Em sua 15ª edição, Festival de Verão reafirma a cultura como direito
Renegado, Elza Soares e Teuda Bara são algumas das atrações do evento, que será realizado virtualmente em quase sua totalidade
De 4 a 11 de março, a UFMG vai realizar a 15ª edição do seu Festival de Verão, que terá praticamente toda a programação transmitida virtualmente, em razão da pandemia do novo coronavírus.
Haverá de apresentações teatrais a seminário, de rodas de conversa a shows musicais, oficinas e exposições. Tudo gratuito e aberto ao público.
Leia a seguir um resumo das principais atrações em diversas áreas artísticas nos oito dias do evento. Todas as apresentações do Festival serão transmitidas pelo canal Cultura UFMG no YouTube.
Música
A programação musical começa na quinta-feira, dia 4, às 20h, com show do rapper Renegado, que terá participação de Elza Soares em algumas músicas. Outro destaque é o show inédito que Titane e Maurício Tizumba prepararam para o Festival (dia 8, às 19h).
Teatro
Em um documentário artístico, integrantes do grupo de teatro Mulheres de Luta, da Ocupação Carolina Maria de Jesus, de Belo Horizonte, vão relembrar suas trajetórias e falar sobre o papel do teatro em suas vidas. O documentário traz cenas de espetáculos já montados pelo grupo. Dia 9 (terça), às 19h.
Acompanhada por Admar Fernandes e dirigida por Inês Peixoto, a diva do teatro mineiro Teuda Bara vai apresentar Doida no quintal, adaptação do espetáculo Doida ao formato virtual. Dia 10, às 19h.
Poesia
Anarvore, Eliza Castro e Iza Reys, integrantes da Afrolíricas, partem do conceito de “escrevivência”, de Conceição Evaristo, para debater as formas poéticas que a juventude negra e periférica tem desenvolvido para cobrar seus direitos sociais e denunciar os abusos do cotidiano. A roda de conversa será no dia 6, sábado, às 14h. Durante o evento, as poetas vão divulgar o link de uma sala do Zoom em que vão ministrar, logo após o debate, uma oficina gratuita de escrita criativa. A atividade ficará disponível apenas para as primeiras 25 pessoas que acessarem a sala.
Ainda no sábado, às 19h, será realizado o sarau De quebrada: não procure o centro, que reúne slamers – poetas que duelam em batalhas de declamação, os chamados slams – da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O evento também marcará o lançamento do livro de poesias De quebrada, produzido em uma residência da edição passada do Festival de Verão, da qual participaram alguns desses poetas, sob a coordenação da professora da Faculdade de Letras da UFMG Emília Mendes.
Dança
Sete artistas da dança belo-horizontina foram provocados a “traduzir” em coreografia o mote “direito à cultura nas quebradas”. O resultado desse trabalho poderá ser visto no dia 5, sexta, às 20h, com reapresentação dia 9, terça, às 12h35.
O grupo de dança folclórica Sarandeiros apresentará três vídeos de coreografias desenvolvidas de forma remota ao longo de 2020. Será no dia 10, às 12h.
Tempo de fazer – e de pensar a cultura
Como é de praxe nos festivais artístico-culturais da UFMG, esta edição do Festival de Verão também contará com uma série de mesas-redondas e rodas de conversa para que artistas e produtores culturais possam debater questões de fundo ligadas à cultura. Uma dessas rodas será no dia 5, sexta, às 20h. Ela vai reunir os 20 artistas que participaram da exposição virtual Movências: transfigurações cotidianas, também em cartaz no Festival. Estarão presentes a iyálorixá Marlene de Nanã, de Salvador, e as professoras Lucia Castello Branco, da UFMG, e Lia Krucken, da UFBA.
Outra roda de conversa que merece destaque trata de questões de saúde sexual. Educadores do projeto PrEP 15-19, da Faculdade de Medicina da UFMG, promoverão, no dia 6, sábado, às 10h30, um bate-papo com o cineasta e pesquisador Vagner de Almeida e o escritor Salvador Corrêa. Os dois são ativistas que encontraram na arte ferramentas de luta por políticas e ações para o controle da epidemia de HIV.
Plano de cultura
Na solenidade de abertura do Festival, agendada para o dia 4, às 19h, haverá uma primeira apresentação das propostas de um projeto de mapeamento cultural da UFMG, que, por sua vez, subsidiará o futuro plano de cultura da Universidade. Esse projeto será debatido mais profundamente no dia 8, às 10h30, em uma live igualmente aberta ao público.
