Morre o professor emérito Célio Garcia, um dos precursores da psicologia social no Brasil
Psicanalista, aposentado da UFMG desde 1993, Garcia tinha 89 anos
Morreu na última quarta-feira, 29, aos 89 anos, o professor emérito Célio Garcia, um dos precursores da psicossociologia no Brasil. Ele se aposentou da UFMG em 1993, depois de quase três décadas de docência. Garcia sofria de Mal de Parkinson há vários anos.
Textos de caráter biográfico destacam a articulação que Célio Garcia estabeleceu entre os campos da psicologia e da saúde e a elaboração de metodologias de trabalho com grupos. Na UFMG, formou diversos psicossociólogos e contribuiu para o desenvolvimento de estudos sobre a psicologia da educação e a psicanálise. Garcia foi vinculado também à Escola Brasileira de Psicanálise.
O também professor aposentado da Fafich Jésus Santiago ressalta a proximidade de Célio Garcia com as principais formulações contemporâneas na psicanálise e na filosofia. “Ele viajava anualmente à França, onde frequentava os ambientes acadêmicos. Contribuiu ativamente para a vinda ao Brasil e à UFMG de nomes como Michel Foucault”, comenta Santiago, lembrando também que Garcia era um intelectual “rigoroso e conciso” e que foi um dos pioneiros na aplicação da psicanálise às questões sociais.
Ex-aluna e ex-colega de Célio Garcia no Departamento de Psicologia, a professora Regina Helena Freitas Campos, hoje na Faculdade de Educação, recorda que ele frequentou os seminários de Jacques Lacan, na França, e trouxe esse conhecimento em primeira mão para o Brasil. “Célio foi e será por muito tempo uma referência para os estudos sobre psicanálise e psicologia social. Mantinha uma rede internacional muito ativa. Era uma pessoa amabilíssima, acolhedora. Mantive sempre contato com o Célio, que era um grande orientador acadêmico e profissional”, ela diz.
Trajetória
Nascido em 10 de agosto de 1930, em Fortaleza, Célio Garcia formou-se bacharel em Letras na Faculdade Católica de Filosofia do Ceará, graduou-se em Psicologia pela Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne, França) e fez o doutorado em Psicologia na UFMG. Depois de longa temporada na França, em que se especializou em psicologia social e em psicopatologia, Garcia foi assessor de pesquisa em educação sanitária no Ministério da Saúde.
Na UFMG, atuou nos departamentos de Psicologia e Filosofia. Criou e coordenou o programa de coordenação científica e cultural Brasil-França, que envolveu os dois departamentos.
Célio Garcia publicou oito livros e coorganizou outros dois. Em Clínica do social (1997), formulou nova modalidade da prática da política de saúde, que foca a atenção na subjetividade do indivíduo. Também se destacam as obras Psicanálise, política e lógica (1995), Psicanálise do brasileiro (1997) e Psicanálise, psicologia, psiquiatria e saúde mental: interfaces (2002).
Foi homenageado pela Prefeitura de Belo Horizonte, pela Escola de Saúde de Minas Gerais e pelo Conselho Regional de Psicologia da 4ª Região (MG), entre outras entidades.
Família
Célio Garcia deixa a companheira, Andreia Gontijo Álvares, e a filha Gabriela. Rodrigo, o outro filho com a primeira mulher, Angelina, morreu na década de 1980.
Andreia Álvares lembra que Célio foi ativo profissionalmente até os 83 anos, quando, em razão da doença, se viu impedido de continuar. “Ele foi um grande intelectual e um trabalhador incansável, com uma grande preocupação política e social”, ela disse.