UFMG integra projeto de assistência médica e vigilância genômica no Pantanal
Professora Juliana Calábria e estudantes de pós-graduação analisam amostras de água e esgoto obtidas em viagens de navio pelo Rio Paraguai
A UFMG participa de parceria interinstitucional que provê assistência médica e odontológica e vigilância genômica a populações ribeirinhas do Pantanal. A professora Juliana Calábria e alunos do Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, da Escola de Engenharia, são responsáveis pela vigilância ambiental de águas e águas residuárias. O trabalho pioneiro, liderado pela Fiocruz-MG, pela Secretaria de Saúde do Mato Grosso do Sul (SES-MS) e pela Marinha do Brasil, envolve diversas outras instituições nacionais e internacionais.
Na primeira de duas viagens previstas, realizada de 20 de novembro a 10 de dezembro, três navios da Marinha desceram o rio Paraguai, a partir de Ladário até Porto Murtinho, em percurso de mais de 470 quilômetros. Com base na abordagem de saúde única, os cientistas coletaram amostras de sangue, secreções nasais e fezes de pessoas, animais domésticos e silvestres, vetores e hospedeiros, avaliando o efeito das mudanças climáticas na circulação dos patógenos. Juliana Calábria, que é bióloga e vinculada ao Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Desa), e a aluna Ana Paula Carvalho reuniram amostras de água e esgoto.
O projeto Navio: Navegação ampliada para vigilância intensiva e otimizada estabelece monitoramento genômico móvel em áreas remotas, especialmente as ribeirinhas, no Pantanal do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. A proposta é identificar e caracterizar patógenos nas comunidades, com foco em doenças infecciosas como dengue, chikungunya, zika, febre do Nilo Ocidental, mayaro, oropuche, malária, covid-19, influenza, HIV e HTLV, sífilis, leptospirose, febre maculosa leishmaniose e doenças fúlgicas e parasitoses intestinais.
Em laboratórios montados em duas das embarcações, os pesquisadores iniciaram as análises – como as de sorologia, parasitologia, biologia molecular e sequenciamento genético – para detecção de doenças. Algumas informações já foram transmitidas às populações assistidas, o que possibilitou o encaminhamento de tratamentos, além da vacinação da comunidade ribeirinha.
“Processamos já no percurso parte das amostras e trouxemos material congelado para análise no Laboratório de Microbiologia de Água e Esgoto do Desa”, conta Juliana Calábria, que coordena o laboratório. Ela destaca que a integração das informações geradas contribuirá para o aprimoramento de políticas de saúde pública e intervenções direcionadas para enfrentar as doenças infecciosas emergentes e reemergentes em áreas remotas e impactadas pelas mudanças climáticas.
Consórcio, apoio e financiamento
O projeto Navio prove assistência hospitalar e tratamento clínico para as populações ribeirinhas, com dois médicos da marinha, dois dentistas, dois enfermeiros e um médico infectologista. Portanto, além da avaliação das doenças presentes, as populações recebem atendimento médico, odontológico, tratamento das doienças e vacinação para adultos e criancas. A embarcação de assistência hospitalar da Marinha foi credenciada no SUS e recebe medicamentos e vacinas da Secretaria de Saúde do Mato Grosso do Sul.
Com duração de cinco anos, a iniciativa é coordenada pelo professor Luiz Alcântara, da Fiocruz-MG, e pela professora Christine Maymone, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e da SES-MS. A segunda viagem será em fevereiro do ano que vem, na área norte do pantanal, no percurso de Ladário a Cáceres, cidade do Mato Grosso. Ladário sedia o 6º Distrito Naval da Marinha.
A iniciativa integra o consórcio internacional Climade e é financiada pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, Organização Pan-americana de Saúde/ Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), SES-MS, Marinha do Brasil (futuramente, também pela Secretaria de Saúde do Mato Grosso e pelo Ministério da Saúde).
O projeto conta também com apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde do Mato Grosso, prefeituras de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho, alunos e pesquisadores da UFMG, Ufop, UFMS, UEMS, Universidade Estadual de Feira de Santana, Embrapa, Instituto Erasmus de Roterdam (Holanda), Universidade de Stellenbosch (África do Sul), Universidade de Washington (Seattle, EUA), Universidade de Sidney (Austrália) e dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Ministério da Saúde, Loccus Solution, Biomanguinhos, Bioclin, IBMP e CGLAB-MS.
Juliana Calábria coordena vários projetos de pesquisa na área de microbiologia ambiental e aplicada à engenharia sanitária e outros temas, incluindo a vigilância genômica de águas e águas residuárias para avaliar a circulação de patógenos e genes de resistência a antibióticos na Região Metropolitana de Belo Horizonte e outras áreas, com financiamento do CNPq, da Fapemig e da Capes, em colaboração com a Fiocruz-MG e a Funed, entre outras instituições.