Institucional

Arquitetura completa 90 anos com história que se confunde com a de BH

Diferentemente de centros que nasceram de escolas politécnicas ou de belas-artes, unidade trilhou caminho autônomo

 

Prédio da Escola de Arquitetura:
Prédio da Escola na região da Savassi, em Belo Horizonte: guardiã da arquitetura modernaFoca Lisboa / UFMG

Uma das mais tradicionais unidades da UFMG, a Escola de Arquitetura completou 90 anos de fundação nesta quarta-feira, 5 de agosto. A data foi lembrada em sessão solene da Congregação, da qual participaram a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, os diretores das últimas gestões e integrantes daquele colegiado. 

Durante a cerimônia realizada remotamente, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida disse que 5 de agosto é uma data especial no calendário da UFMG. “Celebramos este dia de forma excepcional, mas ele ficará, sem dúvida, marcado na vida da nossa Instituição. Não é pouca coisa comemorar os 90 anos de uma Unidade, se pensarmos que a universidade no Brasil é uma instituição relativamente nova – a mais velha, a UFRJ, chega neste ano aos 100 anos –, e a UFMG completa 93 anos em setembro", disse ela. Em sua opinião, a defesa da liberdade e dos direitos humanos e a resistência à opressão são "valores caros a esta Casa e a todos nós e têm marcado a nossa história".

Em entrevista ao Portal UFMG, o atual diretor, Maurício Campomori, lembra que a história da Escola da Arquitetura da UFMG está diretamente relacionada com o desenvolvimento de Belo Horizonte, pois a capital de Minas Gerais foi fundada em 1897, e a escola, apenas 33 anos depois. “Em 1930, BH era ainda uma cidade de pequeno porte, ainda em construção, em alguma medida provinciana. Será justamente com a fundação da Escola de Arquitetura que a cidade vai começar a se desenvolver mais fortemente”, contextualiza.

Arquitetura moderna
De acordo com Campomori, a Escola de Arquitetura contribuiu ativamente com a construção do perfil da jovem capital. “Estabelece-se, já nos anos iniciais, uma relação muito intensa entre a vida da escola e a vida de Belo Horizonte. São histórias que não podem ser dissociadas”, disse o diretor, destacando especificamente a questão estilística da arquitetura moderna. “No decorrer da segunda metade do século 20, a UFMG vai se desenvolver como uma espécie de guardiã dessa competência de arquitetura no Brasil”, destaca Campomori, lembrando o caráter moderno da arquitetura em que se baseou a construção da capital planejada do estado.

O diretor também menciona uma especificidade que faz da Unidade uma precursora no país. “A Escola de Arquitetura da UFMG é a primeira do Brasil que não é desdobramento nem de uma escola politécnica, em conformidade com a tradição americana, nem de uma escola de belas-artes, que segue a tradição europeia. Ela foi a primeira fundada autonomamente no país”, explica Campomori, atribuindo as implicações desse perfil ao arrojo do pensamento arquitetônico ali empreendido. Toda essa conjuntura, lembra o diretor, resultou em uma escola de arquitetura que vem sendo continuamente reconhecida pelos rankings como uma das melhores do país.

Casa e pandemia
Professor do Departamento de Projetos da Escola de Arquitetura, Maurício Campomori chama a atenção para a relevância que os pressupostos da arquitetura residencial ganharam no atual contexto de pandemia e isolamento social. “Espaços residenciais nunca foram pensados para permanências tão longas tais como as que estamos experimentando pela necessidade do momento. Nenhum espaço residencial foi concebido para que a pessoa ficasse enclausurada ali dentro quatro, cinco meses. Isso não é habitual. Não existia essa lógica”, argumenta.

A despeito dessa particularidade, a inadequação dos espaços residenciais à experiência de efetiva imersão humana se situa em contexto mais amplo, segundo o diretor da escola. “Nos últimos tempos – e isso ocorreu não só em Belo Horizonte e no Brasil, mas no mundo inteiro – foram desenvolvidos muitos espaços com foco na produção. A economia conduz um pouco para isso, para a ‘eficiência’ dos espaços. Hoje, contudo, esses valores de produtividade e de hegemonia da eficiência econômica estão sendo postos em xeque”, ele diz. As experiências da pandemia, acrescenta o diretor, têm demonstrado uma necessidade de maior humanização das relações, “e isso envolve a espacialização das relações”.

“Há uma necessidade de se fazer espaços que sejam humanos o tempo todo, isto é, que não sejam só espaços para ‘produção’. É claro que existe uma lógica possível para a ‘eficiência do morar’, mas não se deve pensar apenas em eficiência econômica e produtiva. Projetar e construir uma boa residência não tem necessariamente a ver com a lógica econômica", afirma.

Campomori sustenta que a arquitetura tem papel central nesse contexto, uma vez que está essencialmente relacionada com a forma como o homem espacializa a sua cultura. "Nesse sentido, estamos assistindo a uma transformação da nossa cultura. Espero que ela ocorra com um viés mais humanístico, em lugar do produtivismo que imperou nas últimas décadas", conclui o diretor.

Ewerton Martins Ribeiro