Novembro Azul: UFMG cria aplicativo para saúde do homem
Professora da Escola de Enfermagem explica por que os homens retardam a busca por atendimento e cita os impactos desse comportamento
Durante o mês de novembro, várias campanhas destacam a importância da conscientização sobre a saúde do homem, abrangendo todo o espectro de doenças relacionadas ao sexo masculino. O foco é a busca do diagnóstico precoce do câncer de próstata, o segundo mais frequente entre os homens brasileiros, depois do câncer de pele.
Uma iniciativa de pesquisadores da UFMG e da Universidade Federal de Goiás (UFG) representa mais um trunfo na estratégia de oferecer condições para a saúde e o bem-estar masculino. O grupo acaba de desenvolver o aplicativo IUPROST, destinado a apoiar e orientar homens com incontinência urinária, condição clínica que pode surgir após a cirurgia de prostatectomia radical, ou seja, a retirada total da próstata. A incontinência afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes, o que faz da prevenção e do tratamento dessa sequela algo de suma importância.
O aplicativo contém orientações acerca de exercícios para a musculatura pélvica, reconhecimento dos músculos, dicas para melhorar hábitos de vida e também reúne vídeos com relatos de homens. O aplicativo está em fase de testes e aprimoramentos – em breve, será disponibilizado nos canais de download e nos sistemas operacionais android e apple.
Evolução silenciosa
Em entrevista à TV UFMG, a professora Luciana da Mata, do Departamento de Enfermagem Básica da UFMG, conta que os casos estão em constante crescimento e são de evolução silenciosa, o que torna esse tipo de câncer ainda mais perigoso. “Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata, que é dificuldade de ereção e necessidade de urinar muitas vezes durante o dia ou à noite. Na fase avançada, também pode provocar dor óssea e sintomas urinários diversos. Em casos mais graves, pode resultar em infecção generalizada ou até mesmo em insuficiência renal”, alerta a professora.
Um aspecto complicador é a baixa procura da população masculina por centros de saúde. Essa ausência é explicada por preconceitos e estereótipos relacionados a uma suposta ameaça à masculinidade. “A forma como é executado o exame mexe muito com o imaginário do homem, gerando um sentimento de violação à masculinidade. Há, portanto, resistência ao procedimento. Também é comum um grande medo do diagnóstico do câncer de próstata e a associação da doença com a morte”, afirma Luciana da Mata.
Homens e mulheres adotam, em geral, posturas opostas ao tomar medidas preventivas. “Os pais levam as meninas ao ginecologista para controlar e prevenir doenças relacionadas ao aparelho reprodutor desde os 12 anos de idade, enquanto o filho homem não é alvo dessa abordagem preventiva no contexto da urologia. Assim, desde cedo, essa cultura de associação da mulher ao cuidado e à saúde é cultivada, diferentemente do que ocorre com a população masculina’", compara a professora.
Equipe: Miryam Cruz (produção e reportagem), Marcia Botelho (edição de imagens), Naiana Andrade (edição de conteúdo) e Samuel do Vale (imagens)