Novo diretor da Escola de Música promete dedicação para vencer desafios
Renato Sampaio e Carlos Aleixo comandarão a Unidade nos próximos quatro anos
Uma unidade bem instalada, com importantes projetos executados e em andamento e fortes vínculos com a sociedade. Esse é o estágio em que se encontra a Escola de Música da UFMG, na visão do seu novo diretor, o professor Renato Tocantins Sampaio, que tomou posse nesta quinta-feira, dia 9, em cerimônia realizada no auditório da Unidade. “Isso é resultado de um árduo trabalho realizado pela direção que se encerra e pelas anteriores, ao lado de toda uma equipe de docentes e técnicos-administrativos em educação”, reconheceu Sampaio, que vai conduzir a Escola nos próximos quatro anos ao lado do professor Carlos Aleixo, empossado como vice-diretor.
“Carlos e eu chegamos à direção da Escola de Música cientes das grandes responsabilidades e expectativas depositadas em nosso trabalho”, afirmou o novo diretor. Em seu discurso, ele reafirmou as principais linhas que vão orientar sua gestão. “Nossa proposta pauta-se no diálogo, na construção coletiva, na busca de uma convivência harmoniosa, no compromisso e no engajamento. Temos plena consciência de que enfrentaremos um momento delicado, de incertezas políticas e financeiras, mas confiamos que o diálogo, o trabalho em equipe e a competência que temos em nossos docentes e técnicos podem favorecer soluções criativas e eficazes”, disse ele, que não prometeu resultados, mas garantiu que não faltarão “dedicação, afinco e determinação para obtê-los”.
Perfil inquieto
Docente de trajetória relativamente recente na UFMG, onde ingressou em 2010, Renato Sampaio fez um breve balanço da sua atuação na instituição. Com formação em musicoterapia, ele disse que, em razão de ter um “perfil um tanto inquieto, curioso e talvez até transgressor”, buscou ultrapassar os limites das unidades acadêmicas e de guetos disciplinares para estabelecer relações de trabalho e de construção transdisciplinar de conhecimento. “Meu doutoramento no Programa de Neurociências desta Universidade, de 2011 a 2015, abriu-me ainda mais as portas para o contato com outras unidades acadêmicas, com profissionais e pesquisadores das mais diversas áreas de atuação. Sou muito grato à calorosa e acolhedora recepção que sempre tive em todos os lugares", disse.
Encarregada de saudar os novos diretor e vice-diretor, a professora Cybelle Loureiro, também musicoterapeuta, realçou o perfil transdisciplinar do professor Renato Sampaio ao lembrar que ele chegou a fazer três anos do curso de engenharia elétrica na USP – “quase o perdemos para a engenharia” – e seu trânsito acadêmico em outras unidades da UFMG. Sampaio é professor da especialização em Transtorno do Espectro do Autismo, da Fafich, e da especialização em Neurociências do ICB, onde também colabora com o Programa de Pós-graduação em Neurociências.
Cybelle Loureiro revelou ter conhecido Renato Sampaio em 2001, quando ambos trabalharam na organização do Encontro da Associação Nacional de Pesquisa em Música (Anppom), sediado na Escola, e ficou impressionada com sua capacidade de organização. Por isso, sentiu-se “tranquilizada” quando ele se candidatou, em 2011, ao cargo de professor de Musicoterapia na Unidade. “Pessoa carismática, foi abrindo espaços aqui na UFMG, ministrando aulas em vários setores e orientando trabalhos nas áreas de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Neurociências e tantas outras”, destacou, antes de citar outra realização acadêmica do professor Sampaio: o Laboratório de Musicoterapia, criado em 2012 e que desenvolve trabalhos de pesquisa, ensino e extensão. Sua visibilidade, destacou a professora, é tão grande que o laboratório tem hoje uma lista de espera de 400 pacientes.
Sobre o professor Carlos Aleixo, Cybelle Loureiro ressaltou que ele era o chefe do Departamento de Instrumentos e Cantos quando ela e o professor Renato Sampaio ingressaram na UFMG. “Ele nos apoiou em tudo”, sublinhou. E também destacou a carreira acadêmica e de músico do professor Aleixo, reconhecido internacionalmente como instrumentista e professor de viola.
