UFMG integra mesa sobre contribuição de povos originários e africanos na história de Minas
Iniciativa da Assembleia Legislativa, evento terá presença da reitora Sandra Goulart Almeida e da professora Vanicléia Silva Santos
A contribuição dos povos originários e dos povos africanos para a formação da identidade e história de Minas Gerais e para o desenvolvimento econômico do estado será debatida em webinário nesta sexta-feira, 16 de julho, iniciativa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e de instituições parceiras. Da UFMG, participarão a reitora Sandra Regina Goulart Almeida e a professora Vanicléia Santos, vinculada ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
A mesa-redonda, que terá início às 10h com transmissão pelo canal da Assembleia no YouTube, será aberta pelo presidente do Parlamento mineiro, deputado Agostinho Patrus (PV). O evento integra a programação que celebra os 300 anos Minas Gerais.
O webinário Formação do povo mineiro: as diversas faces de um mosaico em construção vai marcar também o lançamento de 1720-2020: livro-reportagem das comemorações do tricentenário de Minas Gerais, do jornalista Américo Antunes. A publicação registra a programação comemorativa dos 300 anos de Minas realizada pela ALMG e outras instituições públicas do estado.
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida ressalta que a UFMG participou ativamente, com ações de curadoria, publicações e presença em debates, da programação que comemora o tricentenário, coordenada pela ALMG. “A história de Minas é base para as reflexões sobre seu futuro, e a UFMG se orgulha de ser parte importante dessa trajetória. A Universidade sempre foi e continuará a ser um símbolo da soberania e da autonomia do povo mineiro, que pensa, muda quando é necessário e projeta, com coragem, os tempos que virão”, afirma.
Sandra exalta a iniciativa da mesa-redonda, que, “oportunamente, traz ao debate a participação fundamental dos indígenas e africanos na construção da grandeza de Minas, no passado e no presente”. A reitora acrescenta que o apreço do povo mineiro pela liberdade “como valor inegociável” reforça a vocação de Minas Gerais e de suas instituições para “a reflexão refinada sobre as culturas e os pensamentos, em toda a sua diversidade”.
Dezesseis de julho é o Dia de Minas Gerais, instituído em 1979, em referência ao início do povoamento da cidade de Mariana (Central), primeira capital do estado e considerada o berço da civilização mineira.
Contribuição civilizatória dos africanos
As apresentações sobre o tema do seminário estarão a cargo do jornalista e escritor Américo Antunes, idealizador do Festival de História (fHist), e da professora da UFMG Vanicléia Silva Santos, curadora associada da Coleção de Arte Africana do Penn Museum, nos Estados Unidos. Ela está licenciada da Universidade, onde leciona História da África Pré-colonial no Departamento de História da Fafich.
Vanicléia Santos sublinha que a proposta de comemorar 300 anos da história de Minas Gerais tem como marco o início da colonização, mas que é preciso incluir a presença anterior dos indígenas que habitavam o território e considerar os africanos como fundadores e formadores de Minas Gerais. "A história é feita por muitos povos, mas o que conhecemos foi distorcido pelos europeus colonizadores. Negros e indígenas contribuíram tanto ou mais para a formação de Minas Gerais do que os celebrados colonos europeus”, afirma a professora. “As africanas, os africanos e seus descendentes eram muito mais que trabalhadores. Chegaram ao Brasil com conhecimentos sobre tecnologias e ensinaram os portugueses, por exemplo, a minerar ouro e ferro. Também ensinaram sobre a liberdade e outros valores relacionados à igualdade. Ao resistir à escravidão, fugindo de condições de vida e de trabalho desumanas para criar os quilombos, sociedades organizadas sem exploração, africanos e seus descendentes exigiram ser tratados de forma humana.”
A pesquisadora, que é especialista em História da África e das diásporas africanas, afirma que a forma escolhida para celebrar o passado diz muito sobre o nosso presente e sobre os esquecimentos dos indígenas e africanos. Um exemplo são grandes obras como as igrejas de Ouro Preto e outras cidades mineiras do período colonial, que, segundo Vanicléia, “não são devidamente valorizadas como criações intelectuais de mestres afrodescendentes”. Ela menciona também o fato de que o patrimônio histórico e cultural do estado não inclui referências à população negra e indígena – lembra que estátuas são erigidas para exaltar homens brancos. “É crucial que as ações celebratórias considerem sempre os indígenas e os africanos e seus descendentes como agentes e sujeitos históricos. É preciso retornar ao passado e entendê-lo para ressignificar o presente e construir o futuro”, afirma Vanicléia Santos.
O webinário integra extensa programação organizada pela ALMG, em parceria com instituições públicas, para celebrar os 300 anos de criação de Minas Gerais, completados oficialmente em 2 de dezembro de 2020. Nesse dia, há três séculos, a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro foi desmembrada pela Coroa Portuguesa, originando a Capitania de Minas, que se tornou conhecida como Minas Gerais.
A ação de maior destaque da programação comemorativa foi a coleção 300 anos de Minas Gerais, composta de duas outras publicações, além do livro-reportagem que será lançado no evento: Nossa comida tem história, organizada pelo professor José Newton Coelho Meneses, e Minas Gerais. Visão de conjunto e perspectivas, de João Antonio de Paula. Ambos são professores da UFMG, vinculados, respectivamente, ao Departamento de História e à Faculdade de Ciências Econômicas. Os livros foram lançados no segundo semestre de 2020.