UFMG vai debater saúde de mulheres negras, indígenas, trans e lésbicas
Aborto, maternidade e hormonização de mulheres trans são alguns dos temas; inscrições terminam no próximo sábado, 11 de novembro
Estudantes de graduação e pós-graduação dos cursos de Farmácia e Biomedicina da UFMG promovem o 1º Fórum sobre saúde, gênero e empoderamento, que ocorrerá nos dias 18 e 25 de novembro, no auditório da Faculdade de Farmácia da UFMG, campus Pampulha. As inscrições, no valor de R$ 12, devem ser realizadas por meio do site do evento, até 11 de novembro. Estudantes assistidos pela Fump não pagam. Outras informações podem ser obtidas pelo e-mail forumsge@gmail.com ou pela fanpage do evento no Facebook.
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, 49% dos óbitos maternos foram de mulheres pardas. Ainda segundo pesquisas realizadas em 2012 e 2013, as mulheres têm apresentado taxas mais elevadas de hipertensão, diabetes e dislipidemia (colesterol anormalmente elevado ou gorduras no sangue). Esses e outros números revelam muito sobre a atenção que deve ser dada à saúde da mulher e inspiraram os alunos a organizarem o evento.
Serão discutidas questões de gênero, sexualidade e etnia no contexto da saúde, com o intuito de provocar reflexões que não se limitem às especificidades biológicas, levando em consideração as diferentes e complexas realidades sociais.
Nathália Pacífico de Carvalho, estudante do curso de Farmácia e uma das organizadoras do evento, conta que a ideia surgiu em rodas de conversas sobre feminismo: “Queremos tratar da saúde da mulher considerando recorte de gênero, abordando a saúde da população trans, por termos questões de saúde convergentes – como a maternidade e o aborto; recorte de etnia e raça – com a saúde da mulher negra e indígena, percebendo como o racismo e a discriminação afetam a saúde dessas mulheres e seu acolhimento e cuidado nos serviços de saúde; saúde de mulheres lésbicas e bissexuais e mulheres em situação de vulnerabilidade”, conta.
A programação do dia 18 terá mesas sobre Saúde e etnia, Aborto e maternidade – nossos corpos em disputa e Cuidado às mulheres em situação de vulnerabilidade. No dia 25, os temas serão O que é pensar um modelo de cuidado transespecífico?, A hormonização e a construção dos corpos trans: a percepção de saúde e o papel do profissional e Saúde integral das mulheres lésbicas e bissexuais.
Algumas das debatedoras são Larissa Amorim Borges, subsecretária estadual de Políticas para Mulheres e integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Avelin Buniacá Kambiwá, professora, socióloga e militante indígena, Duda Salaberth, mulher trans e presidente da Ong Transvest, e Carmelita Aparecida dos Santos, rainha conga e voluntária no atendimento em saúde.
Ainda de acordo com Nathália Carvalho, é importante considerar que o processo “saúde-doença” não é influenciado, exclusivamente, pelos fatores biológicos. “Determinantes sociais como a pobreza provocam doenças infecciosas relacionadas a hábitos de higiene e saneamento básico. É preciso pensar também no acesso aos serviços de saúde ou tratamentos. Então, é fundamental falar sobre o SUS.”
Nathália menciona outros fatores que prejudicam a saúde da mulher, como a falta de preparo para lidar com questões relacionadas à vida sexual das mulheres lésbicas: “A questão da saúde da população trans é ainda mais crítica. Essas pessoas, muitas vezes, não conseguem nem chegar aos serviços de saúde, que costumam se recusar, por exemplo, a tratá-las pelos nomes sociais.”
Em outubro deste ano, a TV UFMG produziu um vídeo sobre a saúde da população trans. Relembre:
Acolhimento
Outra proposta do evento é levar estudantes e profissionais das áreas de Farmácia e Biomedicina a construir estratégias para o acolhimento e atendimento de mulheres em situação de vulnerabilidade, lésbicas e bissexuais, negras e indígenas, trans e travestis em suas especificidades, em busca de um cuidado em saúde mais inclusivo: “São poucas as disciplinas que oferecem uma visão um pouco além da técnica, e normalmente elas são optativas”, afirma Nathália.