Empatia e diálogo
Em seu discurso de despedida como diretora, a professora Mônica Pedrosa de Pádua fez um balanço de seu mandato, que transcorreu, segundo ela, em um período de tensão político-econômica, com forte repercussão sobre o funcionamento da Universidade. “Esse quadro demandou postura firme, cuidadoso planejamento financeiro e capacidade de negociação. Procuramos agir com abertura, com o olhar para o outro, empatia e diálogo”, resumiu.
Ainda assim, a gestão que se encerra apresentou um elenco robusto de realizações. Na área de recursos humanos, por exemplo, Mônica Pedrosa citou a promoção de discussões internas para a definição dos vários perfis dos docentes da Escola de Música, que resultaram na elaboração de resolução com critérios de avaliação e progressão.
A expansão do quadro de pessoal também marcou a sua gestão. O número de professores passou de 58 para 72, o que, segundo ela, “reduziu sua sobrecarga de trabalho e propiciou espaço para o crescimento de suas carreiras”. No caso dos servidores técnico-administrativos, a unidade recebeu 22 novos profissionais que foram alocados em áreas vitais e específicas da Unidade, como correpetição, afinação de pianos, audiovisual e musicalização infantil.
Mônica Pedrosa também elencou avanços nas áreas de gestão administrativa, relacionamento com estudantes, infraestrutura e acadêmico-pedagógica. Nesta última, o destaque, em sua avaliação, foram as “ações para valorizar o professor artista e promover a visibilidade da produção intelectual na Escola de Música”.
Mônica Pedrosa e sua vice, Cecília Nazaré de Lima, foram homenageadas pela professora Patrícia Furst Santiago. Emocionada, ela recorreu a uma citação do poeta místico alemão Ângelus Silésius – “temos dois olhos. Com um, vemos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro, vemos as coisas da alma, eternas, que desaparecem” – para enaltecer a gestão da dupla. “Tudo que elas realizaram em todos esses anos foi por amor à Escola, a seus alunos, aos colegas, ao nosso futuro. Tudo foi feito para que pudéssemos ter um futuro melhor”, agradeceu.
Aposta em um país soberano
No encerramento da cerimônia, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida agradeceu a Mônica e Cecilia, a quem definiu como uma “dupla dinâmica e harmônica” pela dedicação à instituição nos últimos quatro anos. “A UFMG reconhece em vocês duas os melhores traços de sua tradição de gestão: habilidade no trato de questões espinhosas, espírito de cooperação, comprometimento com os ideais mais nobres da instituição e flexibilidade para ajudar a formular soluções para tantos dilemas de dimensão institucional”, enumerou.
Ao dar boas-vindas aos professores Renato Sampaio e Carlos Aleixo, a reitora garantiu: “Estaremos juntos por um longo período e, temos certeza, trabalharemos de forma integrada para construir a UFMG e a Escola de Música que queremos para a nossa comunidade e para as gerações vindouras”.
Em seu pronunciamento à comunidade da Escola de Música, Sandra Goulart Almeida também abordou a crise institucional e as dificuldades orçamentárias. A mais nova ameaça reside na possibilidade de veto presidencial à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2019, aprovada pela Congresso Nacional, que mantém os valores orçamentários para a educação. Segundo ela, a medida trará “impactos gravíssimos” para a educação, a cultura, a ciência e a tecnologia. "O teto constitucional dos gastos públicos, que esta universidade se orgulha de haver combatido no momento em que a sociedade tinha pouca clareza sobre o seu significado, ameaça a sobrevivência das instituições públicas e a execução de políticas imprescindíveis para fazer deste um país mais justo, equânime e democrático", alertou.
De acordo com a reitora, a UFMG aposta em outra direção. “A aposta é no desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social. A aposta é em um país soberano, próspero, de cidadãs e cidadãos livres e iguais”, defendeu Sandra Goulart Almeida.