Estudantes do ensino básico e da graduação apresentam trabalhos de iniciação científica
Foram 1.938 inscrições neste ano, 35% a mais em relação a 2021; jovens pesquisadores mostraram entusiasmo na primeira edição do evento desde o início da pandemia
Durante a manhã e a tarde desta quarta-feira, 19, o Centro de Atividades Didáticas 3 (CAD3), no campus Pampulha, recebeu alunos do ensino básico e da graduação para apresentação de trabalhos da 31ª Semana de Iniciação Científica (SIC), com subdivisão para Projetos Tecnológicos, e da 12ª Semana de Iniciação Científica Júnior (SIC Jr.). Foram expostos 123 pôsteres, no total.
Os eventos compuseram a Semana do Conhecimento UFMG 2022, que, neste ano, tem como tema UFMG, 95; Brasil, 200: interseções, em virtude da comemoração dos 95 anos da Universidade e do bicentenário da Independência do Brasil.
A Pró-reitoria de Pesquisa (PrPq), que promove os eventos anualmente, informa que, em 2022, houve 1.938 inscrições, o que representa aumento de 35% em relação ao ano passado. Os trabalhos passaram por uma seleção que teve início na primeira semana de outubro, com a avaliação por unidades. De 6 a 13 deste mês, o Comitê Externo do CNPq fez a seleção final. Os trabalhos da SIC foram agrupados nas categorias Saúde; Biológicas e Agrárias; Engenharias; Exatas e da Terra; Humanas; Linguísticas e Artes; Sociais Aplicadas.
A premiação ocorrerá na cerimônia de encerramento da Semana do Conhecimento, dia 21, a partir das 14h, no auditório da Reitoria. Serão premiados projetos da área de tecnologia e inovação, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic/Probic), de iniciação científica voluntária e, por fim, trabalhos dos alunos de ensino médio.
Pilar da universidade
Essa é a primeira edição presencial após a pandemia. "Os alunos têm vindo mais ávidos para a apresentação. Eles estavam precisando desse contato. Sinto que os ânimos estão diferentes nesse retorno ao presencial", relatou a diretora de Fomento à Pesquisa da PrPq, Karina Braga Gomes Borges. "Mesmo depois de um grande desafio, que foi a pandemia, conseguimos manter trabalhos de alto nível acadêmico. Acho que nossa Universidade mostra, cada vez mais, sua competência."
Para Karina, juntar os alunos de ensino médio aos da graduação é excelente. "Muitas vezes, é nesse contato que os estudantes escolhem a área na qual vão ingressar quando chegarem à universidade", explicou. Ela também fala sobre os cortes na educação, uma preocupação mencionada pela maioria dos estudantes entrevistados na feira: "O desafio é frequente. A pesquisa, por ser um dos pilares da universidade, acaba sendo realmente afetada. Esperamos que seja mais fácil nos próximos anos", disse.
TikTok, Pancs e reabilitação infantil
Essa não foi a primeira participação de Alice Brandão Azevedo Alves, 21, na iniciação científica. A graduanda em Letras já participou como voluntária de outras atividades e vê a experiência como uma grande oportunidade para o aprimoramento acadêmico. "Já terminei essa iniciação científica e pretendo não parar por aqui. É uma motivação a mais no curso", relatou a estudante, que analisou pontos negativos e positivos da veiculação de vídeos educacionais na plataforma digital TikTok. "Hoje, o TikTok está muito presente no cotidiano das pessoas, principalmente crianças que estão iniciando o ensino fundamental, um público fácil de ser influenciado. E, quando você olha para os vídeos educacionais acionando conceitos teóricos, você percebe que há muito de positivo e muita coisa problemática também", pontuou Alice, que cursa o oitavo período.
Sua principal preocupação está relacionada à qualidade do conteúdo disseminado no ambiente virtual: "Os tiktokers precisam prender a atenção do público em poucos segundos. Quando o assunto é algo que vemos em sala de aula, a criatividade não pode faltar", explicou. Alice percebeu que esse modelo de aprendizagem, que busca mais proximidade com o espectador, ao mesmo tempo que parece interessante e inclusivo, representa uma ameaça ao método de ensino tradicional. "Na maioria dos vídeos a gente vê comentários do tipo 'ah, eu aprendi em 30 segundos o que nunca aprendi em três anos'. Isso meio que desmerece a licenciatura."
Diferentemente de Alice Alves, Rafael Rodrigues Lopes, 18, aluno do terceiro ano do Colégio Técnico da UFMG (Coltec), teve seu primeiro contato com a pesquisa científica. Seu tema, o consumo de plantas alimentícias não convencionais (Panc), ainda não é reconhecido como Rafael gostaria. "As Panc têm teores de nutrientes muito mais altos do que alface, rúcula e almeirão, por exemplo, que sempre estão no nosso prato", informou o estudante. Ele mencionou a araruta, planta que produz um amido livre de glúten: "É uma opção para pessoas celíacas [intolerantes ao glúten]."
