Pesquisadores vão medir presença do coronavírus nos esgotos de BH e de outras cinco capitais
Rede de monitoramento aproveita experiência de projeto-piloto que durou 12 meses e foi coordenado por professores da Escola de Engenharia da UFMG
Ao longo de um ano, professores e pesquisadores da Escola de Engenharia da UFMG coordenaram um projeto-piloto que monitorou a presença do novo coronavírus no sistema de esgotamento sanitário de Belo Horizonte e Contagem. Os resultados consistentes desse trabalho e a comprovação de que se trata de importante ferramenta de vigilância epidemiológica estimularam a expansão do projeto para outras capitais brasileiras. Nesta sexta-feira, 16, foi lançada a Rede de Monitoramento Covid Esgotos, formada por Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba.
Com base na carga viral medida em trilhões de cópias do novo coronavírus por dia, é possível estimar a população contaminada, que elimina o vírus pelas fezes e urina. “A medição periódica da presença de material genético do Sars-Cov-2 nos esgotos subsidia as autoridades de saúde e é capaz de gerar alertas precoces sobre tendências de agravamento da pandemia”, explica o professor Carlos Augusto Lemos Chernicharo, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Desa) da UFMG, que coordena o INCT Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Sustentáveis. O INCT é responsável pelo projeto da Rede, ao lado da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A Rede de Monitoramento Covid Esgotos será operada em conjunto pela UFMG, Universidade de Brasília e pelas federais do Ceará, de Pernambuco, do Rio de Janeiro e do Paraná (em conjunto com o Instituto Superior de Administração e Economia [Isae]). As instituições terão apoio das secretarias de Saúde e empresas de saneamento locais.
Realidades diferentes
De acordo com Carlos Chernicharo, o projeto terá duração de um ano e poderá estabelecer bases para a implementação de um programa nacional e permanente de monitoramento, com o objetivo de colaborar na tomada de decisões para o combate à covid-19 e outras enfermidades.
“O trabalho que estamos iniciando agora vai propiciar conhecimento sobre as condições de pesquisa em realidades diferentes, uma vez que essas capitais têm índices distintos de cobertura de esgotamento sanitário. Em cidades como Recife, em que esse índice é menos expressivo, é preciso estender o monitoramento a córregos. Nossa experiência em Belo Horizonte, onde aproximadamente 90% das residências são atendidas pela rede de esgotamento e cerca de 70% do esgoto é tratado, não se aplica integralmente a outros locais”, esclarece o professor.
Outra diferença importante entre as capitais, segundo Chernicharo, reside nos índices de precipitação pluviométrica – grandes quantidades de chuva podem influenciar a concentração do material que denuncia maior ou menor presença no esgoto de um vírus ou bactéria, e esse fator tem que ser incluído nos cálculos.
Ferramenta efetiva
Também vinculada ao Desa, a professora Juliana Calábria, que coordenou o Projeto-piloto Monitoramento Covid Esgotos, de Belo Horizonte, reforça que o trabalho desenvolvido nos últimos doze meses “gerou informações relevantes para o enfrentamento da pandemia e avanços importantes relacionados ao monitoramento do material genético do novo coronavírus nos esgotos, e não deixou dúvidas sobre a efetividade dessa ferramenta de vigilância epidemiológica”.
Nesses 12 meses, foram divulgados 34 boletins de acompanhamento, três boletins temáticos e duas notas técnicas, todos disponíveis nos sites da ANA e do INCT ETEs Sustentáveis. Outra forma de apresentação dos resultados do projeto-piloto é o Painel Dinâmico Monitoramento Covid Esgotos.
Exemplos no mundo
Segundo Carlos Chernicharo, a implementação no Brasil de um programa de monitoramento de esgoto em âmbito nacional seguiria os passos de países como Holanda, França e Itália – alguns já tinham programas consolidados antes da pandemia de covid-19, outros reforçaram suas estruturas ou iniciaram esse esforço para o combate à crise sanitária global instalada no início de 2020.
No projeto-piloto em Belo Horizonte e Contagem, amostras de esgoto eram coletadas em 17 aéreas de drenagem e esgotamento sanitário das bacias dos ribeirões Arrudas e do Onça. Na nova fase, a coleta será feita em quatro daqueles pontos – em regiões onde foi maior a incidência do novo coronavírus em 2020 – e alguns locais de grande circulação de pessoas, como a rodoviária, o aeroporto de Confins, o campus Pampulha da UFMG e dois shoppings.
“Até agora, enfatizamos a evolução da circulação do vírus em áreas de diferentes características de ocupação e situações de vulnerabilidade. A partir da criação da rede, vamos olhar ainda mais para o potencial do monitoramento de gerar alertas precoces. Por isso, a definição de hotspots de grande movimento”, afirma Carlos Chernicharo, acrescentando que essa lógica vai reger os trabalhos em todas as capitais integrantes da rede. Ainda segundo o coordenador do INCT ETEs Sustentáveis, uma das tônicas do esforço nessa nova fase será verificar correlações entre as curvas do processo de vacinação nas seis cidades e da carga viral encontrada em seus sistemas de esgotamento sanitário.
Leia o Boletim de Apresentação da Rede.