Uma pandemia de 40 anos: Brasil é referência mundial no combate ao HIV
Pesquisadores da UFMG traçam uma linha do tempo e apontam avanços da ciência no combate ao vírus
Há 40 anos o mundo começou a enfrentar a pandemia provocada pelo vírus HIV, que teve seus primeiros casos notificados no Brasil em 1983. O governo brasileiro criou três polos de pesquisa em três capitais, entre as quais, Belo Horizonte. Dirceu Greco, médico infectologista e professor emérito da UFMG, foi um dos escolhidos para encabeçar a unidade em Minas Gerais. Embora já esteja aposentado, Greco continua acompanhando de perto alguns projetos desenvolvidos na Universidade e reforça a importância do investimento na ciência para o combate ao vírus. Segundo ele, em 1996, após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), foi sancionada no país uma lei que garantia medicação gratuita aos portadores. Hoje (1º de dezembro) é o Dia Mundial de Luta contra a Aids.
A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, causada pelo HIV) é uma doença que atinge milhares de pessoas, sem excluir raça, cor e gênero. Ela ganhou os holofotes quando famosos como Cazuza e Freddie Mercury contraíram o vírus e morreram por causa das complicações, mesmo tendo condições financeiras para o tratamento. Casos como esses assombravam os portadores do vírus HIV, que tinham receio de contar sobre ser soropositivo. Um deles é o aposentado Francisco Aleixo, que foi infectado em 1983, mas só contou para um familiar e começou a fazer o tratamento em 2000. Ele relata que chegou a comprar um jazigo porque acreditava que morreria logo. “A lápide acabou sendo usada por um parente que morreu de outra causa”, diz.
A professora da Faculdade de Farmácia da UFMG Maria das Graças Ceccato explica, em entrevista à TV UFMG, que em 2014 os profissionais de saúde passaram a ser instruídos, segundo uma lei, a notificar o Ministério da Saúde dos casos em que o paciente era portador de HIV. Ainda segundo a professora, as notificações são importantes porque ajudam em políticas públicas relacionadas a distribuição de medicamentos e atendimento adequado. Ela comenta que a primeira medicação surgiu em 1993, com a terapia dupla chamada Zidovudina (AZT). Durante alguns anos, esse foi o remédio utilizado no tratamento e, segundo o médico infectologista da UFMG Mateus Westin, um dos grandes avanços foi a simplificação do esquema antirretroviral – foram reduzidos a quantidade de pílulas tomadas a cada dia e os efeitos colaterais.
Francisco, que convive com o vírus há 39 anos, teve amigos que sofreram com esses efeitos colaterais e lembra que alguns perderam a visão. No entanto, a tecnologia para produção das medicações foi se aprimorando com o tempo, e a qualidade de vida dos pacientes melhorou. A cada três meses, Francisco busca suas pílulas no Centro de Distribuição de Medicamentos do SUS. Para ele, esse movimento simples já é um ato de coragem. “Antes, as pessoas tinham de se esconder para morrer. Hoje, têm de se expor para sobreviver.”
Leia sobre ação da Faculdade Medicina no dia de luta contra o HIV.
Equipe: Luiza Galvão e Vitória Fonseca (produção); Antonio Soares, Lucas Tunes e Ravik Gomes (imagens); Eduardo Crivellari e Bruno Yukio (videografismo); Marcelo Duarte (edição de imagens); Naiana Andrade e Renata Valentim (edição de conteúdo)