Estudo do IBGE mostra que 20% das estudantes brasileiras de 13 a 17 anos sofreram abuso sexual
Professora da PUC Minas Paolla Magioni Santini comentou resultados da pesquisa e destacou papel da conscientização no combate à prática
Uma em cada cinco estudantes de 13 a 17 anos já sofreu violência sexual, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados obtidos pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, divulgada neste mês, revelam a presença dos abusos na vida de um significativo número de adolescentes que frequentavam escola no período. Segundo o levantamento, para o qual foram consultados mais de 160 mil estudantes de 13 a 17 anos, 20% das alunas já foram tocadas, manipuladas, beijadas ou tiveram seus corpos expostos contra a própria vontade e 8,8% já foram forçadas ao sexo. Quanto aos alunos, o percentual de vítimas de violência sexual foi de 9%. Entre os principais agressores, 29,1% dos adolescentes apontaram o namorado ou namorada, 24,8% mencionaram amigos, 6,3%, o pai, mãe ou responsável e 16,4% citaram outros familiares. Pessoas desconhecidas correspondem a 20,7% dos agressores.
As informações refletem um cenário pré-pandêmico, que já foi transformado pelo isolamento social. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o maior risco de violência no ambiente doméstico durante a quarentena. Em Minas Gerais, o Observatório de Segurança Pública aponta um aumento do número de registros de casos de abuso contra crianças e adolescentes entre janeiro e maio de 2021 (613) em relação ao mesmo período do ano passado (594).
Para comentar os resultados da pesquisa do IBGE e orientar sobre a prevenção e o combate à violência sexual contra crianças e adolescentes, o programa Conexões dessa quarta-feira, 29, teve como convidada a psicóloga e professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de Caldas, Paolla Magioni Santini. Ela também é pesquisadora da área de prevenção da violência intrafamiliar. Segundo a profissional, elevação de notificações não significa maior número de casos, mas um incremento nas condições de se fazer a denúncia, o que também se aplica ao período de isolamento social, quando há mais dificuldade em pedir ajuda. Outras pessoas que não fazem parte das famílias e, principalmente, os professores nas escolas são fundamentais para identificar sinais de que a criança está sofrendo abuso e contatar os órgãos competentes. Com as crianças mantidas em casa, esse cenário foi drasticamente afetado.
A professora destacou a importância da conscientização social em torno do problema e explicou como o profissional da psicologia pode atuar: na prevenção primária, com campanhas de educação e sensibilização, identificação precoce, ensinando professores a identificar os sinais; na secundária, quando recebe vítimas de abusos considerados mais leves, apesar de ser mais difícil que elas queiram falar nesse estágio; na terciária, que são os casos de abusos mais graves, que precisam de uma equipe multidisciplinar para o tratamento.
Paolla Santini detalhou os sinais que a criança dá quando algo está errado. “É sempre o que ela está apresentando de diferente. A criança que é extrovertida e de repente fica mais quietinha ou uma que é mais introspectiva e de repente fica muito agitada. A criança não gosta de ser tocada ou mostra muito receio de estar perto de certas pessoas. Tem questões emocionais, de ansiedade, de stress, comportamentos autolesivos, de se arranhar, por exemplo, dificuldade de concentração na escola, de se relacionar com os amiguinhos. Ela pode ter pesadelos, problema de sono e para se alimentar. Pode apresentar também conduta sexualizada ou exibicionismo ou então conduta disruptiva, quando ela tem mais hostilidade, agressividade, comportamento desafiador. É quando a gente percebe que tem alguma mudança brusca”, exemplificou. Nesses casos, conforme frisou, é aconselhável buscar a avaliação de um psicólogo.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
A professora Paolla Santini realizou em maio deste ano uma palestra sobre a prevenção ao abuso sexual de crianças e adolescentes na pandemia com a também psicóloga e doutoranda em Psicologia Caroline de Souza. O conteúdo é mais uma oportunidade de se aprofundar no assunto e está disponível no canal da Faculdade de Psicologia da PUC Minas no YouTube.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019 pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Central do IBGE.
Denúncias de suspeitas ou casos de violência sexual contra crianças e adolescentes devem ser feitas nas delegacias e Conselhos Tutelares. O canal Disque 100 também recebe denúncias anônimas e funciona 24 horas por dia.
Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas