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Alunos da UFMG são premiados com reportagem sobre uso das redes sociais na pandemia

Em trabalho inscrito em concurso do Instituto Vladimir Herzog, Larissa Reis e Breno Benevides investigaram os impactos na autoimagem provocados pelo consumo excessivo de conteúdos dessas mídias

A reportagem Os impactos da pandemia da covid-19 no consumo de redes sociais digitais e os distúrbios de autoimagem em adolescentes e jovens, produzida pelos estudantes da UFMG Larissa Kaliane Reis Souza e Breno Jesley Lopes Benevides, foi uma das vencedoras do 13º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, organizado pelo Instituto Vladimir Herzog (IVH). Na produção, materializada nos moldes do recurso stories do Instagram (que veicula vídeos em formato retrato), a dupla intercala entrevistas com especialistas e com jovens afetados pelo uso excessivo das redes sociais.

Para o trabalho, os futuros jornalistas ouviram um psicólogo, uma nutricionista e uma influenciadora digital: “Em termos editoriais, um dos nossos objetivos foi ceder espaço a públicos diversos. Para que isso fosse possível, conversamos com meninas e meninos de diferentes classes sociais, o que revelou como esse problema é sentido, de forma particular, a depender do seu contexto social”, explicam os formandos. “Ao final, tentamos apresentar uma forma ‘saudável’ de usar a internet, por meio do relato de uma criadora de conteúdo que carrega essa preocupação em seu trabalho", acrescentam.

A dupla contou com o apoio da TV UFMG, que publicou a reportagem em seu canal no YouTube. Assista:

Larissa Reis e Breno Benevides contam que partiram de suas próprias experiências nas redes sociais durante o isolamento provocado pela covid-19, doença “que transformou bruscamente nossas rotinas e nos afastou daqueles que amamos”. A partir desse insight, os estudantes notaram que, para falar sobre o tema, seria imprescindível começar abordando os impactos negativos do aumento do uso das redes – seja na vida on-line, seja na vida “real” dos usuários. “Ancorados em conteúdos com os quais já tivemos contato na faculdade, decidimos trazer à tona os principais ‘contras’ do uso desenfreado de redes sociais durante a pandemia”, explicam.

A reportagem teve como mentor o jornalista Victor Ferreira, repórter da GloboNews, e como orientador o professor Juarez Guimarães Dias, do Departamento de Comunicação Social da Fafich. Segundo os premiados, essa orientação foi fundamental para o desenvolvimento do produto final. “Com a experiência e o apoio do jornalista Victor Ferreira e do professor Juarez, foi possível traçar o melhor caminho para amarrar todas as informações que tínhamos em mãos”, contam. “Foi com a ajuda deles que decidimos fazer a reportagem em formato de stories, para atingirmos o público desejado: jovens que consomem desenfreadamente as redes sociais.”

A busca por fontes
Para encontrar os especialistas que colaboraram com a reportagem, os estudantes fizeram contato com os canais institucionais da UFMG e procuraram trabalhos acadêmicos sobre o assunto. “Já os ‘personagens’, fundamentais para validar a necessidade do tema, foram localizados por meio de grupos de amigos e em comunidades nas redes sociais”, lembram. 

Larissa Reis e Breno Benevides estudam no último período do curso de jornalismo da UFMG e já estão no mercado. Breno trabalha em uma empresa do terceiro setor, e Larissa dá os primeiros passos de sua carreira como repórter no Portal BHAZ. Entre 2018 e 2019, os dois formandos em jornalismo atuaram como estagiários da Rádio UFMG Educativa, que atua não apenas como mídia, mas também como polo formador de talentos em comunicação social na Universidade.

Dez reportagens foram premiadas no 13º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão. Os demais trabalhos contemplados podem ser conhecidos aqui.

Larissa e Bruno:
Larissa Reis e Breno Benevides: preocupação em ouvir jovens de grupos diversos Arquivo pessoal

Em honra a Herzog

O Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão foi criado em 2009 junto com o Instituto Vladimir Herzog. Sua proposta é que todo o processo da produção da reportagem concorrente (pauta, apuração, reportagem, edição final) seja acompanhado por um jornalista mentor, designado pela organização do concurso, sob a orientação de um docente da instituição de ensino do estudante.

O prêmio homenageia Fernando Pacheco Jordão (1937-2017), diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), de quem era grande amigo. Jordão escreveu o livro Dossiê Herzog – prisão, tortura e morte no Brasil (Global Editora, 2005).

Herzog morreu em 25 de outubro de 1975, e o relatório da Comissão Nacional da Verdade, publicado em 2014, concluiu o seguinte: “Vladimir Herzog morreu em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar implantada no país a partir de abril de 1964, restando desconstruída a versão de suicídio divulgada à época dos fatos.”

O relatório recomendou “a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso para a identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.” Até hoje nenhum agente do Estado brasileiro foi responsabilizado pela morte de Vladimir Herzog nos porões da ditadura.

Ewerton Martins Ribeiro