HC integra rede mundial de testes de medicamentos contra a Covid-19
Instituição vinculada à UFMG é a única em Minas a fazer parte da iniciativa ‘Solidarity’, da OMS
Pacientes internados no Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh com Covid-19 serão convidados a participar do estudo clínico que vai analisar a eficácia dos medicamentos hidroxicloroquina/cloroquina, remdesivir, lopinavir/ritonavir monoterapia ou a combinação lopinavir/ritonavir associada ao Interferon beta-1a no combate à doença. A expectativa é que os testes comecem ainda nesta semana, assim que os medicamentos chegarem ao hospital.
Há uma corrida contra o tempo para salvar os pacientes que desenvolvem a forma mais grave da infecção. Por isso, a Solidarity, iniciativa lançada pela Organização Mundial de Saúde há um mês, prioriza pacientes hospitalizados e o teste com medicamentos já conhecidos da comunidade médica. O número de infectados no mundo supera 2,5 milhões de pessoas, e mais de 178 mil mortes foram confirmadas até esta quarta-feira, dia 22, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
O HC/UFMG/Ebserh integra a rede de 18 hospitais de 12 estados brasileiros parceiros da iniciativa – escolhidos por critérios como capacidade instalada, estrutura, experiência em pesquisa clínica e representatividade regional –, que está sendo coordenada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Ficoruz), com apoio do Ministério da Saúde.
“O objetivo do ensaio clínico é contribuir para gerar mais conhecimento sobre a real eficácia ou não desses medicamentos contra a Covid-19 para que eles possam ser usados com mais segurança na população”, resume o infectologista Unaí Tupinambás, que conduzirá o estudo ao lado da também infectologista Helena Duani. Ambos atuam no Serviço de Infectologia do HC e são professores da Faculdade de Medicina.
“Os pacientes com maior vulnerabilidade, que têm mais de 60 anos de idade, doenças respiratórias, diabetes, hipertensão, outras doenças do coração e em tratamento recente de câncer, têm mais chances de evoluir para a forma mais grave da Covid-19. Por isso, também, é importante realizar esse estudo com pacientes hospitalizados, para que os efeitos colaterais, como o da cloroquina, que provoca arritmia cardíaca, sejam acompanhados rigorosamente pela equipe médica”, afirma Tupinambás.
Pesquisa in vitro
Unaí Tupinambás explica que os medicamentos que serão utilizados nesse ensaio são conhecidos pela comunidade médica e apresentaram evidências de ação contra o Sars-Cov-2, em estudos realizados in vitro. “O lopinavir e remdesivir são antivirais que dificultam a multiplicação do vírus já dentro das células. A azitromicina e cloroquina têm mais efeito protetor, anti-inflamatório, ao impedir que o vírus alcance as células do trato respiratório dos pacientes. E o Interferon beta-1a é um imunomodulador, que não atua diretamente no vírus, mas na resposta contra o vírus.”
Segundo o infectologista, os profissionais de saúde também têm larga experiência no manejo dos efeitos colaterais e da toxidade da cloroquina, do lopinavir e da azitromicina. “O lopinavir foi muito usado no tratamento de infecções pelo HIV e ainda é usado em alguns países. A cloroquina é um dos medicamentos mais empregados no mundo para tratamento e profilaxia da malária. E a azitromicina é um antibiótico que combate infecções bacterianas. Além disso, esses medicamentos são de fácil acesso e têm custo baixo, e temos capacidade de produzi-los”, acrescenta.
“O remdesivir, embora de uso mais restrito por ser uma droga testada em pesquisas e ainda não liberada para uso comercial, é um antiviral específico, que foi utilizado no tratamento de outro coronavírus, o Sars, em 2002 e 2003”, relata o professor.
Teste randomizado
No HC, à medida que forem internados, os pacientes serão convidados a participar do estudo randomizado. Por meio de sorteio, aqueles que aceitarem o convite serão encaminhados para um dos três braços da pesquisa: tratamento-padrão (sem uso de medicamentos), tratamento com os antivirais e tratamento com os anti-inflamatórios.
Sem limite de voluntários, o estudo, aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Coep) da UFMG, será desenvolvido durante três meses. Os resultados serão analisados conjuntamente com os de pacientes de outros países participantes da Solidarity. Após alta hospitalar, os pacientes continuarão sendo monitorados para análise dos efeitos colaterais em longo prazo.