Cecília Meireles 120 anos: pesquisadora reflete sobre obra e legado da escritora
‘Penso que deveríamos fazer um trabalho mais atento para a leitura da prosa da Cecília, que é tão engenhosa quanto a poesia’, defende a mestra pela UFMG Paola Resende
Este mês de novembro marca os 120 anos de nascimento da jornalista, pintora, escritora, cronista e professora carioca Cecília Meireles, considerada uma das poetas mais importantes do Brasil. Ao decorrer de sua carreira, publicou mais de 50 obras e foi a primeira mulher no país a ser amplamente reconhecida no meio literário, sendo, inclusive, agraciada com o Premio de Poesia Olavo Bilac, o Jabuti e o Prêmio Machado de Assis.
Ela se formou como professora aos 16 anos, em 1917, e dois anos depois começou sua trajetória literária com Espectros, que apresenta 17 sonetos de temas históricos. Sua atuação como educadora não se limitou à sala de aula. Como escritora, produziu uma série de livros paradidáticos e, como jornalista, publicava na imprensa carioca textos sobre educação, literatura e folclore. Além disso, fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro.
Quem contou mais sobre a obra e legado de Cecília Meireles no programa Universo Literário dessa terça, 16, foi a mestra em Estudos Literários Paola Resende, que estudou a autora no Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários e Estudos Linguísticos da UFMG (Pós-Lit). Em entrevista, a pesquisadora detalhou as características da vasta obra literária de Cecília Meireles e apontou alguns dos temas mais recorrentes nos textos da escritora. Dentre eles, a entrevistada citou o mar, a morte ou os mortos, a liberdade, o eu, a viagem, o tempo, a natureza, a guerra e a educação.
Segundo a pesquisadora, a contemporaneidade na obra de Cecília Meireles está principalmente nas crônicas. “Eu acho que as crônicas da Cecília são atualíssimas, inclusive por um viés triste. Porque vemos que pouco mudou ou algumas coisas até pioraram, mesmo. Dessa influência dela na atualidade eu apostaria em dois critérios: um mais político, essa grande retomada de escritoras mulheres que estamos vendo acontecer, junto com Henriqueta Lisboa e Gilka Machado, e o segundo critério, mais propriamente estético, acho que seja a precisão e agudeza da palavra e da poesia. Acho que essa importância hoje é muito calcada na obra poética. Por exemplo, Romanceiro da Inconfidência, que acho que acabou sendo o livro mais conhecido e talvez mais lido, mas penso que deveríamos fazer um trabalho mais atento para a leitura da prosa da Cecília, que é tão engenhosa quanto a poesia, mas até hoje menos lida” definiu.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
Paola Resende foi uma das organizadoras do Colóquio Internacional Cecília Meireles: 120 anos, realizado em outubro pela Faculdade de Letras da UFMG. O evento on-line reuniu uma série de mesas redondas para celebrar e debater as múltiplas facetas da escritora. As conferências estão disponíveis no site.
Produção: Alexandre Miranda e Nicolle Teixeira, sob orientação de Luiza Glória e Hugo Rafael
Publicação: Alessandra Dantas