Internacional

Em coleção da Editora UFMG, 130 pesquisadores discutem os desafios globais

Esforço materializa as conexões da Universidade com parceiros acadêmicos de todos os continentes

Coleção 'Desafios globais' reúne seis volumes
Coleção 'Desafios globais' tem seis volumes e participação de pesquisadores de 30 nacionalidadesReprodução | Editora UFMG

Antes mesmo da pandemia de covid-19 ter-se configurado como um dos desafios que afetam todas as nações do mundo, a UFMG já planejava valer-se de suas conexões internacionais com quase 500 instituições parceiras espalhadas por todas as regiões do globo – África, América do Norte, América Latina, Ásia-Pacífico, Europa e Índico – para dar materialidade a uma robusta reflexão sobre grandes temas globais.

O resultado, um conjunto de mais de duas mil páginas produzidas por 130 pesquisadores da própria Universidade e de 30 diferentes nacionalidades, é apresentado na coleção Desafios globais, que será lançada nesta quarta-feira, dia 10, às 10h, pela Editora UFMG. 

O evento terá a participação do professor Bob Reinalda, da Universidade Radboude em Nijmegen, Holanda, que fará a palestra Pandemias como desafios globais – gestão de crises internacionais em saúde? Com transmissão pelo canal da Diretoria de Relações Internacionais no YouTube, o lançamento terá tradução simultânea para o português. 

A Coleção Desafios globais está disponível para download gratuito, e a versão impressa será vendida a partir de maio, no site da Editora UFMG.

Aziz Tuffi Taliba e Dawisson Belém Lopes, organizadores da coletânea
Aziz Taliba e Dawisson Lopes, organizadores da coletânea Fotos: Foca Lisboa e Márcio Bonfim


Entrevista / Aziz Saliba e Dawisson Lopes

'Buscamos na fonte, a nossa tradição de pesquisa, o que temos de melhor'

Organizadores da coleção, os professores Aziz Tuffi Saliba, diretor de Relações Internacionais, e Dawisson Belém Lopes, diretor adjunto de Relações Internacionais, contam, nesta entrevista, como o projeto se desenvolveu, resultando, como definiu, no prefácio, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, “num farto banquete intelectual para acadêmicos e tomadores de decisão [...], com uma arguta e aprofundada abordagem, sob um viés comparado, em momento especialmente duro no cenário internacional”.

A cooperação acadêmica e científica foi destacada pela reitora Sandra Goulart Almeida “como a melhor fórmula para refletir sobre os desafios globais”. A cooperação internacional foi a motivação que originou a coletânea?
A coleção foi uma forma que encontramos para congregar debates dos professores vinculados aos centros de estudos regionais da Universidade, criados ao longo da última década, e de pesquisadores no Brasil e do exterior que dialogam conosco. Esses centros foram criados para estimular as discussões sobre suas respectivas áreas e fortalecer vínculos acadêmicos, numa época em que a universidade pública não passava por tantas atribulações financeiras como agora. Portanto, foi necessário repensarmos alternativas para o engajamento no debate acadêmico, também nesse contexto.   

A coleção reúne 130 autores, oriundos de 30 nações, de todos os continentes. Que critérios orientaram a escolha dos trabalhos?
A ideia original era reunir as produções dos centros de forma que pudéssemos pôr as colaborações e parceiros em diálogo. Fomos buscar na fonte, na tradição de pesquisas da Universidade, o que a gente tem de melhor em produção intelectual e acadêmica, conectada com nossos parceiros em quase 500 instituições.

Junto com a Editora UFMG, traçamos o projeto editorial, mapeamos os números de excelência, os temas sobre os quais a Universidade tem contribuições importantes. E uma das principais matrizes foi o PrInt (Programa de Internacionalização Institucional da Universidade), que concentra expertise acadêmica que contempla não somente todas as regiões do planeta, mas temáticas muito relevantes, como Sustentabilidade, Saúde e bem-estar, Direitos humanos, Novas tecnologias e fronteiras da ciência, Educação, cultura e arte e Instituições, governança e regulação.

Houve a adesão dos pesquisadores e estudantes, especialmente os engajados na internacionalização da Universidade, e fizemos convites aos parceiros internacionais, dos quais obtivemos resposta positiva expressiva. Eles representam 40% dos autores, o que evidencia o caráter global dessa publicação.

Como foi reunir todos esses artigos, de diferentes idiomas, num compilado de mais de 2 mil páginas, organizadas em 80 capítulos, distribuídos em seis volumes?
Desde a aprovação da ideia pela Reitoria e as primeiras reuniões com os diretores da Editora UFMG, professores Flávio de Lemos Carsalade e Camila Figueiredo, até a abertura de chamadas para artigos e as múltiplas revisões, foram cerca de dois anos. Podemos afirmar que foi um processo célere, pois recebemos contribuições com formatações e idiomas diferentes. A operação exigiu muito esforço e cooperação da equipe para criação desse espaço de reflexão sobre os desafios globais, em língua portuguesa, que desse acesso a um público mais amplo possível.

O resultado foram seis volumes muito simétricos, com 12 a 14 capítulos cada, distribuídos nas grandes áreas temáticas, que podem ser lidos aleatoriamente, na sequência ou individualmente, sem perda de qualidade da experiência e aproveitamento dos conteúdos. Mas vale destacar uma dica importante: sempre leia a introdução do volume, que representa um esforço para colocar os capítulos do tomo em contato entre si e introduzir os desafios abordados.

Quais são os desafios globais mais recorrentes postos para reflexão na coleção?
O grande desafio do momento é, sem dúvida, a pandemia, que aparece como tema central ou de fundo em vários textos. Mas também destacamos as questões de sustentabilidade, cruciais em várias faces, relacionadas aos resíduos sólidos, ao lixo, ao desmatamento, à poluição ambiental e às propostas de uma ecocivilização. Tudo isso está presente nos seis livros, com forte chamada para a reflexão sobre a sustentabilidade econômica e a preservação do planeta.

Destacamos ainda as questões relativas às instituições de governança global, estruturas indispensáveis para os povos, mas que estão ameaçadas, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). Quando o mundo mais precisava de uma instituição que coordenasse ações globalmente, para lidar com um problema que afeta a todos, a OMS passou a ser atacada diariamente pelos seus detratores. É fundamental mantermos esse tipo de aparato funcionando, não somente a OMS, como também as estruturas de governança relativas à economia internacional, à educação e à cultura. Esse também é um desafio global, que está diante de todos.

Teresa Sanches