Pesquisa valoriza dimensão subjetiva do jovem envolvido com o crime
Estudo ‘Adolescências e leis’, desenvolvido por grupo da Psicologia, terá seus resultados apresentados em colóquio internacional
A UFMG recebe, nesta semana (30 e 31 de agosto), o 2º Colóquio Internacional Adolescências e Leis e o 10º Seminário Clínico Adolescências em Tempos de Guerra, eventos em que serão apresentados resultados da pesquisa Adolescências e leis: um estudo psicanalítico sobre a desistência do crime na adolescência, desenvolvida pelo Núcleo de Psicanálise e Laço Social no Contemporâneo (Psilacs), do Departamento de Psicologia da Fafich.
A pesquisa tem como ponto de partida estudo realizado nos Estados Unidos pelos pesquisadores de Harvard Sheldon Glueck e Eleanor Touroff Glueck, que constatou que a idade padrão para um sujeito se desligar do crime é 32 anos. “Achamos curioso como essa teoria se torna universal e queríamos entender também o que favorecia o desligamento do crime na adolescência”, explica a professora Andréa Máris Guerra, coordenadora do Psilacs e da pesquisa Adolescências e leis, junto com a professora Jacqueline Moreira, da PUC Minas.
Segundo Andréa, a contribuição da investigação desenvolvida pelo Psilacs para os estudos já realizados sobre criminalidade na adolescência baseia-se no emprego da dimensão subjetiva do jovem. “A psicanálise colabora e suplementa as teorias já consolidadas sobre o crime, complementando a construção de um quadro multifatorial de determinação da criminalidade”, pontua. “Apesar de acreditarmos em uma teoria ecológica e multifatorial do crime, decidimos focar na dimensão subjetiva, com base no inconsciente que é trabalhado na psicanálise", justifica a professora da UFMG.
O embasamento teórico do trabalho busca em Jacques Lacan o processo de subjetivação e construção do nome próprio e as cinco dialéticas subjetivas: desmame, intrusão, édipo, puberdade e adolescência. Nesse processo, segundo Andréa Guerra, o "eu" adapta-se, em maior ou menor grau, à realidade social, condicionando seu percurso de vida a um sistema de identificações e satisfações, e pode privilegiar o objeto criminogênico em seu roteiro. “Nossa hipótese é que qualquer adolescente pode ter experiências no limite da lei, e elas tanto podem ser apenas experimentações passageiras quanto se fixar como modo privilegiado em relação ao mundo.”
Risco ou prevenção
O grupo de pesquisa conviveu com jovens de 17 a 29 anos, envolvidos ou não com o crime, visando à construção de um conjunto de percepções acerca de adolescência e criminalidade. “Fomos a campo, conversamos com 18 jovens adultos e pedimos a eles que nos contassem suas histórias de vida. Com base nessas narrativas memorialísticas, buscamos identificar os pontos de fixação em cada caso, como os jovens atuam e adotam condutas de risco ou de prevenção de risco”, detalha a professora. “Consideramos relevantes os condicionantes econômicos e políticos que produzem o genocídio da população jovem e negra e partimos dessa constatação para verificar como os jovens veem essa questão.”
As narrativas dos rapazes e moças que participaram da pesquisa ganharam expressões artísticas que serão apresentadas durante o congresso. “Nós precisávamos torná-los atores no processo da pesquisa. Por isso, entregamos suas narrativas para artistas, escritores e fotógrafos, que transformaram as vidas em obras. Esses jovens são nossos convidados de honra e terão espaço de fala durante o evento, e as obras estarão disponíveis para conhecimento público”, informa Andréa Máris Guerra.