Sonhos e expectativas levam milhares de jovens à Mostra das Profissões
Caráter inclusivo foi um dos destaques do evento realizado neste sábado
Tão amplos quanto a gama de cursos de graduação da UFMG – 75 – são os sonhos e expectativas que levaram cerca de 40 mil estudantes do ensino médio ao campus Pampulha, neste sábado, 16, para assistir a 152 palestras e visitar 71 salas interativas oferecidas pela Mostra das Profissões.
As estudantes Lorena Moura, Ana Elisa e Camila Fernandes, da Escola Nossa Senhora de Lourdes, de Governador Valadares, querem cursar medicina. E o motivo que o trio alegou para justificar a escolha passa mais pelo altruísmo do que por dinheiro ou sucesso. “No sexto ano do ensino fundamental, conheci uma menina que teve uma doença grave e acabou falecendo. Esse fato me marcou muito e fortaleceu a minha vontade de cursar medicina”, revelou Lorena.
No caso de Júlia Galo, estudante do ensino médio em São João Del Rey, a escolha profissional está associada a um processo de superação de problemas pessoais. “Tanto o desenho quanto a escrita foram armas muito importantes no combate à depressão e à ansiedade”, contou a estudante, interessada nos cursos de jornalismo e de artes visuais.
Acompanhada da amiga Yasmim Haddad, aspirante ao curso de medicina, Júlia quer manter as atividades que ajudaram a acalmá-la no período de tormenta. “Acabei me encontrando nas artes, o que foi muito importante para mim. Quero seguir o caminho e acho que vou conseguir me encaixar nesse meio”, disse.
Decididos a cursar educação física, os estudantes do terceiro ano do ensino médio, Yuri Daniel e Mateus Moreira, da Escola Deputado Simão da Cunha, em Contagem, confirmaram suas expectativas sobre o curso. Os dois relataram que a paixão pelos esportes e a vontade de ensinar foram determinantes na escolha. “Há dois anos tive aulas com um professor que me influenciou muito pelo modo de lidar com os alunos e a didática que apresentava na sala de aula. Foi ele que recomendou que viéssemos à Mostra”, explicou Yuri.
Enquanto alguns estudantes parecem certos sobre a carreira que pretendem seguir e veem a Mostra como uma forma de ratificar a escolha, outros ainda se sentem inseguros em relação ao caminho a percorrer. Para Camila Inácio, aluna do terceiro ano da Escola Alberto Giovannini, de Coronel Fabriciano, a Mostra das Profissões foi importante para descartar sua primeira opção, o curso de medicina veterinária. “No ensino médio você tem uma ideia das coisas, mas, ao chegar à faculdade, tudo pode ser completamente diferente do imaginado. Por isso, é muito importante entender melhor como funcionam os cursos na prática”, argumentou.
Inclusão
A inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência também foi destaque nesta edição da Mostra das Profissões, que contou com estandes montados pelo Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) em todos os prédios onde ocorriam as atividades. Neste ano, inscreveram-se 77 pessoas com três tipos de deficiência: auditiva (28 pessoas), motora (27 pessoas) e visual (22 pessoas).
A intérprete de libras e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, Regiane Lucas, percorreu salas interativas e auditórios com um grupo de 14 estudantes surdos da Escola Estadual Maurício Murgel, de Belo Horizonte. O grupo faz parte de projeto coordenado pela professora em que alunos do Departamento de Comunicação Social investigam a acessibilidade de produtos de comunicação pública.
“Hoje, aqui na Mostra, estamos desenvolvendo a terceira etapa desse projeto. A primeira foi mapear todos os alunos com deficiência das escolas públicas estaduais de Minas Gerais. Depois, fizemos um levantamento dos produtos de comunicação da universidade e estruturamos um grupo focal com os alunos surdos, para que indicassem se eles são acessíveis ou não. Essa etapa ocorreu na Mostra das Profissões do ano passado”, contou.
A professora explicou que o grupo de pesquisa constatou que, ao mesmo tempo que a Mostra é um evento acessível, uma vez que conta com intérpretes, os produtos do evento ainda deixam a desejar em alguns aspectos. “A maioria dos seus produtos, como cartazes e sites, não são acessíveis. Por isso, vimos a necessidade de discutir o lugar do surdo na universidade, se ele se enxergava aqui", explicou Regiane.
O grupo concluiu que os surdos não se viam como possíveis alunos da Universidade, apesar de se considerarem capazes de ingressar no ensino superior. Thales Yuri, aluno surdo do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Maurício Murgel, tinha essa percepção até participar da mostra inclusiva. “É a minha primeira vez na Mostra e estou encantado com a Universidade e com a quantidade de cursos que ela oferece. Antigamente, era difícil encontrar intérpretes nos locais, e agora percebemos que há um interesse da Universidade em nos receber. Estou começando a ver que posso me tornar aluno da UFMG. Estou muito feliz”, disse ele, que se interessa por legislação e pretende cursar Direito.
Marcelo Souza, intérprete de libras do NAI, destacou o aumento de participantes da mostra inclusiva. “A universidade está cumprindo seu papel de tornar o conhecimento acessível a todos. A presença de mais pessoas com algum tipo de deficiência na Mostra indica que elas estão cada vez mais inseridas no contexto universitário”, opinou.
No imaginário
Segundo o pró-reitor de Graduação, Ricardo Takahashi, a Mostra das Profissões já ocupa lugar de destaque no calendário acadêmico da Universidade e desempenha papel importante até mesmo para os alunos que não conseguirão ingressar na UFMG. “O evento cria a perspectiva do ensino superior no imaginário dos jovens, e isso é fundamental para eles. Estamos prestando um serviço para a sociedade, fortalecendo a ideia de que o conhecimento é importante”, explicou.
Takahashi destacou que a Mostra também amplia o leque de opções dos alunos do ensino médio. “Notamos que os jovens que frequentam a Mostra geralmente só conhecem os cursos de engenharia, medicina e direito. Aqui, eles acabam descobrindo um universo de outras profissões que abrem as portas para carreiras interessantíssimas e com importante inserção social", disse Takahashi.
A infraestrutura que recebeu os visitantes contou com equipe formada por mais de duas mil pessoas – 300 docentes e servidores técnico-administrativos e 1.720 estudantes de graduação. Foram disponibilizados rede sem fio, sinalização específica das ruas e prédios, definição de estacionamento e de vias de trajeto, banheiros químicos, restaurantes e food trucks.