Saúde

UFMG alerta para riscos de abuso sexual infantil na pandemia

Mais tempo em casa torna as crianças ainda mais vulneráveis; professora da Medicina ressalta que vítimas nem sempre reconhecem determinados atos como violência

Em razão do isolamento social, uma das medidas de combate ao novo coronavírus, as crianças permaneceram em casa durante a maior parte de 2020 e 2021. Mas a segurança que esses locais deveriam prover não é realidade para muitas vítimas de abuso sexual. A delegada Renata Ribeiro, da Delegacia de Proteção à Criança da Polícia Civil, afirma que o ambiente doméstico é um daqueles onde é muito comum ocorrerem abusos contra crianças e adolescentes. Segundo levantamento do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, houve aumento de registro de casos de janeiro a maio deste ano (613) em relação ao mesmo período do ano passado (594). Mas, de acordo com a delegada, há muita subnotificação dos casos, sobretudo aqueles de violência sexual contra crianças do sexo masculino.  

A migração das atividades cotidianas para o ambiente digital, de acordo com especialistas, deve aumentar a atenção de pais e responsáveis para os conteúdos consumidos em computadores e celulares. Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil de 2019, 18% das crianças entre 11 a 17 anos receberam mensagens de cunho sexual em aplicativos, de outubro de 2019 a março de 2020. O perigo no mundo digital não para aí. Os sites de acesso ao conteúdo impróprio também aumentaram: entre janeiro e abril de 2021 foram denunciadas à Safernet Brasil 15.856 páginas relacionadas com pornografia infantil, o que representa aumento de 33,4% em relação ao mesmo período do ano passado.  

A professora do Departamento de Pediatria da UFMG, Ana Maria Lopes, explica que nem sempre a vítima reconhece o abuso sexual como violência, justamente porque ela só passa a ter noções acerca da sexualidade na adolescência. Ainda segundo a professora, muitos abusos sofridos por crianças ou adolescentes nem sempre deixam marcas físicas, mas provocam sofrimento psicológico até mesmo anos após a violência. Em casos mais graves, em que há violência física, o acolhimento das vítimas que moram em Belo Horizonte é feito pela equipe especializada dos Hospital das Clínicas e do Hospital Metropolitano Odilon Behrens, onde também são realizadas as avaliações sorológicas de hepatite, sífilis, HIV e demais doenças sexualmente transmissíveis. 

Equipe:  Victor Rocha e Soraya Fideles (produção e reportagem); Márcia Botelho (edição de imagens) e Naiana Andrade (edição de conteúdo)