Institucional

Ao completar 100 anos, Escola de Música celebra a história, se autoavalia e projeta o futuro

Solenidade nesta quarta, dia 9, vai marcar oficialmente o aniversário; evento terá apresentações da Orquestra Sinfônica da Escola e do Coral Ars Nova

Fachada da Escola de Música
Fachada da Escola de Música, que se transferiu para o campus Pampulha em 1997Foto: Foco Lisboa | UFMG

Neste abril de 2025, a Escola de Música da UFMG faz 100 anos. As comemorações já começaram e vão se estender por algum tempo, mas o evento principal será realizado nesta quarta-feira, dia 9, no Auditório Fernando Mello Vianna. A solenidade, com início às 17h20, terá a presença da reitora Sandra Goulart Almeida e do vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira e apresentações da Orquestra Sinfônica da Escola de Música e do Ars Nova – Coral da UFMG, os dois grupos mais antigos vinculados à unidade, com peças de Mozart, Beethoven e Ary Barroso, entre outros. Durante o evento, será lançado o livro Ars Nova – Coral da UFMG: sua história, suas pessoas e suas histórias, de Sergio Dias Cirino e Ana Maria A. Lana.

É hora de celebrar intensamente, mas também de uma avaliação geral, para fazer mudanças e traçar planos. A Escola tem promovido encontros destinados à reflexão sobre o que ela oferece e a estrutura de que dispõe, e delinear o que se pretende nos campos da formação, da produção artística e em pesquisa e extensão.

“Sempre respeitando a alma, o ethos da Escola, sua história e seus princípios fundamentais, estamos projetando seu futuro, que será marcado por mais inovação”, afirma o diretor Renato Tocantins Sampaio, que cumpre seu segundo mandato, com o vice Carlos Aleixo dos Reis.

História e estrutura
O Conservatório Mineiro de Música foi fundado em 29 de abril de 1925 e teve sua primeira sede na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. Em 1950, foi federalizado e em 1962 passou a integrar a UFMG. Dez anos depois, a instituição ganhou o nome de Escola de Música da UFMG e em 1997 transferiu-se para o campus Pampulha.

Consolidada como um polo de formação, pesquisa e produção artística, a Escola de Música tem dois departamentos acadêmicos: Instrumentos e Canto (INC) e Teoria Geral da Música (TGM). A graduação oferece a Licenciatura e o Bacharelado em Música – este com 21 habilitações, como regência, composição, instrumentos e canto, musicoterapia e música popular – criadas em 2009, essas duas últimas são as mais recentes.

Na pós-graduação, o programa de mestrado e doutorado tem seis linhas de pesquisa: educação musical, música e cultura, performance musical, processos analíticos e criativos, sonologia e musicoterapia, implementada em 2024 como o único programa de pós-graduação stricto sensu nesse campo na América Latina.

Com acervo de mais de 27 mil títulos, a biblioteca da Escola de Música é um dos maiores repositórios especializados do país. Os alunos têm acesso a um estúdio de gravação, um auditório modular para 300 pessoas e laboratórios de pesquisa em musicologia, sonologia, análise musical e musicoterapia.

A Escola direciona seus esforços também para programas de extensão como cursos de musicalização infantil e apreciação musical e participação em grupos vocais e instrumentais.

Maestro Sergio Magnani conduz a Orquestra Sinfõnica na inauguracão do prédio da Escola no campus Pampulha
Maestro Sergio Magnani conduz a Orquestra Sinfônica na inauguracão da sede da Escola no campus PampulhaFoto: Eber Faioli | UFMG

Mudanças e planos
Os debates do fórum e outras conversas darão origem a mudanças curriculares na graduação, reestruturação da pós-graduação e medidas para incrementar a conexão entre os dois segmentos. “A ideia é que o bacharelado, até hoje focado sobretudo na formação de instrumentistas de orquestra, preocupe-se mais com a inserção das pessoas e seu impacto na vida e na cultura, com ênfase em aspectos como ética e reflexão sobre a sociedade”, informa Renato Sampaio. Ele acrescenta que estão sendo propostas alterações também na licenciatura: “A formação de professores deve ser mais consistente com o contexto atual, visando à atuação também em cursos particulares e ONGs, por meio da utilização de novas metodologias.” Segundo o diretor, a pós-graduação, por sua vez, deverá, cada vez mais, aliar pesquisa e formação continuada.