Em uma cartilha e um podcast, o estudante revela onde encontrar essas plantas em Minas Gerais e indica algumas receitas. "Muita gente não sabe, mas a flor do dente-de-leão é comestível, e a ora-pro-nóbis rende uma farinha bem mais saudável que a de trigo. A gente pode fazer pães, bolos e tortas com derivados dessas plantas", informou Rafael. O objetivo do estudante, que pretende cursar medicina na graduação, é contribuir para popularizar o consumo dessas plantas. "Quero que mais pessoas incorporem seu consumo à alimentação habitual, e, para isso, é preciso tornar mais fácil sua aquisição em mercados tradicionais", afirmou.
Impacto na vida das pessoas
Sara da Costa Lima, 21, ainda não tinha apresentado seu trabalho aos avaliadores. "Estou um pouco nervosa, mas está sendo uma experiência muito bacana", revelou a aluna do sexto período do curso de Terapia Ocupacional. "Na primeira fase, achei que iria muito mal, mas fui dando uma acalmada e apresentei com tranquilidade. Minha orientadora está bastante orgulhosa de eu estar aqui, hoje", contou. Sobre a oportunidade de pesquisar, ela ressaltou: "É muito bom. Nós, numa universidade federal, podemos ser relevantes e impactar a vida de muitas pessoas com nossas pesquisas e trabalhos".
O trabalho que a estudante desenvolveu aborda o atendimento domiciliar remoto a crianças e adolescentes com deficiência durante a pandemia da covid-19. "Nós não podíamos parar. A reabilitação infantil precisa de continuidade, senão a criança pode perder consideravelmente suas funções", explicou. De acordo com Sara, os resultados do programa foram altamente positivos. "Tivemos uma melhora de 82% no desempenho de atividades básicas pelos pacientes. Essa melhora se tornou estável, revelando que os pais ou responsáveis, já treinados pela nossa equipe, conseguiram manter a intervenção, em casa mesmo."
Sara Lima destaca que foi gratificante ver as crianças ganhando autonomia no decorrer da reabilitação. "Um menino com paralisia cerebral, que a gente acompanhou, sonhava em conseguir se alimentar sozinho. Com a nossa intervenção, hoje ele consegue exercer atividades básicas com independência e autonomia. Isso é muito bom. Para nós e para ele", relatou a estudante.
'A educação é nossa'
"Eu estava dando uma olhada por aí e achei as pesquisas totalmente diferentes umas das outras", avaliou Victória Vieira Alves, 16, estudante do segundo ano em Automação Industrial no Coltec. "Por exemplo, ali tem um projeto sobre números inteiros ao lado de outro sobre o pigmento azul da Prússia", apontou, animada por estar aprendendo um pouco de cada assunto.
Seu trabalho também divergia bastante dos outros. Ela optou por pesquisar algo mais político, como a ocupação de 50 dias no Coltec em 2016. "Quis entender, principalmente, o papel exercido pelas mulheres durante esse período", afirmou, depois de citar a forte presença feminina no grêmio estudantil de seu colégio. "Antes de 2016, o grêmio era mais voltado para festas e eventos. Depois da ocupação, muita gente quis se iniciar na vida política. Eu consigo ver claramente esse impacto", contou Victória.
"Na ocupação, os estudantes tiveram que aprender a se organizar. Criaram patrulhas e comissões para limpeza, comida, vigilância. Ficaram a noite revezando para vigiar a escola. Então, esse momento de união deixou uma marca não só no colégio, mas na vida pessoal de cada um também", relatou a estudante, com base no que seus entrevistados lhe disseram.
"Eles quiseram mostrar que 'a gente está presente, a gente tem voz'. E o movimento estudantil é quer isso mesmo, mostrar a voz para o mundo", ressaltou. Quando comparou os ânimos daquela época e os de agora, Victória resumiu a diferença em apenas uma palavra: medo. "Antes, a gente tinha medo, foi o que muitos disseram. Hoje, não é bem assim. Hoje, a gente quer participar da política e lutar por nossos interesses, por nossa educação", enfatizou.
Ela falou também da crescente parceria entre secundaristas e a comunidade acadêmica: "Precisamos nos unir. Temos que manter a memória do movimento estudantil viva, nutrir uma aliança mais sólida". Ela ressaltou, ainda, que o ato nacional do último dia 18 foi "a prova concreta de que os estudantes estão prontos para a luta".
"A escola é nossa. A universidade é nossa. A educação é nossa. A política não se faz individualmente, se faz no coletivo", defendeu a estudante. Com um ar sonhador, a jovem, que pretende fazer um curso na área de exatas, na faculdade, revelou seus planos no grêmio para 2023, seu último ano: "Vou tentar me candidatar à presidência. Sei lá, mas vai que, né?"
A 31ª edição da Semana do Conhecimento da UFMG segue até esta sexta, com programação diversa, publicada no site do evento.