Obra ‘Geografia da fome’ completa 75 anos em meio a agravamento da insegurança alimentar no país
Professor Fabio Tozi, do Instituto de Geociências da UFMG, foi o convidado do programa Conexões, para falar da obra e a atualidade das reflexões propostas por Josué de Castro
Há 75 anos, em 1946, o médico, geógrafo, nutrólogo, professor, cientista social e escritor Josué de Castro publicava o livro que lhe trouxe fama internacional. Na obra Geografia da fome, ele trata das origens sociais, políticas e econômicas da fome no Brasil. Durante toda a vida, Josué de Castro lutou contra a naturalização da fome no país e defendeu que a questão não era a falta de recursos, mas a má distribuição. Ele participou ativamente da criação e da consolidação da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, como organismo internacional de combate à fome. Há oito anos, a organização declarava que o Brasil havia eliminado a fome. Hoje, o crescimento acentuado da insegurança alimentar no país, ao mesmo tempo que bate recordes de produção, sugere que as raízes do livro Geografia da fome estão vivas.
De acordo com dados publicados recentemente pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PenSSAN), no fim de 2020 a insegurança alimentar atingia 116,8 milhões de brasileiros. Em um momento de crise intensa, aprofundada pela covid-19, a agropecuária é o único setor que cresceu durante a pandemia, de acordo com o IBGE. Diante desse quadro, a memória do pensamento de Josué de Castro se faz ainda mais presente, num contexto em que o cenário mundial revela a potencial fragilidade de um modelo econômico assentado na globalização, e isso em um país que, apesar de muito rico em termos agrícolas, tem mais da metade da população sofrendo com algum grau de insegurança alimentar.
Nesta quinta-feira, 22, o professor Fabio Tozi, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG (IGC), foi o convidado do programa Conexões, para falar sobre os 75 anos da obra Geografia da Fome e da atualidade das reflexões de Josué de Castro, em meio a um cenário de aumento da insegurança alimentar da população brasileira.