Anemia por falta de ferro atinge 33% das crianças no Brasil, conclui estudo da UFSCar
Levantamento aponta como causas do problema elevado índice de mães com anemia e ingestão inadequada de ferro e alerta para a necessidade de políticas públicas efetivas
No Brasil, uma em cada três crianças entre zero e sete anos apresenta anemia ferropriva, causada pela falta de ferro. O dado inédito é de uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), considerada o maior levantamento já publicado sobre a doença em idade pediátrica no país. Foram analisadas 134 publicações anteriores, divulgadas de 2007 a 2020, envolvendo quase 47 mil crianças. O estudo aponta causas variadas para o problema, que incluem elevado índice de mães com anemia e ingestão inadequada de ferro. Para melhorar o cenário, são necessárias políticas públicas urgentes, passando pela distribuição de renda e educação nutricional. O levantamento foi publicado na revista Public Health Nutrition, da Universidade de Cambridge.
Quem falou sobre os resultados do estudo e ações de combate no programa Conexões dessa quarta, 17, foi o professor do Departamento de Medicina da UFSCar e coordenador da pesquisa, Carlos Alberto Nogueira de Almeida. O docente explicou a gravidade de uma doença como a anemia, uma vez que é silenciosa e traz consequências graves. Diferente do passado, quando os efeitos eram mais severos e visíveis, Almeida detalhou que hoje quase não se percebe que a criança foi acometida pela enfermidade, que muitas vezes trará danos como a redução da imunidade e cognitivos, causando dificuldade de aprendizado e evolução escolar. “São crianças que vão perder oportunidades na vida por terem potencial cognitivo inferior aos seus pares”, defendeu.
O pesquisador abordou as principais causas do alto índice da doença, comentou como a pandemia pode ter piorado o quadro – a pesquisa revelou dados anteriores à crise do coronavírus –, explicou a metodologia utilizada e apontou caminhos para combater a anemia ferropriva em crianças. “Precisamos de um programa de pré-natal melhor, o que inclui um treinamento dos profissionais para que não deixem que a gestante faça a suplementação de ferro, isso acontece no mundo inteiro. É preciso trabalhar com os pediatras pelo incentivo ao aleitamento materno e para que a mãe continue tomando ferro, para que possa passa-lo ao bebê através do leite. Para as crianças que não são amamentadas, deveria haver um programa governamental de oferecimento de fórmula infantil pelo menos até um ano. E veja que isso não tem nada a ver com o que a gente ouve de que isso seria favorecer a indústria. Esqueça isso porque é recomendação da OMS. Criança que não mama até um ano tem que receber fórmula infantil. Daí para frente, precisaríamos ensinar as pessoas a consumir fontes de ferro mesmo com pouco dinheiro”, enumerou o professor.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
O artigo pode ser acessado na íntegra, em inglês, por meio deste link.
Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas