UFMG recepciona calouros com reflexões sobre cidadania e defesa da democracia
Programação, que começa nesta segunda-feira, dia 20, terá aula magna da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos
Nesta segunda-feira, 20 de março, a UFMG dá início à programação de recepção aos calouros em 2023. Os cerca de 4 mil ingressantes do primeiro semestre letivo serão recebidos com conferências que abordam o tema Universidade, cidadania e defesa da democracia, ministradas por professores do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG. A programação conta ainda com aula magna da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, além de apresentações culturais. Detalhes da programação podem ser consultados no site Viver UFMG, guia on-line que reúne informações básicas destinadas aos novos estudantes.
Em mensagem de boas-vindas aos calouros, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira explicam que o início das atividades da UFMG, em 2023, se dá “sob o signo da esperança, sentimento que nos permite atravessar os tempos”. “Graças a ela, a UFMG superou dificuldades e vivenciou transformações que a tornaram referência em vários campos. A bordo da esperança, entramos num período mais favorável à valorização da ciência, da educação e de políticas públicas que atendam aos anseios da sociedade brasileira”, afirmam.
Nas boas-vindas, Sandra Goulart e Alessandro Moreira destacam também a qualidade do ensino ofertado pela UFMG, instituição que é, hoje, exemplo de inovação, nas mais diferentes áreas do conhecimento. “A UFMG alia excelência e relevância social e faz da cultura uma dimensão transversal e indissociável do seu fazer acadêmico. A Universidade que, a partir de agora, faz parte da vida de vocês é melhor, mais inclusiva do que era no início deste século e quer se tornar cada vez mais presente na vida das pessoas”, completam os dirigentes.
Ciência e desenvolvimento
Primeira mulher titular do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a ministra Luciana Santos falará sobre o desenvolvimento nacional, tendo como base o tripé que dá nome ao ministério. A aula magna, intitulada Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional, será às 15h, no Auditório da Reitoria, com abertura da reitora Sandra Goulart.
“É uma alegria ter a oportunidade de ministrar a aula magna na Universidade Federal de Minas Gerais, uma instituição de excelência que tem se destacado em diversas áreas do conhecimento, em especial nos projetos de saúde. Os investimentos federais feitos nos projetos da UFMG, como a vacina SpiN-Tec, comprovam que ciência é investimento e não gasto. Estamos empreendendo esforços para que mais jovens entrem e permaneçam nas carreiras científicas, em especial mulheres e meninas. O desenvolvimento e o futuro do nosso país dependem da construção científica”, afirma a ministra Luciana Santos.
Após a aula magna, a ministra fará uma visita às instalações do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), onde vai conhecer o Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CT Nano) da UFMG e também as instalações que vão receber a nova unidade Embrapii, que está em processo de implantação e será a terceira instalada na Universidade. O objetivo do projeto, que une quatro Centros de Tecnologia e Inovação, é apoiar empresas na área da saúde, por meio de transferência de conhecimento, no desenvolvimento de fármacos, novas terapias e vacinas.
Universidade, cidadania e democracia
As conferências do primeiro dia de recepção ficarão a cargo de dois docentes do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social (PPGCOM) e do Departamento de Comunicação Social da UFMG. A primeira atividade de segunda-feira, dia 20, será ministrada no turno matutino, às 9h, pelo professor Carlos Frederico de Brito d'Andrea. Mais tarde, às 19h, a conferência ficará a cargo de Geane Carvalho Alzamora. Ambas ocorrem no Auditório Nobre do Centro de Atividades Didáticas 1 (CAD 1), no campus Pampulha.
Os docentes participam do Programa de Formação Cidadã em Defesa da Democracia, lançado pela UFMG em setembro de 2022, em consonância com o Programa de Combate à Desinformação do Supremo Tribunal Federal (STF). Especialista nos processos de desplataformização – “a compreensão de como as diferentes plataformas digitais organizam, por exemplo, lógicas sociais, relações interpessoais e questões econômicas” –, Carlos d'Andrea pretende falar desses processos, expondo suas relações com a desinformação.
“Esse é um fenômeno bastante amplo, que permeia quase tudo atualmente e que, entre várias outras coisas, incide sobre essa dinâmica de desinformação onipresente nos dias atuais. A desinformação tem várias nuances, indo desde as coisas absolutamente inventadas e direcionadas com intencionalidade de criar mentiras, mas também há informações mais nuançadas, que carregam as ideias de imprecisão, de uma temporalidade que se perde na dinâmica das plataformas, ou seja, aquela famosa notícia velha circulando como se fosse atual, a ideia de criar um caos, de criar uma overdose informacional. É um fenômeno bastante complexo, que não tem uma solução simples”, afirma.
