Pesquisador da UFMG explica as consequências neurofisiológicas do isolamento social
Doutor em fisiologia esclarece que o sentimento de fadiga neste período é comum e faz recomendações para evitarmos danos à saúde mental
Passados mais de cem dias desde o início das medidas coletivas de distanciamento social no Brasil, em decorrência da pandemia provocada pelo novo coronavírus, até as mesmo as pessoas que estavam comprometidas com o isolamento desde o início começam a dar sinais de fadiga. Em todo o país, frequentemente temos visto a retomada da movimentação em ruas, shoppings, praias e espaços de lazer. Mas, longe de estar controlada, a curva de casos da Covid-19 segue ascendente.
Em Minas Gerais, o pico da doença ainda está previsto para meados de julho. Com a ocupação de leitos hospitalares perto da capacidade total, a possibilidade de lockdown, com o fechamento inclusive de serviços essenciais, não foi descartada pelo prefeito Belo Horizonte, Alexandre Kalil. A medida chegou a ser mencionada também pelo governador Romeu Zema. Diante desse cenário, a Rádio UFMG Educativa entrevistou o biomédico e doutor em Fisiologia pela UFMG Leonardo Guarnieri, para entender os efeitos do isolamento social no nosso organismo e saber o que podemos fazer para não relaxar com os cuidados e seguirmos firmes na chamada quarentena.
Guarnieri é residente pós doutoral no Núcleo de Neurociências, ligado ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e desenvolveu o trabalho “Efeitos neurofisiológicos do isolamento social: do processamento olfativo ao comportamento emocional e cognitivo” como tese de doutorado, defendido em 2017 no Programa Pós-Graduação em Ciências Biológicas: Fisiologia e Farmacologia - UFMG. O pesquisador falou ao programa Conexões sobre os efeitos do isolamento percebidos durante o estudo: “Ao realizar testes com camundongos, observamos que eles demonstraram um aumento de características do tipo depressivas e ansiosas após passarem pelo período de isolamento de uma semana”, explica Guarnieri. “Assim como os camundongos, os seres humanos também são seres sociais, então fatores semelhantes podem ocorrer com a nossa espécie”, observa o pesquisador.
No contexto da pandemia de Covid-19, Leonardo Guarnieri defende a necessidade do isolamento social: “Com 1 milhão e 200 mil casos confirmados da doença e mais de 50 mil mortes, o distanciamento social é urgente para que a gente possa minimizar o espalhamento do vírus. Mas não podemos esquecer dos efeitos que o isolamento em si causa no nosso organismo.” Segundo o pesquisador, “é possível que pessoas apresentem maiores índices de depressão e ansiedade nesse período, não só pelo distanciamento, mas pelo contexto da pandemia e das incertezas que nos rodeiam”. Por isso, para Guarnieri, é necessário que todos se mantenham atentos para evitar grandes danos à saúde mental durante esse momento.
Amenizando os impactos negativos
Durante entrevista ao programa Conexões, o pesquisador da UFMG Leonardo Guarnieri também deu dicas aos ouvintes para que o momento de distanciamento não seja tão pesado: “É importante que nos mantenhamos ativos mesmo dentro de casa, busquemos desenvolver ou aplicar nossas habilidades e façamos algum tipo de exercício físico. Já que o estímulo social está sendo barrado pela quarentena, é necessário buscar outros tipos de atividades estimulantes”, destaca o pesquisador, que também chama a atenção para a necessidade de manter uma rotina, com horários bem definidos de sono e trabalho.
Guarnieri também alerta para o papel das tecnologias e redes sociais para nos manter conectados com o mundo: “Embora não supram a nossa necessidade de contato humano, essas ferramentas auxiliam a reduzir a solidão porque encontramos pessoas com as quais nos identificamos e que estão enfrentando as mesmas dificuldades que nós. Assim, nos percebemos menos sozinhos”, explica o pesquisador. Mas, quando nenhuma dessas recomendações é suficiente para melhorar a qualidade de vida durante a pandemia e a pessoa se percebe muito afetada pelos efeitos negativos do isolamento, talvez seja hora de recorrer à ajuda profissional, como lembra o pesquisador: “muitos psicólogos e psiquiatras estão realizando atendimentos remotos e é importante buscar ajuda desses profissionais, para que a situação não evolua para casos sérios de depressão e ansiedade”, afirma.
Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, o pesquisador Leonardo Guarnieri também abordou as principais dificuldades do isolamento social e os papéis da interação física para seres humanos.
Atualmente, Leonardo Guarnieri é Residente pós doutoral no Núcleo de Neurociências, Departamento de Fisiologia e Biofísica ligado ao ICB. Leia aqui sobre seu recente artigo que investiga o uso de fluoxetina gerando melhorias em perda de memória causada por depressão.