Pesquisador francês aborda diagnóstico de pressão intracraniana por meio de teste audiológico
Tema será abordado em palestra na Faculdade de Medicina da UFMG
A exploração da cóclea e das vias auditivas pode ser um caminho seguro e não invasivo para monitorar a pressão intracraniana (ICP) de pacientes saudáveis, defende o físico, médico e doutor em biofísica Paul Avano, que fará palestra sobre o tema nesta quarta-feira, 6, na Faculdade de Medicina.
O monitoramento de ICP é importante não apenas em pacientes comatosos com lesão cerebral aguda, mas também em viajantes espaciais, alpinistas e parapentistas de alta altitude.
Avan, que é professor da Escola de Medicina da Universidade Clermont-Auvergne (França), é convidado do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT). A conferência An ear to intracranial pressure, from neurology to high altitude and space travel: the data without the headache será realizada a partir das 16h30, na sala 062 da Faculdade de Medicina.
A atividade é aberta ao público, com vagas limitadas à capacidade da sala. Haverá emissão de certificado de participação para alunos da UFMG.
Monitoramento on-line
O método de monitoramento da ICP proposto por Paul Avan difere completamente das formas invasivas – punção lombar e detectores de pressão intraventriculares ou intraparenquimatosas – utilizadas atualmente.
Os ensaios clínicos conduzidos pelo pesquisador francês baseiam-se nas comunicações entre o líquido cefalorraquidiano (que envolve o cérebro) e os compartimentos do fluido interno do ouvido, por meio de pequenos canais do osso temporal.
Dessa forma, explica Avan em sinopse da palestra, “qualquer alteração no ICP é transmitida para o ouvido interno, onde modula suas propriedades mecânicas, de uma maneira muito sensível”. O professor francês utiliza pequena sonda equipada com fone de ouvido para monitorar a função da orelha (testes audiológicos de rotina), o que possibilita que as mudanças de ICP sejam medidas com alta precisão.
O pesquisador explica que os frágeis tecidos do cérebro são protegidos pela estrutura rígida do crânio e por uma camada de líquido cefalorraquidiano que amortece choques e transporta nutrientes. “Seu volume de trocas é muito alto, várias centenas de ml/dia, e sua pressão deve ser rigorosamente controlada. Quando excede 20 mmHg, os tecidos cerebrais correm o risco de ser comprimidos até o ponto em que o sangue arterial pode não oxigená-los adequadamente, na ausência de autorregulação”, informa.
Os níveis de ICP são, portanto, importantes parâmetros que devem ser monitorados em pacientes comatosos com lesão cerebral aguda e em casos de síndrome de adaptação espacial e de doença de montanha. Os métodos invasivos, embora perfeitamente justificados em casos agudos, “são arriscados e requerem um ambiente especializado, encontrado apenas em neurocirurgia ou unidade de cuidados intensivos”, alerta Avan.
Ele ressalta ainda que, em pacientes com condições crônicas e sobretudo em indivíduos saudáveis, "o acesso invasivo ao ICP raramente é tentado, muito menos repetido”, sendo o ICP inferido apenas por meio de sinais clínicos, método que ele considera "pouco sensível e dificilmente confiável".
Na opinião de Paul Avan, o monitoramento pelo ouvido pode contribuir "para explorar novas fronteiras para os aventureiros, além de proporcionar aos pacientes neurológicos um seguimento melhorado e menos doloroso".