir proativamente, minimizando o esforço cognitivo do usuário e as interrupções indesejadas a essa condução.
"Os sistemas propostos deverão ser capazes de entregar recomendações relevantes no momento mais apropriado. Será possível antecipar compras recorrentes e outras atividades contextuais. Se o sistema sabe que o motorista gosta da comida de um restaurante específico, e ele está passando com o seu carro perto desse restaurante no horário do almoço, pode recomendar a compra de uma refeição ou a reserva de uma mesa", diz.
Filtros inteligentes
Rodrygo explica que os sistemas, que funcionarão como programas de computador dentro dos carros, serão desenvolvidos por meio de inteligência artificial (AI). Uma preocupação dos pesquisadores se refere ao fato de que as pessoas já são bombardeadas com muitas informações – em casa, no trabalho e, futuramente, dentro dos carros. Devido a essa sobrecarga informacional, os sistemas servirão como filtros inteligentes, separando o que é relevante para o motorista e o que não é.
"O carro é o próximo dispositivo inteligente que as pessoas vão utilizar, então é natural que, estando cada vez mais conectado, ele se torne um canal com o motorista. Então, é necessário que, por meio de IA, ele seja capaz de fazer as melhores recomendações nos melhores momentos. O sistema filtrará o que oferece ao motorista, assim como os serviços de streaming filtram o que oferecem aos seus usuários, antecipando o que eles desejam", explica o professor do DCC.
Estatísticas do mercado de veículos mostram que 50% dos carros novos já saem das fábricas com tecnologias que viabilizam o tipo de sistema de recomendação que está sendo desenvolvido pelo grupo de Rodrygo Santos. Assim, o projeto vai ao encontro de um movimento global da indústria automobilística. "Estamos criando um projeto pioneiro, uma espécie de piloto para entender o que é viável e interessante para os motoristas e para o mercado. Ao final do projeto, deveremos ter uma ideia do tipo de modelo de IA é factível nesse cenário e será aceito pelos motoristas. Nosso estudo trará subsídios para uma futura ampliação do projeto", diz Rodrygo.
Rota 2030
O Programa Rota 2030 foi criado pelo governo federal com o objetivo de elaborar uma política industrial de longo prazo para o setor automotivo e de autopeças, estimulando o investimento e o fortalecimento das empresas brasileiras do setor. O projeto Recomendação contextual em ambientes veiculares foi um dos contemplados na chamada 01/2022 de edital da Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), na linha VI do Rota 2030, focada em conectividade veicular. O projeto, com duração prevista de 18 meses, receberá aporte de R$ 1,4 milhão da Fundação.
(Com base em texto de Luana Macieira)