UFMG vai discutir frentes de atuação em Brumadinho
Estratégia será definida em reunião nesta segunda-feira com integrantes do Programa Participa
Pesquisadores vinculados ao Programa Participa UFMG Mariana-Rio Doce reúnem-se nesta segunda-feira, dia 28 de janeiro, para discutir frentes de intervenção de curto, médio e longo prazos na comunidade de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, atingida nesta sexta-feira pelo rompimento da barragem do Feijão, da Vale. O encontro será realizado na Sala de Sessões da Reitoria, no campus Pampulha, a partir das 14h.
“Vamos nos inspirar no Participa, por meio do qual conseguimos reunir estudos, atividades de intervenção, ações diretas com o Ministério Público e outros órgãos da justiça, com o poder público e até com as empresas. A ideia é reunir sugestões e desenhar uma proposta de atuação”, explica a pró-reitora de Extensão da UFMG, Claudia Mayorga.
O Programa Participa UFMG foi lançado em novembro de 2015, logo após o rompimento da barragem da Samarco, localizada em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana. Trata-se de uma iniciativa de engajamento em questões relativas ao pós-desastre que recebeu a adesão de 60 professores que atuam com ensino, pesquisa e extensão. Em três anos, foram desenvolvidas ações que vão da recomposição da mata ciliar até a preservação da memória afetiva dos moradores prejudicados pelo rompimento. Outra frente de trabalho é o Observatório Interinstitucional de Mariana-Rio Doce, resultado de parceria com as universidades federais de Ouro Preto (Ufop) e do Espírito Santo (Ufes).
Consternação
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida declarou que a UFMG está “consternada e sensibilizada com mais este desastre que poderia – e deveria – ter sido evitado” e anunciou que vai colocar os recursos técnicos e humanos da instituição à disposição da comunidade de Brumadinho e das autoridades. “Somos uma instituição pública dotada de sólida base científica e humanística e estamos empenhados em contribuir para o enfrentamento das trágicas consequências desse desastre”, destaca a reitora, para quem a “UFMG não poderia ficar alheia aos esforços que agora se impõem para minorar as dores e os impactos provocados por mais esta grave tragédia em Minas Gerais”.
Em uma avaliação preliminar, a professora Claudia Mayorga acredita que a tragédia de Brumadinho terá impacto humano e social superior à de Mariana e do Rio Doce, considerada o maior desastre ambiental na área de barragens em escala mundial. “O número de vítimas deverá ser maior [58 mortos, segundo balanço oficial atualizado na manhã desta segunda-feira, 28. Em Mariana, foram registradas 19 mortes]. Já temos, inclusive, notícias de comunidades indígenas atingidas”, afirma a pró-reitora.
Ela classificou de “tragédia anunciada” o rompimento da barragem de Feijão. “Essa questão foi exaustivamente discutida, estudada e difundida. A situação das barragens já era preocupante e ficou alarmante com a aprovação em Minas do projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental”, disse Cláudia Mayorga.
Mobilização
Vários setores da UFMG já estão se mobilizando para colaborar com o socorro às vítimas de Brumadinho. Na Escola de Veterinária, um grupo de professores, alunos e residentes está de prontidão para se deslocar ao local do desastre assim que for solicitado. A equipe acumulou vasta experiência de atuação voluntária no cuidado como os animais afetados pelo rompimento da barragem em Bento Rodrigues.
“Temos profissionais e medicamentos preparados, além de especialistas em clínica e cirurgia. Estamos em contato com a brigada de campo do Conselho Regional de Medicina Veterinária, que está lá desde sexta-feira. Ela nos orientou, no sábado, que não fôssemos agora, pois as frentes de trabalho ainda não estavam montadas”, informou a diretora da Escola, professora Zélia Lobato.
Em nota publicada no sábado, dia 26, a Faculdade de Medicina lamentou as “mortes provocadas por mais um mar de lama” e anunciou que montará, a partir desta segunda-feira, dia 28, um ponto de coleta de donativos no saguão da Unidade, no campus Saúde, para recolher alimentos não perecíveis, água mineral e objetos de higiene pessoal e encaminhá-las às vítimas.
Já o Hospital Risoleta Tolentino Neves (HRTN), que é administrado pela UFMG, acionou, na sexta-feira, o seu protocolo de catástrofes para atender vítimas do rompimento da barragem. Entre outras medidas, o protocolo prevê a reavaliação de todos os pacientes da unidade com possibilidade de alta hospitalar para os casos de menor gravidade.
O programa Polos, da Faculdade de Direito, montou um plantão sociojurídico e psicológico para acolher as vítimas. "É um grupo que tem experiência em Mariana e em Conceição do Mato Dentro [onde atua a mineradora Anglo American]", afirma a pró-reitora Claudia Mayorga.