Daniela Marton conecta matéria, memória e ornamentos da arquitetura em mostra no Centro Cultural
Obras inspiradas na conexão entre matéria, memória e imagens de ornamentos presentes na arquitetura (pinturas, estêncil e arte digital, entre outros suportes) compõem a exposição individual Matéria e memória, da artista plástica ítalo-brasileira Daniela Marton. A mostra, que tem texto curatorial de Tom Lisboa, pode ser visitada na sala Celso Renato de Lima até 2 de fevereiro de 2025. A entrada é gratuita e tem classificação etária livre.
A exposição é composta de uma série de pinturas que surgiu durante a pandemia, época em que se acentuou o distanciamento físico das pessoas em suas relações. Marton ressignificou elementos arquitetônicos para que tivessem algum apelo de memória afetiva e estimulassem suas lembranças, possibilitando que ele reviva situações e crie novos sentimentos.
Materialização da memória
As imagens desses ornamentos começam a sofrer interferências com a materialidade da pintura, que acaba alterando-as, ressignificando assim a recordação afetiva contida nelas. “A pintura se apresenta como resultado da atualização dessas lembranças, passando a matéria a fazer parte da memória, de modo que passado e presente são postos em comunhão”, diz Daniela Marton. Seu processo artístico é acrescido de elementos arquitetônicos com a utilização de estêncil (gravura), fotografias arquitetônicas e do Autocad (software da arquitetura utilizado para elaborar peças de desenho técnico).
Na exposição, a artista também expõe pinturas posteriores à pandemia, reforçando a presença do seu estudo sobre a relação matéria-memória. O uso das cores remete às dores sentidas durante a criação das obras, principalmente se são causadas por problemas de saúde.
Autodescoberta
Para Tom Lisboa, responsável pelo texto curatorial da exposição, as obras de Daniela Marton criam um campo de experiência dessa descontinuidade dos contornos e de uma gama de cores que se desfazem. “Diferentes cargas emocionais permeiam sua produção. Desde a dor que se converte em cor até as escolhas das imagens que remetem ao universo da arquitetura que ela coleta da internet e reproduz em cada estêncil”, explica.
Diferentes cargas emocionais compõem a exposição, como as escolhas de imagens relacionadas à arquitetura, elementos que remetem às edificações antigas de Roma e Veneza e que lembram Daniela de visitar sua família na Itália, e as cores que se convertem em cor. “Ao percorrermos o conjunto de seus trabalhos, embarcamos em um mundo de símbolos e mensagens que nos instigam e desafiam. Passamos a ser viajantes em processo de autodescoberta”, conclui Lisboa.
A artista e a curadoria
Graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Daniela Marton é licenciada em Artes Visuais pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Suas obras são focadas em pintura e escultura. Marton tem participado de exposições coletivas em salões, museus, pinacotecas e bienais no Brasil e no exterior, entre as quais a Bienal de Salerno, na Itália (2018), onde foi premiada, e a Bienal The Wrong, nos EUA (2019 e 2021).
Tom Lisboa é mestre em Comunicação e Linguagens e atua como artista visual, professor de cinema e fotografia e curador independente. Em 2012, recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia e, em 2005, o Prêmio Porto Seguro de Fotografia, na categoria pesquisas contemporâneas, com a série Polaroides (in)visíveis.