Saúde

UFMG participa de pesquisa que mapeia práticas sexuais dos brasileiros na pandemia

Multidisciplinar e interinstitucional, estudo pretende oferecer dados para elaboração de políticas de prevenção

Na próxima segunda, 06/09, é celebrado o dia do sexo. A data foi criada para conscientização sobre a importância do uso de preservativos, não apenas como método contraceptivo, mas como o mais importante meio de prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis, como a AIDS, a sífilis, o HPV, entre tantas outras. Apesar da data não ter sido criada por autoridades de saúde, a proposição de uma discussão acerca da temática da sexualidade é importante no sentido de fomentar o diálogo e buscar romper barreiras impostas pelo conservadorismo que dificultam a circulação de informações essenciais, baseadas em evidências científicas, para a saúde pública.  

Foi o que ocorreu durante a epidemia da AIDS, entre as décadas de 1980 e 1990, em que setores da sociedade civil se articularam em torno do tema estimulando um debate público, com o envolvimento do poder público em seguida, e que culminou em estratégias positivas do controle do vírus HIV no Brasil. É o que lembra o professor Marco Aurélio Máximo Prado, coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH UFMG) e um dos cinco coordenadores da pesquisa Sexvid: sexualidades e gestão de risco no contexto da pandemia de covid-19, que teve inspiração em muitos estudos sobre o combate à epidemia da AIDS para investigar quais as práticas sexuais dos brasileiros durante a crise sanitária causada pelo Sars-CoV-2.

A Sexvid tem abrangência nacional e o objetivo geral é realizar um inventário das práticas sexuais dos brasileiros durante a pandemia, bem como dos tipos de cuidados escolhidos na gestão do risco de contágio e o que elas consideram maior ou menor risco. Com uma coordenação composta por docentes de cinco instituições públicas (UFMG, UFRGS, UFPE, UERJ e UnB), e cerca de 16 integrantes da graduação ao doutorado, em diferentes áreas do conhecimento: Psicologia, Antropologia, História e Biologia.

Paula Sandrine Machado, coordenadora geral da pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFGRS, salienta a importância de se estudar o comportamento sexual no contexto da pandemia, sobretudo porque no cenário brasileiro não existe um discurso unificado em torno da prevenção e dos cuidados por parte do poder público em nível federal. A pesquisa, dessa forma, tem o objetivo de contribuir para a compreensão das práticas individuais nessa ausência de diretriz unificada, para que os resultados sejam base para a formação de políticas públicas de proteção da saúde.

Etapas

O estudo foi iniciado desde agosto de 2020, e terá três etapas. A primeira delas, de caráter exploratório, realizou entrevistas diretas para conhecer algumas das configurações de práticas e gestões de risco. As informações coletadas na primeira fase serviram para a formulação do questionário on-line, que está em circulação hoje, e estará disponível até o fim de setembro. Essa fase é quantitativa e exploratória e consiste em um mapeamento para identificar as práticas sexuais adotadas, bem como traçar perfis demográficos dos respondentes. A terceira última fase consistirá em entrevistas em profundidade, a partir dos respondentes da segunda fase que manifestarem desejo de participar da última etapa, sinalizadas no ato de preencher o questionário em circulação.

O pré-requisito para participar é que os voluntários tenham idade a partir de 18 anos, em todas as três etapas. A pesquisa pretende contemplar perfis variados no que se refere a gênero, raça, geração, regionalidade e orientação sexual. O questionário da segunda fase teve sua circulação iniciada em setembro de 2020, logo quando começaram as flexibilizações do distanciamento social em várias cidades do país.

A análise será qualitativa, estabelecida a partir das categorias extraídas dos dados obtidos na fase quantitativa, e serão considerados os contextos e temporalidades das coletas: ausência de vacina no período, início da flexibilização do distanciamento em diversas regiões do país, início da vacinação de pessoas em fase de sexualidade ativa, entre outros aspectos.

Multidisciplinaridade

A presença de perspectivas de outros campos científicos, como a Biologia, contribui para entender melhor a relação da sociedade e dos indivíduos com o universo da microbiologia e da saúde. Mesmo que doenças infecciosas sempre estiveram presentes na vida das pessoas, entender a forma com que a pandemia de uma doença nova, com grande capacidade de transmissão, com letalidade expressiva e com sintomas e sequelas ainda não totalmente conhecidos, se impõe nas práticas das pessoas a ponto de alterar suas formas de trabalhar, consumir, sociabilizar e de relacionar sexualmente, é importante. Desta forma, Paula Machado acredita que a contribuição do olhar da Biologia vai ajudar a fazer uma análise mais adensada do fenômeno.

Saiba mais sobre o estudo em vídeo da TV UFMG:

Equipe: Vitória Fonseca (produção), Otávio Zonatto (edição de imagens) e Renata Valentim (produção e edição de conteúdo)