Pesquisa e Inovação

Infecção humana controlada é tema de simpósio que une UFMG e Oxford

Modelo usado para o desenvolvimento de vacinas e terapias para doenças não fatais está sendo implantado no Brasil pela equipe do CTVacinas

Pesquisadores do CTVacinas:
Pesquisadores do CTVacinas: estudos de desafio humano ajudam no desenvolvimento de imunizantesFoto: Foca Lisboa | UFMG

A UFMG e a Universidade de Oxford promovem, hoje e amanhã (8 e 9 de agosto), o Simpósio Brasileiro de Infecção Humana Controlada, o primeiro da área no Brasil. O evento, que reúne as maiores autoridades mundiais e brasileiras no tema, visa ao compartilhamento de informações sobre o procedimento e os protocolos para os modelos de infecção humana controlada, também conhecidos como estudos de desafio humano.

O professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e pesquisador do CTVacinas, Helton Santiago, explica que os modelos de infecção humana controlada servem para provocar infecções propositais nos indivíduos com o intuito de acelerar o desenvolvimento de vacinas, medicamentos e soluções para problemas de saúde pública. 

“Trata-se de provocar uma infecção intencional no organismo, ou seja, nós infectamos a pessoa intencionalmente para estudar uma doença ou acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas para essa doença. A Inglaterra fez isso com o Sars-CoV-2 para desenvolver novas formas de diagnóstico e terapias para a covid-19”, conta Santiago.

Os modelos de infecção humana controlada, apesar de já serem amplamente utilizados em vários países, nunca foram realizados no Brasil. A equipe do CTVacinas está na fase de aprovação para que a metodologia seja aplicada em testes com o verme causador da ancilostomose, doença mais conhecida como ‘amarelão’. 

Helton: iniciativa desenvolveu plataforma que pode ser usada no desenvolvimento de outras vacinas
Helton: estudos para vacina contra o 'amarelão' Foto: Divulgação

“Nossa intenção é fazer esse modelo com o parasita causador do amarelão ainda neste ano, pois queremos testar duas vacinas que estão sendo desenvolvidas para tratar a doença em parceria com as Universidades Baylor e George Washington, dos Estados Unidos. Uganda já fez esse protocolo para testar tratamentos para a esquistossomose, mas os estudos de desafio humano ainda são inéditos no Brasil”, diz o professor.

Avanço para o estudo com novas doenças
Helton Santiago acrescenta que o uso do modelo para estudar a ancilostomose possibilitará que o país avance no uso da metodologia para o desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. Ele cita o Vivax, imunizante contra a malária que está sendo desenvolvido pelo CTVacinas em parceria com a Universidade de São Paulo (USP).  

“Vamos estabelecer esse modelo para testar a vacina para o amarelão e, no futuro, para uma vacina brasileira contra a malária. Hoje, nenhuma vacina de malária segue para estudos de fase 3 em humanos sem passar por testes de infecção controlada. Queremos, já no ano que vem, testar a Vivax, que será a primeira vacina contra a malária nacional a chegar na fase de testes clínicos.” 

Para serem aprovados, os procedimentos de infecção controlada devem seguir rigorosos princípios técnicos, científicos e éticos, como garantia de segurança. As infecções intencionais só podem ser feitas com doenças não fatais, que já disponham de tratamentos eficazes e não tragam prejuízo permanente. 

Simpósio
Na UFMG, o comitê organizador do simpósio reúne os pesquisadores do CTVacinas Helton Santiago (coordenador dos testes clínicos da SpiN-TEC, primeira vacina 100% nacional contra a covid-19), Ana Terzian e Jacqueline Fiúza, também pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

O público-alvo do simpósio abrange pesquisadores clínicos, desenvolvedores de vacinas e membros de comitês de ética em pesquisa, entre outros interessados. A programação do evento, que terá lugar no CAD 2, no campus Pampulha, será aberta nesta quinta-feira, dia 8, às 9h.

Luana Macieira