Abandonar a dependência química da nicotina é tão difícil para os fumantes de cigarro quanto para os usuários de drogas consideradas “pesadas”, como o crack ou a cocaína, compara a pneumologista pediátrica do Hospital das Clínicas Maria das Graças Rodrigues de Oliveira. Diante dessa constatação, o Hospital das Clínicas da UFMG lança, nesta semana, o Programa de abordagem aos fumantes internados do HC, como parte da programação do Dia Mundial sem Tabaco, celebrado em 31 de maio.

O objetivo do programa é capacitar o maior número possível de profissionais de saúde de nível superior do hospital (enfermeiros, farmacêuticos, cardiologistas, psicólogos e pneumologistas) para que possam abordar pacientes tabagistas internados, além daqueles atendidos em ambulatórios. “É uma ação inédita no atendimento a pacientes internados, que muitas vezes estão ali tratando uma bronquite, por exemplo, causada pelo uso do tabaco”, explica  Maria das Graças de Oliveira.  

Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, o Hospital elaborou a cartilha para abordagem de fumantes intitulada Você não tem culpa de ser fumante mas pode mudar esta situação. Com ilustrações e linguagem simples, a cartilha conta a história de uma família com pai e filho tabagistas que lutam para vencer a dependência da nicotina, com o apoio da filha caçula e de profissionais de saúde. Traz, ainda, informações sobre as principais doenças provocadas pelo fumo ativo e passivo, a relação entre jovens e o tabagismo e os benefícios de abandonar a nicotina.

A cartilha tem roteiro da médica Maria das Graças Ribeiro de Oliveira, do cardiologista, professor aposentado da UFMG e cartunista Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, o LOR, e ilustrações do cartunista, quadrinista e artista gráfico Rafael Souza Sete.

Apoio psicológico
Além da abordagem, o HC vai apoiar os pacientes tabagistas internados com  medicamentos e suporte psicológico. “Em sua maioria, os tabagistas se sentem culpados por não conseguirem parar de fumar. Eles geralmente estabelecem condicionantes ao ato de fumar, como tomar um cafezinho ou comer um doce. Mas sem apoio medicamentoso, e especialmente psicológico, é muito difícil ficar livre de uma droga tão pesada”, afirma a pneumologista.

O tabagismo mata mais de sete milhões de pessoas por ano ano redor do mundo, sendo cerca de 900 mil não fumantes expostas à fumaça ambiental (tabagismo passivo), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As doenças cardiovasculares, segunda causa de mortes no mundo (17,7 milhões de pessoas por ano), sofrem o impacto do tabagismo ativo e passivo em aproximadamente 12% dos casos.

Por isso, neste ano, o tema do Dia Mundial sem Tabaco, instituído pela OMS, é Com o coração não se brinca. Faça a melhor escolha para a sua vida: não fume. Maria das Graças de Oliveira reforça a importância do abandono do fumo, uma vez que o coração e o pulmão são os primeiros órgãos a sofrerem lesões por causa das toxinas contidas no cigarro. Ela chama atenção para os benefícios alcançados por quem deixa o tabaco. “Após um ano sem fumar, o risco de infarto cai pela metade. Entre cinco e dez anos depois, o coração de um ex-fumante já se iguala ao de quem nunca fumou", analisa.

Ações educativas
Para motivar e convencer os fumantes desses benefícios, profissionais de diversos setores do Hospital das Clínicas realizarão nesta quarta-feira, dia 30, ações educativas sobre as consequências do uso do cigarro no hall de entrada do prédio principal, no campus Saúde. Das 9h às 14h, um túnel lúdico, com cartazes e fotos, vai exibir informações sobre como o organismo reage após o abandono do cigarro. Também serão distribuídos folhetos e exibidos curtas-metragens sobre o tabagismo.