Pesquisa e Inovação

Parto normal ou natural facilita amamentação, indica estudo

Dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Medicina revela que mais de 70% das mães relataram não ter tido dificuldades durante o aleitamento

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Mamar na primeira hora favorece continuidade do processo de aleitamento
Foto: Amy Bundy / CC BY-NC 2.0

Estudo de mestrado revela que mães que tiveram seus filhos em partos normais ou naturais têm mais facilidade no processo de amamentação. O trabalho, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciências Fonoaudiológicas da Faculdade de Medicina, constatou que, no caso das mães que não relataram dificuldades, 73,6% tiveram parto normal ou natural, e apenas 25,6% tiveram seus filhos via cesariana. 

A coleta dos dados foi feita com base em questionário aplicado no Ambulatório de Amamentação do Centro de Saúde Vila Maria, em Belo Horizonte. Foram analisados prontuários de 269 puérperas, de agosto de 2019 a julho de 2022. 

A pesquisa mostrou que 51,1% das mães expressaram alguma queixa quanto à amamentação – a dor é a mais comum. Outros motivos de reclamação foram fissuras, feridas e ingurgitamentos das mamas, popularmente conhecido como leite empedrado. 

As participantes foram separadas em dois grupos, e os pesquisadores observaram uma associação entre via de parto e dificuldades. No grupo das mães que relataram dificuldades, 35,6% tiveram parto normal, e 20,4%, parto natural, enquanto 41% tiveram seus filhos por meio de cesáreas. No outro grupo, por sua vez, entre as puérperas que não relataram dificuldades, 40,3% tiveram seus filhos em partos normais, 33,3%, em partos naturais, e 25,6%, em cesáreas. 

“Pelas consequências do próprio ato cirúrgico, a mãe que se submete a cesariana tem mais dificuldades para posicionar o bebê e, consequentemente, para amamentar na primeira hora de vida”, explica a pesquisadora responsável pelo estudo, Carine Vieira Bicalho. Também foram encontradas relações entre a cesariana e a descida tardia do leite.

O tipo de alimentação também impactou as dificuldades no aleitamento. Das mães que não relataram dificuldades, 94% delas ofereciam alimentação materna exclusiva aos seus bebês, enquanto 5,4% ofereciam uma amamentação mista ou complementada.

Na primeira hora
De acordo com o levantamento, 89,1% das mães dos bebês que mamaram na primeira hora relataram não ter tido grandes problemas no decorrer do aleitamento; no caso das crianças que não mamaram, esse índice caiu para 76,3%. “Essa primeira vez é muito importante para a criação de vínculo entre mãe e bebê, além de promover o adequado desenvolvimento de estruturas da face da criança”, destaca a pesquisadora.

A chance de não apresentar dificuldade foi 2,1 vezes maior nas crianças que mamaram na primeira hora de vida. “Quando a criança suga, estimula-se a hipófise, que produz oxitocina e prolactina. E esses hormônios ajudam na produção do leite”, explica Carine Vieira.

Os benefícios da amamentação são vários, tanto para a mãe quanto para a criança. “O leite materno diminui a probabilidade de desenvolvimento de processos alérgicos e gastrointestinais, além de favorecer o desenvolvimento cognitivo e psicomotor. No caso da mãe, reduz a probabilidade da ocorrência do câncer de mama e a auxilia a retornar ao peso anterior à gestação”, afirma Carine. “Além disso, o leite materno é um alimento renovável, produzido sem poluição, embalagens e desperdícios”, acrescenta. 

Uma das conclusões do estudo revela que a fase mais difícil para as mães é o puerpério imediato (do primeiro ao décimo dia após o parto). As queixas mais comuns foram dor ao amamentar e problemas nas mamas. No puerpério tardio (11º ao 45º dia), observou-se tendência de as mães não relatarem queixas no aleitamento nem dificuldade para a criança ganhar peso. 

Carine Vieira:
Carine Vieira: dificuldades em amamentar podem ser superadasFoto: Arquivo pessoal

O uso da chupeta e da mamadeira também é um marcador de dificuldades na amamentação. A pesquisa mostrou que 24% das mães que não ofereceram chupeta para seus filhos relataram não apresentar dificuldades no aleitamento. Já no caso das que utilizaram, esse número subiu para 44,4%. 

No caso da mamadeira, o uso também registrou diferenças. Entre as mães que não a utilizaram, 3,9% expressaram dificuldades, frente às 20% que recorreram à mamadeira como complemento nutricional.

Fonoaudiologia como aliada

Carine Vieira reitera a importância do acompanhamento no centro de saúde. “A orientação deve ocorrer tanto no pré-natal quanto no pós-imediato. Não adianta o atendimento só antes do parto, porque é na hora que a criança nasce que as dificuldades vão aparecer. As orientações do pré-natal são muito importantes, porque a mãe já chega mais preparada e segura, mas o período imediatamente posterior ao parto também é muito importante”, argumenta a pesquisadora.

Alguns problemas podem ser resolvidos por meio de acompanhamento com profissionais da fonoaudiologia. “O estudo mostra as principais características em cada período e como os profissionais da saúde podem ajudar a direcionar os cuidados. Também ajuda a observar as dificuldades enfrentadas pelas mães e oferece orientações de condutas específicas”, afirma. “As mães conseguem perceber que amamentar não é fácil. Há dificuldades, mas mesmo assim é possível prosseguir com o aleitamento”, ressalta.

O aleitamento materno pode parecer difícil, mas não deve ficar apenas na idealização das gestantes. “A amamentação costuma ser romantizada, e, muitas vezes, tem-se a sensação de que será muito fácil, que basta colocar a criança para mamar. É importante que as mães saibam que haverá obstáculos, mas existem profissionais que conseguem ajudar. Se há um desejo, é possível oferecer uma alimentação exclusiva ao seu filho”, finaliza Carine Vieira.

Pesquisa: Dificuldades no aleitamento materno durante o puerpério
Programa: Pós-graduação em Ciências Fonoaudiológicas
Autora: Carine Vieira Bicalho
Orientadora: Andréa Rodrigues Motta
Defesa: 3 de maio de 2023

Elen Batista | Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina