Acessibilidade desafia gestores de museus, diz especialista
Amanda Tojal, precursora do movimento de defesa da inclusão de pessoas com deficiência, falou sobre o tema no encerramento da 21ª Semana Nacional de Museus, no MHNJB
Alcançar a acessibilidade inclusiva depende, sobretudo, de empatia e de atitude por parte das pessoas e instituições. Esse movimento, que desde a década de 1980 defende a condição identitária da pessoa com deficiência como sujeito social, não tem data para terminar. A avaliação é da museóloga e educadora de museus Amanda Tojal, que veio a Belo Horizonte para participar do encerramento das atividades promovidas pelo Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, durante a 21ª Semana Nacional de Museus.
Segundo Amanda Tojal, uma das precursoras no movimento social de defesa da inclusão dos públicos com deficiências em museus e instituições culturais, muito se fala em acessibilidade, mas também são muitos os desafios para a implementação de políticas na área. Esse foi o tema da palestra que ela proferiu para uma plateia formada por servidores técnico-administrativos, professores e bolsistas da rede de museus da própria UFMG e para representantes de entidades públicas, privadas e simpatizantes da causa.
Com experiência de mais de três décadas no setor cultural, como no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), a educadora afirma, com convicção, que a legislação brasileira, em relação tanto aos direitos das pessoas com deficiência quanto aos editais específicos de incentivo à cultura, é muito boa. “Contudo, um dos grandes desafios é conscientizar os gestores institucionais e os próprios artistas e curadores sobre valores e atitudes que criem condições em prol dos direitos e da valorização da diversidade humana”, acrescentou.
Diferenças
E o princípio básico que torna isso possível é o da empatia (colocar-se no lugar do outro), segundo Amanda. “As diferenças favorecem e potencializam o nosso crescimento como seres humanos e ampliam nossa perspectiva para além dos modelos médico e de integração, que vigoraram até a década de 70 e tratavam a deficiência como um problema individual. A pessoa com deficiência não precisa de assistencialismo, mas de condições para ser um cidadão pleno”, enfatizou.
De acordo com a retrospectiva histórica apresentada pela palestrante, o modelo médico — que precisa ser respeitado por basear-se na ciência e no tratamento dos pacientes — e o modelo de integração priorizaram, até a década de 1970, a reabilitação da pessoa com deficiência, por meio da educação especial e tratamentos clínicos e cirúrgicos. “Eram medidas para tornar a pessoa com deficiência menos deficiente ou mais adaptada aos padrões de normalidade da sociedade. Isso as levava à dependência das áreas da saúde e da educação, numa perspectiva assistencialista", avaliou a educadora.
Mas o advento do modelo social, na década de 1980, consolidou a proposta de promover condições para que as pessoas com deficiência conquistassem cada vez mais autonomia. Assim, as políticas públicas e os projetos de acessibilidade inclusiva, especialmente de infraestrutura, seriam balizadas por três pilares: atitude, física e comunicacional.
Quanto à infraestrutura física, a legislação atual já determina as adequações dos espaços, que, aos poucos, vêm sendo incorporados aos projetos. Mas a atitude e a comunicação, de acordo com Amanda, precisam ser definidas como valores institucionais. "Para viabilizar um projeto com acessibilidade inclusiva, é necessário investimento na formação de equipes, em tecnologias assistivas e recursos sensoriais, além de ações educativas. E, sobretudo, é preciso ouvir as pessoas com deficiência, o que é fundamental para o sucesso do projeto, que deve alcançar o máximo de autonomia e protagonismo de um visitante a um espaço cultural.”
Para a professora Adriana Mortara Almeida, responsável pelo Setor Educativo do Museu de História Natural e Jardim Botânico, já é possível comemorar muitos avanços na área. Ela vê uma sociedade mais consciente, incluindo a própria comunidade de pessoas com deficiência, e pessoas e grupos trabalhando em redes de colaboração. “É um trabalho de formiguinhas, por isso são importantes eventos como esse, que promovem a troca de experiências e vivências que estão dando certo”, afirmou Adriana.