Sentido da infância inspira reflexões de semana de eventos na Fale
De hoje até quinta-feira, professores e estudantes vão discutir como lidar com a criança em processos de ensino e aprendizagem
Em 20 de novembro de 1989, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança – Carta Magna para as crianças do mundo, documento que visa à proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo. No ano seguinte, o documento foi oficializado como lei internacional e é o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal, sendo ratificado por 196 países. A Convenção define a criança como “todo ser humano com menos de dezoito anos, exceto se a lei nacional confere a maioridade mais cedo”, que tem direito à garantia do estabelecimento de instituições, instalações e serviços de assistência.
O sentido de “infância” será amplamente discutido na 13ª Semana de Eventos da Faculdade de Letras(SEvFale) 2018 – Pensar a infância: linguagem e imaginário, que ocorre nos dias 12, 13 e 14 de junho, na Faculdade de Letras (Fale). O assunto é abordado em matéria publicada na edição 2019 do Boletim UFMG.
De acordo com a professora Sara Rojo, coordenadora da Câmara de Pesquisa da Faculdade e do evento, o tema surgiu da reflexão de pesquisadores acerca do processo de ensino e aprendizagem – desde o modo como o professor ensina uma criança em sala de aula, influenciando o gosto pelos estudos, passando pelo tipo de literatura produzida para cada idade, aproximando-as do universo artístico, até teorizações sobre como esses e outros elementos influenciarão no processo de aprendizagem.
Não é estática
Rojo afirma que a infância não é um objeto estático, pois, ao longo da história, ela ocupa posições, valores, funções e papéis que variam geográfica e historicamente: “Não temos, apenas, o lugar que essa criança ocupa em uma determinada cultura, mas como ‘o outro’, ou seja, como o adulto olha para ela, inclusive nós, professores e pesquisadores, e até mesmo como a literatura dirigida a ela é criada e ensinada. Há uma questão do lugar e do olhar, que me parece fundamental discutir, dentro desse processo de ensino e aprendizagem“, afirma.
A pesquisadora destaca, ainda, a instabilidade das relações tecidas entre a infância e o mundo ao seu redor, como a cultura dos pais, dos avós, a aquisição da linguagem e da forma dos movimentos, o desenvolvimento das aptidões, a conformação dos gostos e o engendramento de uma personalidade que, nesse momento de transição, pode gerar situações extremas: “Vivemos uma situação complexa no país, e isso afeta diretamente nosso convívio dentro da universidade. E quando falamos de criança, não falamos só de meninas e meninos pequenos, mas do adolescente e do estudante universitário, que está dentro de nossa universidade vivendo o processo de transição e aquisição de conhecimento. Pensar nesse tema é, também, pensar nessa situação extrema que estamos vivendo".
Gladys de Sousa, professora da área de ensino e aprendizagem de línguas da Faculdade de Letras e coordenadora de um dos simpósios do evento, salienta a importância do emprego do significado “criança” pela Fundação das Nações Unidas para a Infância (Unicef): “Essa terminologia de jovem adulto, utilizada atualmente, demonstra a carga desse momento transitório pela qual o estudante universitário está passando. Ele ainda é um jovem, mas legalmente responde como adulto”, ressalta.
Três áreas
Realizada a cada dois anos, a Semana de Eventos da Faculdade de Letras (SEvFale) ocorria tradicionalmente em configuração local e regional, com o objetivo de dar visibilidade aos trabalhos da Faculdade, envolvendo professores, alunos de graduação e de pós-graduação. Para a edição de 2018, o modelo escolhido para o evento é o de simpósios independentes para as áreas de Estudos Linguísticos, Ensino e Estudos Literários. “Dividimos o evento nesses três simpósios para alcançar todas as frentes com as quais trabalhamos na Faculdade de Letras, inclusive por meio de apresentações de pôsteres produzidos por estudantes de graduação”, afirma Sara Rojo.
O tema da inclusão, com a perspectiva do ensino para surdos, o português como língua adicional/estrangeira e a formação do profissional de Letras também serão abordados. “A Fale forma o profissional que vai lidar com essa criança em sala de aula. Para também trabalhar essa questão, teremos a presença de estudantes do nosso programa de pós-graduação, o ProfLetras – Programa de Mestrado Profissional em Letras. Eles vão trazer as suas colaborações e percepções de como é abordar essas questões na prática”, reitera Gladys de Sousa. Neste site, estão disponíveis as informações sobre a 13ª edição da SEvFale.