No Brasil, 40% das pessoas deprimidas não respondem à medicação
Estudo da Medicina indica que incidência da versão resistente da doença é maior no país do que em seus vizinhos latino-americanos
Estudo observacional multicêntrico realizado na América Latina demonstra que cerca de 30% dos pacientes com depressão têm o tipo resistente, ou seja, não respondem à medicação convencional usada para o tratamento da doença. A análise foi feita com 1.475 participantes distribuídos em 33 serviços de atendimento clínico da Argentina, do Brasil, da Colômbia e do México. Um desses locais de atendimento foi o Ambulatório de Psiquiatra do Hospital das Clínicas da UFMG, onde atua o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina Humberto Correa, um dos autores da pesquisa.
O índice está de acordo com o que a literatura preconiza como média global. Para Humberto Correa, também presidente da Associação Latinoamericana de Suicidologia e da Associação Brasileira para o Estudo e a Prevenção do Suicídio, o resultado, apesar de variar de um lugar para outro, já era esperado. Por isso, ele destaca como ponto mais importante do estudo a possibilidade de agora se ter acesso aos dados referentes aos países sul-americanos, principalmente aos do Brasil, que apresenta a maior taxa – 40,4% dos pacientes com depressão são resistentes ao tratamento.
“Era preciso ter certeza de que aqui também havia a compatibilidade desses dados. O segundo ponto importante é que esses pacientes com depressão resistente tendem a onerar muito o sistema de saúde, por serem mais difíceis de tratar e apresentar sintomas mais duradouros”, pondera o professor. “Esses casos estão associados a mais comorbidades clínicas, ou seja, as pessoas vão adoecer com outros problemas, como diabetes e hipertensão. Além disso, o prognóstico dessas outras doenças vai piorar e aumentar o risco de suicídio”, continua.
O estudo é tema de reportagem publicada na edição 2.073 do Boletim UFMG, que circula nesta semana.