'Lésbia', clássico da literatura feminina do século 19, é relançado em versão atualizada
Livro foi lançado por Maria Benedita Bormann em 1890 e acompanha a protagonista Arabela, personagem que busca a própria independência, recusando o lugar reservado às mulheres na época
Na virada dos séculos 19 e 20, período marcado pela Belle Époque, a maioria das mulheres era obrigada a se conformar com o papel de dona de casa ou de mãe. Mas não foram todas que aceitaram essa imposição. Uma delas foi a escritora gaúcha Maria Benedita Bormann, que publicou, em 1890, o romance Lésbia, sob o pseudônimo Délia.
O livro repercutiu de forma polêmica por abordar temas considerados tabu para a época, como o divórcio, o abuso doméstico, as deficiências da educação fornecida às mulheres e o prazer feminino. Ao longo da história, acompanhamos a protagonista Arabela, uma jovem que supera a experiência de um casamento repressivo e passa a se destacar como escritora, em uma jornada de emancipação, independência e realização amorosa.
Recentemente, Lésbia recebeu uma nova edição, revisada e atualizada, com comentários da professora Maria do Rosário Pereira, doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. Nessa quarta-feira, 24, Maria do Rosário participou do programa Universo Literário, apresentado por Michelle Bruck, e deu mais detalhes sobre essa reedição.
A docente afirmou que, na época, apenas mulheres de famílias abastadas conseguiam ir além de uma vida doméstica e, mesmo assim, eram poucas. Bormann foi uma delas e começou a publicar capítulos de romance em jornais, no formato folhetim, que era usado na época. A pesquisadora também traçou uma cronologia da atuação feminina na imprensa no século 19, algumas delas até editando jornais, e explicou como a narrativa de Lésbia está relacionada com a vida da própria autora. A representação da protagonista causou polêmica porque o que mais havia nos livros era a visão da mulher sob a perspectiva do homem.
"As representações femininas na literatura eram sempre um tanto quanto estereotipadas. Se a gente pega a tradição romântica no Brasil, por exemplo, a partir dos principais autores do movimento, nós observamos sempre uma ótica masculina. Pensando no século 19, há sempre a ideia do amor romântico, que está ligado a um projeto de nação, e o papel atribuído à mulher é de um lugar nulo no que se refere às decisões políticas e à participação social. Mas quando a gente coloca em cheque a literatura produzida por mulheres nesse período, as representações são bem diferentes", explicou a professora. Nesse sentido, Maria do Rosário também analisou a relação da obra de Maria Benedita Bormann com a de outras escritoras femininas da época, como Emília Freitas e Ignez Sabino, que abordam pautas similares através de seus livros.
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A nova edição de Lésbia, de Maria Benedita Bormann, é publicada pela 106 Editora. O livro já está disponível em livrarias físicas e digitais, assim como no site da editora.
Produção: Alexandre Miranda e Nicolle Teixeira, sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória
Publicação: Carlos Ortega, sob orientação de Alessandra Dantas