A Colômbia elegeu o primeiro presidente de esquerda de sua história. Gustavo Petro sagrou-se vencedor do pleito no domingo, 19, com 50,49% dos votos, contra 47,25% recebidos por Rodolfo Hernández, empresário e candidato da extrema direita, que chegou a ser chamado de ‘Trump Colombiano’ durante as campanhas eleitorais. Petro tem formação em economia, foi guerrilheiro, senador do país e prefeito da capital, Bogotá. As pesquisas indicavam empate técnico, mas o resultado teve uma diferença de mais de 700 mil votos num total de cerca de 22 milhões. Além da inédita escolha de um representante da esquerda para chefiar o Executivo, a vice-presidenta eleita é Francia Márquez, primeira mulher negra a ocupar o cargo. Ela é advogada, feminista e ambientalista e já trabalhou como empregada doméstica. O novo presidente propõe grandes mudanças, que envolvem o modelo econômico, a matriz energética, igualdade de gênero, desmilitarização e reforma tributária. 

A comemoração da vitória foi marcada pela presença de grupos indígenas ostentando símbolos pró-diversidade e bandeiras que homenageavam Carlos Pizarro, ex-líder guerrilheiro que foi assassinado na campanha presidencial de 1990. Francia Márquez foi a primeira a subir ao palco, junto da filha, e fez um discurso relembrando de todos os jovens, mulheres e líderes sociais que foram mortos nos últimos anos. Gustavo Petro entrou em seguida, também acompanhado da família, e convidou os eleitores do candidato derrotado, Hernández, para discutirem os problemas do país na sede do governo colombiano. Durante meio século, a esquerda colombiana foi associada a grupos guerrilheiros como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e o Exército de Libertação Nacional (ELN), embora não seja representada nem esteja restrita a eles. 

Para analisar os fatores que levaram à eleição do primeiro presidente de esquerda colombiano, a plataforma de governo de Petro e como o resultado reverbera na América Latina, o programa Conexões conversou, nesta terça-feira, 21, com o professor Fábio Borges, Diretor do Instituto Latinoamericano de Economia Sociedade e Política da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).

"É um momento realmente histórico, porque a Colômbia tem uma história de violência, de conflitos, que vem se arrastando por muitos anos. E uma hegemonia da direita por toda a história colombiana, que nunca conseguiu lidar com os problemas sociais da Colômbia", analisou.