O que nós temos feito com as humanidades? A partir dessa pergunta, o líder de equipe da Unesco para a temática “mudança ambiental global”, John Crowley, proferiu, na tarde de hoje, 7, a palestra de encerramento da Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades, realizada nesta semana na UFMG.

Para Crowley, a transdisciplinaridade deve ser um caminho perseguido pelas humanidades na perspectiva discutida durante todo o evento, sem, no entanto, perder de vista a relevância das disciplinas. “Disciplinas são ambientes estruturados de aprendizado: são formas de entrar no campo do conhecimento, de acessá-lo pela primeira vez. Nesse sentido, talvez sejam mesmo a melhor forma; elas são o caminho que possibilita ao indivíduo se tornar um cientista”, disse. Contudo, prosseguiu, "uma vez que esse indivíduo já se tornou um cientista, que ele já começou a fazer ciência, aí as disciplinas deixam de ter tanta importância. Desse momento em diante, os procedimentos [mudam], os métodos passam a poder ser compartilhados e não precisam ser mais disciplinares”, afirmou.

O líder da Unesco elogiou, ainda, a organização do evento em grupos temáticos, em vez de disciplinares, o que, em sua visão, propiciou uma discussão mais holística de vários desafios postos no século 21. Ele também debateu o estabelecimento de “novas sinergias entre as humanidades e as outras áreas de conhecimento”, destacou que “a questão crucial em jogo atualmente é o significado de ‘ser humano’” e demarcou: “A dimensão subjetiva não pode ser considerada um‘acréscimo’ às reflexões objetivas: a duas dimensões precisam ser consideradas conjuntamente”.

Crowley encerrou sua conferência conclamando a comunidade científica a se engajar na proposta de buscar novo protagonismo para as humanidades na cena acadêmica mundial, independentemente da eventual participação na Conferência Mundial das Humanidades, que será realizada no ano que vem na Bélgica, evento do qual a conferência sul-americana foi preparatória.

Mensagens para a Bélgica

Na sessão de encerramento, realizada após a palestra, a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, presidente do conselho científico do evento, informou que o site da conferência realizada na UFMG permanecerá no ar até o evento do próximo ano, na Bélgica, de forma a continuar sendo um ponto de convergência das notícias e colaborações realizadas pelos pesquisadores que se envolveram com as atividades.

O professor do Departamento de História da UFMG Luiz Villalta, presidente do conselho consultivo, apresentou os relatórios conclusivos redigidos pelos coordenadores de cada uma das dez mesas-redondas realizadas. Após a leitura, os participantes puderam fazer intervenções com o propósito de aprimorar o documento final que pautará os direcionamentos oferecidos pela conferência sul-americana à conferência mundial.

Sandra Almeida destacou a pertinência do modelo em que o evento foi estruturado. “Foi muito frutífero termos colocado juntos os acadêmicos, que fazem um trabalho de reflexão teórica e pesquisa, e os representantes de movimentos sociais”, disse.

Luiz Oosterbeek, secretário-geral do Conselho Internacional para Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH) da Unesco, anunciou que o evento de Liège também não será estritamente acadêmico e seguirá modelo parecido com o de Belo Horizonte, em que outras instâncias são convidadas a participar. “Essa participação dos ‘não universitários’ não é mera figura decorativa”, garantiu Oosterbeek. E acrescentou: "Em um painel sobre violência [Mesa-redonda 8: Espaço urbano e violência], quem introduziu a dimensão das humanas foi justamente o Hamilton [Borges, articulador de movimentos e comunidades de negros da Bahia que se posicionam contra a arbitrariedade e a violência da polícia e do estado]".

Novos cientistas

No encerramento da conferência, foi realizada a sessão de premiação dos melhores pôsteres apresentados no decorrer do evento. “Tivemos trabalhos de muita qualidade, de diversas áreas do conhecimento, da graduação e da pós-graduação, assim como trabalhos oriundos de processos de extensão – e de várias partes do Brasil”, comemorou a pró-reitora adjunta de Extensão e professora do Departamento de Psicologia, Claudia Mayorga, integrante da comissão organizadora interna. Os autores de 21 pôsteres, entre os mais de cem apresentados na quinta-feira, 6, receberam o Prêmio Destaque Humanidades.