Obra da Fale traz dados sociais a partir da pontuação e uso de abreviaturas em textos do séc. 18
‘A Mão e a Pena: Pistas Gráficas e Sociais’ foi escrito por doutorandas do Poslin e pela diretora da Faculdade de Letras da UFMG
A linguagem é um recurso vivo, multifacetado e essencial para o nosso desenvolvimento. Mas já parou para refletir como esse recurso evolui? Em A Mão e a Pena: Pistas Gráficas e Sociais, as doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG Shirlene Ferreira Coelho e Vivian Canella Seixas e a professora e diretora da Faculdade de Letras da Universidade, Sueli Maria Coelho, se uniram para investigar os escreventes de manuscritos do passado, que muitas vezes tinham pouco domínio da língua portuguesa e de suas normas. O livro busca características sociais dos escribas a partir de dois aspectos: o uso de abreviaturas e da pontuação.
A professora e diretora da Fale UFMG, Sueli Maria Coelho, concedeu entrevista ao programa Universo Literário desta sexta, 11, abordando os principais aspectos da obra. A docente explicou que as autoras do livro desenvolveram uma metodologia de pesquisa que permitiu a inferência de dados sociolinguísticos a partir de pistas gráficas deixadas nos textos, todos do século 18. “Tentamos explorar a hipótese de que a norma padrão do período poderia nos ajudar a inferir informações sociais do escriba. Por exemplo, se ele segue ou não a norma, seria possível saber se ele era ou não um falante escolarizado porque existem determinados recursos de norma que não são adquiridos sem uma instrução formal”, detalhou.
Sueli Maria Coelho destacou que, além de observarem a adesão à norma na pontuação e uso de abreviaturas, foram recuperadas informações a partir da história social do falante. “Se a gente sabe que era um falante escolarizado e que o documento não era assinado, muito provavelmente esse documento não era de uma mulher porque, no período, as mulheres tinham pouco acesso à escolarização. Escolhemos também a questão da profissão, os dados nos permitem identificar a ocupação do falante porque muitas profissões também estão mais vinculadas a maior ou menor escolaridade e também ao nível socioeconômico”, afirmou.
A diretora da Fale também comentou sobre as diferenças de normas de abreviação no século 18 e nos dias atuais. Naquela época, segundo revelou, os recursos eram mais sofisticados, haviam marcas de gênero, de número, a sobrescrição e outros que não são mais usados, até mesmo pela forte presença do celular como ferramenta de escrita na atualidade. A professora ainda destacou a diferença entre alfabetização, ligada à simples decodificação de um texto, e letramento, que tende a evoluir com o tempo, quanto mais se tem domínio da língua escrita.
O livro A Mão e a Pena: Pistas Gráficas e Sociais, de Shirlene Ferreira Coelho, Vivian Canella Seixas e Sueli Maria Coelho, está disponível para acesso gratuito no site da Faculdade de Letras da UFMG.
Produção: Carlos Ortega e Marden Ferreira, sob orientação de Luiza Glória e Hugo Rafael
Publicação: Alessandra Dantas