Estudo mostra disparidade na expectativa de vida de homens e mulheres na AL
Diferença em BH é de cinco anos a favor das mulheres, indica levantamento que contou com participação da UFMG
Em média, mulheres vivem bem mais do que homens em seis metrópoles latino-americanas – Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Cidade do México (México), Cidade do Panamá (Panamá), São José (Costa Rica) e Belo Horizonte (Brasil) –, segundo estudo realizado pelo projeto Saúde Urbana na América Latina (Salurbal), que conta com participação da Faculdade de Medicina. Essa diferença de expectativa de vida é determinada pelo nível socioeconômico, em especial pelo nível de escolaridade. As conclusões da pesquisa foram publicadas, no mês passado, em artigo na The Lancet Planetary Health.
“Em relação às outras metrópoles do estudo, Belo Horizonte está bem situada, porque a diferença entre a expectativa de vida do homem e da mulher (média de cinco anos) é menor do que em quase todas as outras cidades analisadas”, afirma a professora Waleska Caiafa, que participou do estudo. Apenas São José, capital da Costa Rica apresenta uma diferença menor – média de três anos. Em outras três cidades, as diferenças de expectativa de vida entre mulheres e homens é muito grande: 16 anos na Cidade do Panamá, 11 em Santiago do Chile e nove na Cidade do México.
“Isso significa que os homens estão morrendo muito mais cedo, e isso representa um sério problema demográfico. Sem contar que há muitos casos em que só eles trabalham. Portanto essas mortes precoces comprometem a renda da família”, comenta Caiafa.
O estudo indica o nível médio de educação em cada região da área urbana como determinante para a expectativa de vida de seus moradores. No caso de Belo Horizonte, viver em uma área com maior nível de escolaridade pode implicar uma expectativa de vida maior em quase cinco anos.
No levantamento, a educação foi tomada como marcador para avaliar a relação da expectativa de vida com a questão socioeconômica. Para isso, os pesquisadores consideraram o nível adequado de escolaridade da pessoa aos 25 anos, ou seja, quantos anos de estudo ela acumulou até essa idade em uma região analisada. “Sabe-se que as pessoas estão vivendo mais, então esse é um trabalho importante para avaliar a relação com as desigualdades injustas, ou seja, como as pessoas com mais acesso à educação e melhores condições econômicas têm maior expectativa de vida do que aquelas com menos acesso ou poder econômico”, afirma Waleska Caiaffa.
De acordo com o professor Usama Bilal, da Universidade de Drexel, na Filadélfia (EUA) e primeiro autor do estudo, esta é a primeira vez que se mapeia a magnitude extrema das desigualdades chamadas de injustas, ou iniquidades, em relação à expectativa de vida em várias áreas urbanas de grandes cidades da América Latina. “Trata-se de um primeiro passo fundamental para reduzi-las ou erradicá-las no futuro”, avalia.
BH e região metropolitana
Na avaliação sobre os 21 municípios compreendidos pela Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), verificou-se que a capital tem expectativa de vida mais alta do que os outros municípios próximos, e seus moradores um nível médio superior de escolaridade.
De acordo com a professora Waleska Caiaffa, que coordena o ramo Brasil no Salurbal, há lugares em que a diferença entre a expectativa de vida pode aumentar em sete e oito anos, para mulheres e homens, respectivamente, de acordo com o local onde residem.
Para a professora, a heterogeneidade entre as subáreas (localidades dentro da mesmo região metropolitana) revela desigualdades importantes que comprometem a qualidade de vida da população, ainda que não sejam tão destoantes como em Santiago, no Chile, e na Cidade do Panamá, por exemplo. Em Santiago, a diferença na expectativa de vida entre as subáreas é de quase nove anos (homens) e 18 anos (mulheres).
Ambiente urbano e saúde
O Saúde Urbana na América Latina (Salurbal) é um projeto de pesquisa que tem o objetivo de estudar como as políticas e o ambiente urbano afetam a saúde dos moradores das cidades latino-americanas. Seus resultados servirão de referência para subsidiar futuras políticas e intervenções para tornar as cidades mais saudáveis, equitativas e sustentáveis. O estudo é financiado pela Wellcome Trust.
O artigo e gráficos relacionados também podem ser acessados aqui.