Dia Mundial do Combate à Violência Contra a Pessoa Idosa: negligência é a forma mais recorrente
Professora da UFMG Eliane Dias Gontijo destaca que nem sempre o descaso com idosos é por maldade, mas por falta de políticas públicas que auxiliem os familiares
O envelhecimento populacional é uma tendência mundial. No Brasil, não é diferente. A estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é que cerca de 40% dos habitantes sejam idosos em 2100, o que equivaleria a mais de 60 milhões de pessoas. Nesse sentido, poderíamos esperar políticas de valorização dos mais velhos e de aumento da qualidade de vida nessa fase. Entretanto, não é bem isso que parece estar acontecendo. Nesta quarta, 15 de junho, Dia Mundial de Combate à Violência Contra a Pessoa Idosa, que é um reforço para a conscientização ao longo de todo o mês, na campanha do Junho Violeta, é importante entender os tipos de agressão cometidos contra esse grupo para tomar medidas de contenção.
A data foi instituída em 2006 pela Organização das Nações Unidas e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. Desde 2020, foram registradas pelos canais da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos mais de 145 mil denúncias de violência contra a pessoa idosa em todo o país. Entre os meses de outubro e novembro do ano passado, uma operação coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública atendeu mais de 17 mil idosos vítimas de violência, resultando na prisão de mais de 400 agressores e na solicitação de mais de mil medidas protetivas em mais de 2 mil municípios.
Em Minas Gerais, 82 vítimas foram resgatadas e 43 pessoas, presas. A capital mineira ainda traz um dado preocupante relacionado a um tipo específico de violência. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, houve 10 casos de abandono de idosos em hospitais em 2021. Este ano já foram 6 registros, em uma média de um por mês.
Para analisar esse cenário, os direitos da população idosa e refletir sobre as políticas públicas necessárias para enfrentar os abusos contra esse público, o programa Conexões desta quarta, 15, recebeu a professora titular da Faculdade de Medicina da UFMG, no Departamento de Medicina Preventiva e Social, com orientação de estudantes da pós-graduação e também publicação de artigos sobre o tema, professora Eliane Dias Gontijo.
A docente destacou que a forma de violência mais recorrente contra os idosos é a negligência, mas ainda existem outras como a patrimonial, a emocional e a física. Ela ainda comentou que, mesmo com muitos sendo responsáveis pelo sustento da família, seja por meio da aposentadoria, seja trabalhando na velhice, eles ainda sofrem com estereótipos de pessoas frágeis que precisam de proteção excessiva ou são desvalorizados de outras formas.
A professora também defendeu que, muitas vezes, o descaso ou a falta de cuidado e até o abandono da pessoa idosa não é feita por maldade dos familiares, mas por falta de políticas públicas que os auxiliem. Por isso, é necessário que os governos invistam em equipamentos e ações que valorizem a população mais velha enquanto sujeitos de direitos que precisam ter suas especificidades atendidas.
Ouça a conversa com a apresentadora Luiza Glória:
O Junho Violeta é uma campanha que busca chamar a atenção da sociedade brasileira para a violência contra o idoso. A formalização da denúncia é um primeiro passo para o enfrentamento do problema. Ela pode ser feita pelo Disque 100 e pelo 190, que funcionam 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, e também em delegacias de proteção ao idoso. No site da Polícia Civil de Minas Gerais é possível consultar os endereços para saber qual fica mais próxima. Em Belo Horizonte, a Delegacia Especializada de Proteção e de Crimes Contra o Idoso fica localizada na Avenida Augusto de Lima, 184, no Barro Preto. O horário de funcionamento é das 8h às 18h.
Produção: Alícia Coura e Arthur Resende, sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória
Publicação: Alessandra Dantas