Outros planos da Escola de Música são reduzir a distância entre compositores eruditos e de concerto e o público geral, intensificar o esforço de resgate de tradições populares e investir na etnomusicologia, mirando o estudo das músicas ameríndia e afroamericana, por exemplo.

Renato Sampaio:
Renato Sampaio: investimento na etnomusicologiaFoto: acervo pessoal

Sampaio ressalta que, mesmo com as restrições de recursos dos últimos tempos, a Escola tem mantido seu ritmo de inovação em áreas como métodos de ensino e produção artística e ainda os altos índices de avaliação dos órgãos governamentais. O bacharelado e a licenciatura têm nota 5, a máxima concedida pelo MEC, e o programa de pós-graduação é um dos poucos no Brasil com nota 5 da Capes. “Almejamos a nota 6, acreditamos que temos potencial e estrutura para isso”, ele diz.

Anexo retomado
A Escola de Música chega ao centenário embalada por uma notícia aguardada há quase dez anos: a retomada das obras do prédio anexo, cujo projeto está sendo atualizado. O anexo terá 20 laboratórios com tratamento acústico para reverberação flexível. Com apoio da Escola de Engenharia, alguns deles vão oferecer soluções para, por exemplo, simulação de acústica variável.

Quando se refere às características que diferenciam a Escola de Música da UFMG, Renato Sampaio lembra que a unidade oferta um dos três cursos de harpa do Brasil. “Também poucas universidades têm uma orquestra sinfônica. A nossa tem mais de 50 anos de existência [foi criada em 1972] e propicia oportunidades únicas para alunos, professores, técnicos instrumentistas e aprendizes de regência”, conta o diretor. O Ars Nova, um dos mais longevos – foi fundado em 1959 – e importantes corais do país, é sediado na Escola, e todos os regentes de sua história são vinculados à instituição. “Temos muitos grupos institucionais perenes, outros temporários, formações diferentes que proporcionam experiências muito ricas”, afirma Sampaio, que leciona na área de musicoterapia.

O diretor conta que, com apoio da gestão central da UFMG, a Escola mantém parcerias com universidades de diversos países, e os planos são de institucionalizar e ampliar esse movimento. Renato Sampaio se entusiasma também ao abordar o perfil extensionista da Escola de Música. A unidade se aproxima do público externo por meio de cursos variados, atendimento em musicoterapia, apoio a projetos sociais e conexão com as escolas de educação básica. “Temos ainda o Centro de Musicalização Infantil (CMI), que oferta cursos, gera materiais didáticos, partituras e subsidia o ensino nas escolas, e as apresentações de nossos grupos em espaços diversos, algumas delas com caráter didático, mesclando música e explicações sobre os instrumentos e os gêneros musicais”, enumera Sampaio. “A Escola está efervescente em atividades e ideias. Estamos nos avaliando e continuamos agindo.”     

Dois personagens

Oiliam Lanna:
Oiliam Lanna:  'inquietação do artista'Foto: Jebs Lima | UFMG

Há 53 anos, a Escola de Música da UFMG ganhava oficialmente esse nome. Foi o momento também em que seu decano, o professor Oiliam Lanna, chegava à instituição para iniciar a graduação em composição. Seis anos depois, ele se tornou docente. Sua trajetória na Universidade coincide, portanto, com metade da história centenária da Escola.

