Evento acadêmico

Quinta, às 17h: ecólogo do ICB aborda influência de ciclos de lagoas temporárias sobre aves migratórias

O professor José Eugênio Côrtes Figueira, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, fará nesta quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022, a partir das 17h, uma apresentação sobre a influência dos ciclos de secas e cheias sobre as aves aquáticas e seus movimentos migratórios. O evento, oitava edição de série de seminários promovidos pelo Núcleo de Apoio à Pós-graduação (NAPG) do ICB, será transmitido pelo YouTube.

Vinculado ao Departamento de Genética, Ecologia e Evolução, José Eugênio coordenou pesquisa sobre o fenômeno na Área de Proteção Ambiental Federal (APA) Carste Lagoa Santa, região metropolitana de Belo Horizonte. Carste é um tipo de relevo em que predominam rochas calcárias, com muitas cavernas, cânions e depressões que se alagam com as chuvas e atraem diversas espécies de aves, outros animais e plantas. O grupo de pesquisadores monitorou diferentes espécies de aves aquáticas, em 19 lagoas temporárias.

“As águas das chuvas infiltradas no solo alimentam o aquífero cárstico, importante reservatório de água subterrânea”, ensina José Eugênio. Na época úmida, as aves são atraídas pelo ecossistema que se forma nas lagoas. Quando a seca avança e as áreas alagadas diminuem, a vegetação campestre e os animais terrestres retornam, e as aves aquáticas migram para outras áreas úmidas.

Esse vai e vem ocorre há milhares de anos. “As espécies de aves que observamos nas lagoas são as mesmas registradas no século 19”, diz o professor. Desenhos rupestres encontrados na rocha calcária dos sítios arqueológicos da região retratam aves de períodos de cheia e de seca, sugerindo que os antigos habitantes também presenciaram o sistema. 

Riscos
Ele alerta que a interrupção dos ciclos de cheias e secas das lagoas temporárias impacta de forma significativa a biodiversidade, pondo espécies em risco de extinção local. “Em condições extremas, isso poderia levar ao quase desaparecimento das lagoas e, com elas, das aves aquáticas e outras formas de vida.” O professor do ICB acrescenta que também há riscos de alterações nos níveis dos lençóis freáticos, por causa de poços artesianos, desmatamento, mineração, assoreamento, uso desenfreado da água ou mudanças no regime de chuvas, por exemplo.

Com base nessa pesquisa e no extenso levantamento bibliográfico, desenvolvidos principalmente pela bióloga, então doutoranda, Paula Nóbrega, com colaboração da bióloga Janaína Aguiar, do Instituto Estadual de Florestas (IEF), é que o ecossistema estudado foi reconhecido pela Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional como sítio Ramsar Lund-Warming. Sítios Ramsar são ambientes alagáveis (wetlands) que existem em vários pontos do planeta e são extremamente importantes por sua biodiversidade e pelos inúmeros serviços ecossistêmicos que prestam. Atualmente, existem no Brasil 27 sítios Ramsar. O nome homenageia Peter Lund e Eugenius Warming, cientistas dinamarqueses do século 19 que revelaram ao mundo a riqueza ecológica da região. 

José Eugênio Figueira, Paula Nóbrega e outros pesquisadores assinam o capítulo As aves aquáticas e dinâmicas dos lagos temporários da Lagoa Santa Karst, no livro Lagoa Santa Karst: Região icônica do Karst no Brasil, editado por Augusto S. Auler e Paulo Pessoa e lançado em 2020. O capítulo ocupa as páginas 73 a 92.

(Com Assessoria de Comunicação do ICB)

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Lagoas temporárias atraem aves migratórias na região de Lagoa Santa José Eugênio Côrtes | UFMG