Contação de histórias no CP desperta interesse pela leitura e pela escrita
Ao entrar em contato com contos escritos por alunos da mesma faixa etária, turma do quinto ano foi convidada a se aventurar no universo da criação literária
Duas crianças tiveram que lidar com a misteriosa morte da avó após arriscarem a travessia de um caminho amaldiçoado. Intitulada O enigma da ponte, essa trama tem um final surpreendente e foi escrita por Tereza Cristina Rodrigues em 2010, quando era aluna do sexto ano do Centro Pedagógico (CP) da UFMG. O texto faz parte da coletânea Literatura na escola: contos de terror, escrita sob a orientação da professora Edna Maria Magalhães, organizadora do livro.
“Na época, para prender a atenção da turma, comecei a contar histórias no fim das aulas, sob a luz de uma lanterna, e as crianças ficavam livres para escutar da maneira que quisessem: deitadas ou sentadas. Naquele clima de mistério, começaram a despertar o interesse em escrever suas próprias histórias. Foi assim que surgiu o desafio de cada uma criar um conto de terror, posteriormente reunido no livro. Tivemos uma tarde de autógrafos. Cada aluno levou três exemplares para casa e doamos outros três para a biblioteca do CP”, recorda a professora.
Em clima do mês das bruxas, na última quarta-feira, 18 de outubro, O enigma da ponte foi o conto escolhido pela bibliotecária Flávia Filomena para o momento de contação de histórias com os alunos do quinto ano na biblioteca do Centro Pedagógico. Flávia revela que a paixão pelo universo literário começou ainda na infância e cresceu ao longo da trajetória profissional. “Sempre ouvi, atenta, as histórias contadas pelos meus pais, tios e avós. Me graduei em biblioteconomia e tive o privilégio de trabalhar, de 1991 a 2016, na biblioteca do Centro Pedagógico, onde há grande incentivo para formação de leitores”, relata.
Juliana Melo, professora de português do CP, explica que preparou os estudantes, em sala de aula, para o momento de contação de histórias na biblioteca. “Criamos a ‘Sociedade literária das poetisas e dos poetas sonhadores’. Como parte da missão dessa sociedade, nos últimos dois meses, toda a turma leu livros de terror e escreveu, em ‘diários de bordo’, relatos sobre as experiências de leitura. Além disso, cada estudante foi incentivado a dizer se recomendaria, ou não, a obra lida, e o motivo da decisão. Esses projetos feitos em parceria com a biblioteca são fundamentais para instigar as crianças a se aventurar no universo literário e a escrever seus próprios textos; incentivam não só a leitura, mas a autoria literária”.
Fatos reais, crônicas e cartas
“Todo mundo tem potencial para a escrita, mas é preciso despertá-lo”, afirma a professora Edna, ao enfatizar a importância das atividades lúdicas em sala de aula e nas bibliotecas para auxiliar nesse despertar. E o impacto positivo da atividade realizada na biblioteca do CP já é perceptível. Ao fim das atividades, o aluno Bernardo Moreira foi para sala de aula decidido: "Quero comprar um caderninho para escrever histórias sobre fatos reais.” Yasmim Pinheiro, por sua vez, revelou preferir a escrita de crônicas e cartas: “Gosto de colocar minhas ideias no papel.”
A leitura também está em dia na turma do quinto ano do Centro Pedagógico. Arthur Meira está lendo A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne. “Gosto de livros de aventura porque têm mistério, e a gente nunca sabe o que vai acontecer”, explica.
Diante dos depoimentos dos alunos do quinto ano, Juliana Rocha, coordenadora da biblioteca do CP, constata que o objetivo de aproximar as crianças não só dos livros, mas também das histórias e da própria biblioteca foi alcançado. "O resultado foi imediato: logo após a atividade de hoje, vários alunos quiseram fazer o empréstimo do livro de contos de terror e de outras obras com a mesma temática”, ela revelou.