Córdoba será palco de discussões sobre os rumos da educação superior
Cidade argentina sedia terceira edição de conferência regional, que começa nesta segunda
Nesta segunda-feira, 11, começa a terceira edição da Conferência Regional da Educação Superior (Cres 2018), em Córdoba, na Argentina, organizada pelo Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior da América Latina e o Caribe (Unesco-Iesalc), pela Universidade de Córdoba, pelo Conselho Interuniversitário Nacional (CIN) e pela Secretaria de Políticas Universitárias (SPU) do Ministério da Educação da Argentina.
O evento é uma das reuniões regionais preparatórias da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior, que ocorrerá em Paris, em 2019, e marca o centenário da Reforma Universitária de 1918, em defesa da autonomia e democratização da universidade pública. A conferência vai debater o atual cenário da educação superior na América Latina e Caribe e as estratégias para a próxima década com vistas aos objetivos do desenvolvimento sustentável e definições da agenda Educação 2030 da Unesco.
As discussões serão desenvolvidas em torno de sete eixos temáticos: O papel estratégico da educação superior no desenvolvimento sustentável da América Latina e do Caribe; A educação superior como parte do sistema educativo na América Latina e no Caribe; Educação superior, diversidade cultural e interculturalidade na América Latina e no Caribe; Educação superior, internacionalização e integração regional da América Latina e do Caribe; O papel da educação superior frente aos desafios sociais da América Latina e do Caribe; A pesquisa científica e tecnológica e a inovação como motor do desenvolvimento humano, social e econômico da América Latina e do Caribe; e 100 anos da Reforma Universitária de Córdoba.
O diretor do Unesco-Iesalc, Pedro Henriquéz Guajardo, aponta a necessidade de articulação entre as universidades para alcançar o desenvolvimento sustentável. “É preciso pensar junto. O que existe geralmente são convênios bilaterais, o que é preciso evitar. É necessário que as instituições busquem outros fatores para o reconhecimento, não basta o reconhecimento oficial que beneficia apenas um grupo. O processo de internacionalização passa por isso”, afirma.
A programação inclui atividades plenárias, simpósios, fóruns, mesas de trabalho e exposições acadêmicas. Os participantes também poderão aproveitar a programação cultural e celebrações. São esperadas cerca de três mil pessoas, entre reitores, acadêmicos, trabalhadores, estudantes, representantes de redes, de associações profissionais, de centros de pesquisa, de sindicatos e de organizações governamentais e não governamentais.
"A conferência é um evento de grande relevância, de muita importância na definição de parâmetros para orientar a elaboração de políticas públicas para a educação superior. Em Córdoba, minha expectativa é que consigamos, mais uma vez, elaborar um documento de caráter político e institucional que ratifique a necessidade da ampliação e manutenção de recursos para educação, ciência e tecnologia na América Latina e no Caribe", defende a reitora Sandra Goulart Almeida. Para ela, "educação precisa ser tratada como investimento, como política pública de Estado, capaz de criar condições para o desenvolvimento sustentável, para o fortalecimento da democracia e para a criação de sociedades justas e igualitárias.
Participação brasileira
Com base nas reflexões geradas no âmbito do Seminário Contribuição da Educação Superior Pública do Brasil para a Cres 2018, realizado em Brasília, em maio, representantes das instituições brasileiras elaboraram um documento com posicionamentos acerca dos eixos temáticos e sugestões para ações e estratégias. A iniciativa foi organizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino (Andifes), Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem) e Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (Conif) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A Carta de Brasília constitui posicionamento político dos representantes
brasileiros e inclui propostas para aprofundamento do compromisso do ensino
superior com a comunidade, regionalização da ciência e tecnologia, integração
da educação superior com a sociedade, internacionalização acadêmica regional e
reconhecimento e respeito às diferenças. Segundo reitor Rui Vicente
Oppermann, UFRGS, o crescimento das instituições de ensino privadas
voltadas para o lucro será um dos temas debatidos durante a Conferência. “Entendemos a educação como um direito e não como uma mercadoria. O papel das instituições privadas precisa ser debatido”.
Histórico
A primeira edição da conferência foi realizada em Havana, Cuba, em 1996. O principal resultado foi estabelecer e colocar em prática critérios de comparabilidade entre as várias agências que creditam a qualidade da Educação Superior na América Latina e Caribe. A segunda foi em Cartagena, Colômbia, em 2008, quando a concepção de ensino superior foi definida como bem público e instrumento estratégico para o desenvolvimento sustentável e integração regional.
Diretora do Unesco-Iesalc durante a Cresc 2008, a professora Ana Lúcia Gazzola, ex-reitora da UFMG, espera que, nesta edição, o movimento pela busca de uma articulação internacional a partir de perspectivas locais venha a ser implantado. “Esse já é um primeiro aspecto extremamente importante que reafirma um discurso político da América Latina e Caribe. A região, mais uma vez, recusa ocupar uma posição subalterna, colonizada, que muitas vezes é designada pelos países centrais aos países periféricos. Não somos periféricos. Vamos discutir essas questões e dar início ao processo", conclama.