O 15º Festival de Verão UFMG também sediará o Seminário Internacional Direito à Cultura, em que pesquisadores, gestores e agentes culturais da América Latina vão discutir modos de implementar políticas públicas que garantam os direitos culturais de seus povos. Realizado em parceria com universidades públicas brasileiras e latino-americanas integrantes da Associação das Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), o evento ocorrerá nos dias 4 e 5.
A programação completa do Festival, que inclui também uma série de exposições virtuais, está disponível na página do evento. Atualizações podem ser acompanhadas em suas redes sociais: Instagram, Facebook e Twitter.
Entrevista/ Fernando Mencarelli, diretor de Ação Cultural da UFMG
'Se bem mobilizado, mundo virtual amplia acesso e alcance'
O diretor de Ação Cultural, Fernando Mencarelli, discorre sobre o tema do 15º Festival de Verão, fala do alcance proporcionado pelo formato virtual e da relação umbilical entre extensão e cultura. Leia os principais trechos da entrevista concedida ao Portal UFMG:
O tema desta edição do Festival de Verão é Transversal – redes de cidadania e direito à cultura. Que conjunto de ideias esse mote pretende traduzir?
Esta edição do Festival tem na questão do direito à cultura o centro temático da sua programação. Queremos refletir sobre como as universidades e as instituições públicas de ensino superior podem contribuir para a difusão dos direitos culturais e para a sua garantia. O direito à cultura é uma garantia constitucional, que deve se desdobrar e, de fato, se desdobra nas políticas culturais nacionais, estaduais e municipais. Mas o que a gente busca é o reconhecimento dos sujeitos desses direitos, por meio das redes de cidadania. O Festival destaca a transversalidade dos direitos culturais – da cultura, como um todo – nas diversas esferas, sejam os campos sociais e culturais, sejam as instâncias de poder público. Quando falamos em transversalidade, falamos nesse sentido. E também transversalidade em relação aos campos de conhecimento presentes na universidade.
É a primeira vez que o Festival de Verão é realizado de forma virtual. Quais as implicações desse formato?
De fato, o impedimento que a pandemia impõe para as atividades presenciais é muito prejudicial para a área das artes e da cultura; perdemos muito com a impossibilidade dos encontros presenciais, da fruição direta de espetáculos musicais, teatrais e de dança. E também pela perda do encontro humano, que é fundamental para o crescimento conjunto. Contudo, tivemos a experiência muito positiva de realizar virtualmente o Festival de Inverno no ano passado. O que percebemos é que o mundo virtual, se bem mobilizado e utilizado, traz também muitos ganhos para a área de cultura, sobretudo no que se refere à ampliação do nosso alcance, do ponto de vista geográfico; o acesso se amplia. Além disso, esse formato possibilita mobilizar parceiros e convidados com mais agilidade. É nessa perspectiva que estamos trabalhando: reconhecemos as condicionantes, mas, ao mesmo tempo, temos tentado fazer com que elas se tornem novas possibilidades de atuação no âmbito da cultura.
Uma pequena parte da programação do Festival não será realizada on-line, mas nas ruas...
Trata-se da mostra Universidade Cidade, uma realização do Espaço do Conhecimento UFMG em parceria com a Secretaria de Cultura de Belo Horizonte. A mostra terá uma programação especial no âmbito do Festival de Verão. Serão projeções noturnas, de 30 minutos, do dia 5 ao dia 10, em territórios da cidade próximos dos centros culturais da Prefeitura e na fachada digital do Espaço do Conhecimento. O objetivo não é criar uma experiência para motivar a reunião de pessoas, mas realizar intervenções audiovisuais que possam ser fruídas pelo público que já esteja próximo delas – ou mesmo de suas casas, das suas janelas, mantendo a segurança pessoal e os cuidados relacionados à pandemia. O trabalho com a mostra foi a maneira que encontramos de realizar uma ação que tivesse caráter de intervenção direta no território e, ao mesmo tempo, buscasse responder a esse desafio que vivemos atualmente, do distanciamento social.
A programação artística do Festival também integra o 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU). Qual a razão da parceria, e como ela se estrutura?
A cultura tem grande importância para a área de extensão. Em quase todas as universidades do país, cultura e extensão estão relacionadas. Também temos trabalhado dessa forma na UFMG. Resolvemos aliar a programação artística do Festival de Verão à programação cultural do congresso, o maior do país na área de extensão. Na verdade, toda a programação do Festival de Verão está, de algum modo, alinhada à temática do congresso, que elegeu os Direitos Humanos como mote para as suas discussões. A temática do Festival – o direito à cultura – é um recorte desse tema maior, os Direitos Humanos.