De César para Tomaz
Professor Francisco César de Sá Barreto homenageia Tomaz Aroldo da Mota Santos, falecido no mês passado
Meu querido amigo Tomaz dos dias recentes; meu amigo Baiano dos dias passados. Começo minha conversa com você lembrando, ou copiando, Guimarães Rosa:
Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer.
Foram muitos dias e anos que encheram nossas vidas. Posso me lembrar de você, ao lado do Carlos Afonso Rego e do Edgar Pontes Magalhães, entre outros, atuando na criação da Apubh, das nossas conversas e discussões sobre a Universidade e seu futuro, no bar Mergulhão. Em todos esses momentos, guardo na minha lembrança seu sorriso no seu olhar. Você sorria nos olhos, e não apenas nos lábios. Sorriso amigo, ameno, suave, seguro, acolhedor. Algo novo, pelo menos para mim. Seu sorriso nos olhos autorizava nosso discurso, nos dava segurança e nos permitia pensar livremente, pensando no futuro, com esperança e quase certeza de que tudo daria certo. Seu sorriso era uma de suas maneiras de aproximar pessoas. Volto a Guimarães Rosa, com o meu pedido de socorro e um sorriso nos lábios:
Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é.
A vida vem, deixa rastros e marcas e marca o futuro. Sua vida foi cheia de desejos e futuros, para todos e para você, e de realizações, de novo, para todos e para você. Note, você vem sempre depois de todos. E essa era sua atitude, sempre. O todo precede as partes. Aprendi muito, não sei se usei tudo que aprendi, mas tentei. Certa vez, recente, você me prestou uma homenagem, solitária, pois estávamos os dois sozinhos. Você me disse, após um pronunciamento meu, em público, que concordava com o meu pronunciamento e assinaria embaixo. Isso, amigo, é uma grande homenagem. Principalmente vindo de uma pessoa honesta e verdadeira.
Peço ajuda a outro mestre, Santo Agostinho, para definir seu modo de viver: Ninguém pode ser amigo de ninguém sem antes ser amigo da verdade.
Termino minhas lembranças lembrando, de novo, Guimarães Rosa: O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas.
Você está encantado na sua Yara e nos seus descendentes. Como disse o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade:
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Abraços saudosos do amigo César.
P.S.: Creio que a nossa UFMG também sentirá saudades. Eu não mencionei suas realizações como professor, pesquisador e gestor. São excelentes, pois têm origem na excelência.