Vinculado ao Departamento de Teoria Geral da Música, o pianista, compositor e regente vivenciou as modificações por que a Escola passou ao longo das décadas. “A arte musical se transformou em alguns aspectos, tomou a direção da música contemporânea, com sua estética e sua linguagem próprias. Gradualmente, a Escola adotou a pluralidade dos meios de se fazer música, incluindo os recursos tecnológicos. Percebemos como docentes e ex-alunos transformam sua expressão artística, e eu mesmo não componho mais como há 20 ou 30 anos. Tem a ver também com o que chamamos de inquietação do artista”, comenta Oiliam Lanna.

Mestre em composição pela Universidade de Montreal, no Canadá, e doutor em linguística pela UFMG, Oiliam Lanna teve como um de seus mestres mais importantes o maestro e compositor belga Arthur Bosmans (1908-1991), que o iniciou também na regência – Oiliam esteve à frente Orquestra Sinfônica e de outras formações na Escola. Segundo o discípulo, Bosmans foi importante para a difusão da música em Belo Horizonte “numa época em que não havia aqui o hábito de ouvir música”.

O decano salienta que a Escola de Música foi sempre muito aberta a novidades e tem projeção nacional, em razão de suas publicações e produções artísticas, e ainda por causa da articulação com escolas de outras universidades. Esse é um dos fatores para sua disposição de continuar na ativa, aos 72 anos. “Me sinto motivado para o trabalho, tanto quanto me sentia há décadas. Tenho saúde e energia para seguir contribuindo com essa instituição, que me inspira admiração e gratidão”, diz Lanna.

Sandra Pugliese:
Sandra Pugliese: 'gente nova, competente e ousada'Foto: Jebs Lima | UFMG

'Grande família'
Qualquer unidade acadêmica abriga atividades diversas, das aulas à pesquisa, passando pelas ações de extensão, entre outras. Na Escola de Música, o que não falta são eventos: espetáculos, como os do Projeto VivaMúsica, workshops para músicos e visitas de pesquisadores e grupos musicais de outros estados e países. E esse é um assunto para a auxiliar em administração Sandra Pugliese. Desde antes da mudança da Escola para o campus Pampulha, no final dos anos 1990, ela tem papel crucial na produção dos eventos.

Sandra chegou à UFMG para trabalhar na Coordenadoria de Assuntos Comunitários, a CAC, onde se familiarizou com a organização de eventos de música, como o projeto Quarta Doze e Trinta. Não deixou essa seara durante os 25 anos que passou na seção de pessoal da Escola de Música, boa parte deles como chefe. “Lembro-me que, quando viemos do Conservatório para o campus, promovemos concertos nas outras unidades para anunciar a chegada da Escola de Música”, ela conta.

Formada em comunicação social, com habilitação em produção editorial, e especialista em psicologia do trabalho, Sandra Pugliese enumera eventos em parceria com espaços como o Teatro Francisco Nunes e o Sesc Palladium, encontros de corais, atividades em diferentes regiões da capital. “Toda a comunidade da Escola se envolve nessas iniciativas, nossos professores e alunos mostram sua produção, e o público, muitas vezes formado por crianças, se entusiasma”, ela relata.

Uma das integrantes em atividade mais antigas da comunidade da Escola de Música, que ela chama de “grande família”, Sandra Pugliese destaca o valor da renovação constante de professores e técnicos e dos novos perfis dos estudantes. “Tem chegado muita gente nova, competente e ousada. Passado e presente convivem muito bem aqui na Escola, onde aprendi muito, e continuo aprendendo, sobre trabalho e as relações entre as pessoas”, diz a servidora.

Livro aos 80 anos
Em 2006, a Editora UFMG publicou Do Conservatório à Escola: 80 anos de criação musical em Belo Horizonte, de Sérgio Freire, Alice Belém e Rodrigo Miranda. No site da Escola de Música, é possível ler o livro e ouvir as peças musicais que constavam de CDs encartados no volume.

Itamar Rigueira Jr.