D’Andrea destaca que boa parte dos alunos ingressantes é bastante jovem e chega à universidade com muitas expectativas e sonhos, mas também com receios. “ Por isso, minha fala será uma tentativa de dialogar com eles e dizer: olha, vocês estão entrando agora num ciclo de vida dos mais instigantes, dos mais interessantes, que traz compromissos éticos e políticos e que exige uma renovação de olhares. Partindo disso, vamos conversar um pouco sobre esse lugar da universidade neste mundo de excesso de informações, de descredibilização de instituições e de formas de conhecimento como a ciência, percebida de uma maneira mais ampla e plural, que não se limita às ideias de progresso e desenvolvimento. É preciso pensar em outras concepções, como as que abarcam a ideia da cidadania, da universidade e da democracia”, finaliza.
A professora Geane Alzamora, que ministra a conferência noturna, também acredita que “é preciso que os estudantes que ingressam agora na Universidade compreendam, logo de início, que a democracia é um valor inegociável na sociedade contemporânea e, de modo geral, em todas as áreas, mais especificamente dentro da universidade”. A docente afirma que a democracia se fundamenta em aspectos fundamentais, como a pluralidade de vozes e a alternância de poder. “Essas questões demandam que a gente obedeça a um estatuto institucional no qual a perspectiva da confiança institucional é fundamental. Nesse sentido, se não há uma confiança institucional, toda dimensão de cidadania cai por terra”, diz.
Desinformação como desafio
Para Geane Alzamora, a desinformação na contemporaneidade é um desafio na luta pela defesa da democracia e da cidadania, uma vez que afeta diretamente a confiabilidade das instituições. “Esse é um problema de grande envergadura, que precisa ser tratado de forma coletiva, nas mais diversas áreas do conhecimento, numa perspectiva trans e interdisciplinar. A desinformação não pode hoje ser vista como uma exceção do processo de informação, ela não se identifica somente com a dimensão da aberração, que seria a mentira. Alguns autores têm defendido uma perspectiva, à qual eu me alinho, de que vivemos hoje a sociedade da desinformação”, alerta.
Segundo a professora, a ausência de mediações clássicas, aprofundada na contemporaneidade, e até mesmo a desconfiança em relação às instituições que faziam essas mediações – entre as quais, imprensa, universidade, poderes democraticamente instituídos, como Executivo, Legislativo e Judiciário – tem contribuído para acentuar o problema. “Quando a gente perde essas referências, a sociedade passa a ser regida por uma forma de interação que se estabelece prioritariamente nas conexões digitais, especialmente as estabelecidas pelas mídias sociais. E esses ambientes não são tratados como os ambientes midiáticos tradicionais da comunicação, ou seja, não há uma regulamentação, não há concessão de um canal, eles são tratados como negócios. São empresas de tecnologia que, com a mudança do dono, por exemplo, alteram toda a lógica de mediação naquela esfera”, alerta.
Geane Alzamora vai tratar ainda da dificuldade de as pessoas consultarem e checarem o excesso de informações recebidas. “A maior parte das pessoas no Brasil não tem acesso a um banco de dados para fazer um procedimento mais básico de enfrentamento da desinformação, que é pesquisar o que recebe em plataformas como o Google. Elas não têm acesso ao Google, mas têm um plano ilimitado de acesso, por exemplo, ao WhatsApp, que a coloca cada vez mais refém do tipo de informação que circula por ali. Entender esse cenário é muito relevante para as mais diversas áreas do conhecimento. É importante que a Universidade invista, cada vez mais, em formas de letramento midiático, para que todos nós, docentes e discentes, possamos ser multiplicadores desse conhecimento”, defende.
Passeios e rodas de conversa
De terça, dia 21, a sexta-feira, dia 24, a programação da recepção segue com uma série de passeios e rodas de conversa sobre temas variados, realizadas na Tenda Viver UFMG, instalada na Praça de Serviços do campus Pampulha. Entre os passeios, estão programadas visitas à Estação Ecológica, ao Museu de Ciências Morfológicas e ao Jardim Mandala, localizado na Faculdade de Educação (FaE).
Os temas das conversas são Políticas das juventudes em Belo Horizonte, O ingresso no ensino superior: lidando com o desconhecido, Autoras negras: do epistemicídio à insurgência, Vivências e políticas de permanência e assistência, Entrei e vou permanecer: desafios e celebrações de ser mulher negra em uma universidade pública. Também está programada uma oficina de produção de poesia livre com inspiração na escritora Conceição Evaristo. Detalhes das atividades, que seguem até 30 de março, podem ser consultados no site Viver UFMG.
(Com informações de Hugo Rafael)