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Podcast coloca em evidência discussão do trabalho análogo à escravidão no Brasil e nos EUA

Produção ‘A Mulher da Casa Abandonada’ conta história de uma casal que manteve empregada em trabalho escravo por 20 anos nos EUA

Investigação sobre casarão abandonado em SP trouxe à tona caso de trabalho escravo doméstico.
Investigação sobre casarão abandonado em SP trouxe à tona caso de trabalho escravo doméstico. Foto: Douglas Nascimento - saopauloantiga.com.br / Reprodução

O podcast A mulher da casa abandonada, da Folha de São Paulo, produzido pelo jornalista Chico Felitti, tem sido um dos mais escutados nas plataformas de streaming de áudio. A partir de uma mulher misteriosa, que vive em uma mansão abandonada em um bairro nobre de São Paulo, o jornalista investiga a história de um crime: um casal que manteve a empregada em condições análogas à escravidão por 20 anos nos Estados Unidos. A mulher é Margarida Bonetti, que, depois de ter  fugido do julgamento do crime que é acusada de ter cometido no país norte-americano, hoje vive em condições precárias no casarão da família, que está caindo aos pedaços. O Marido de Margarida, René Bonetti, foi julgado e condenado nos Estados Unidos, país onde cumpriu pena e ainda vive.

O caso dos Bonetti é de um casal brasileiro que levou uma empregada conterrânea para os Estados Unidos, explorou sua mão-de-obra, cometeu diversos maus tratos físicos e verbais, negou cuidados médicos e também todos os direitos básicos do trabalhador, a manteve em condições precárias, sem posse de sua própria documentação, que estava há anos desatualizada. Esse é um caso de brasileiros submetendo uma pessoa a condições análogas a escravidão em outro país. Mas em território nacional esses crimes também acontecem: o caso, infelizmente, não é isolado. Além disso, a prática não se restringe ao âmbito doméstico. As violações dos direitos trabalhistas alcançaram um nível recorde no mundo entre abril de 2021 e março de 2022, segundo a Confederação Sindical Internacional (CSI), que coloca o Brasil entre os 10 piores países no ranking. 

De acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência, em 2021, foram resgatados 1.937 brasileiros em situação de trabalhos forçados, após operações de fiscalização de denúncias nos 27 estados, o maior número desde 2013, quando houve mais de 2.800 resgates. O combate a esse tipo de crime não é simples, uma vez que depende de denúncias e do envolvimento da vítima para que a investigação possa ir adiante. E no trabalho doméstico, muitas vezes, são criados laços emocionais que dificultam que a pessoa deponha contra o empregador, ainda que esteja sofrendo abusos, além da falta de consciência dos próprios direitos, que afeta muitas vítimas. 

O programa Conexões conversou com a professora de direito do trabalho da UFMG Lívia Miraglia, Coordenadora da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da Universidade. Na entrevista, a professora falou sobre o trabalho análogo à escravidão em pleno 2022, o conceito e as formas de combate e, também, sobre o trabalho da clínica da Faculdade de Direito, projeto de ensino, pesquisa e extensão da UFMG que oferece atendimento a vítimas de crimes como esse, por meio de assistência jurídica e judiciária gratuita. Para conhecer o trabalho da clínica, suas pesquisas e publicações e também buscar ajuda em casos de trabalho análogo à escravidão, visite o site clinicatrabalhoescravo.com.

Ouça a conversa com a jornalista Luíza Glória:

Denúncias de violações de Diretos Humanos podem ser feitas pelo Disque 100. O sistema Ipê do Ministério do Trabalho recebe denúncias de trabalho escravo no site. O site do Ministério Público do Trabalho e o aplicativo Pardal MPT do Ministério Público do Trabalho também recebem denúncias de irregularidades trabalhistas, incluindo trabalho escravo. O app pode ser baixado gratuitamente nas lojas de aplicativos para dispositivos Android e iPhone.

Produção: Alícia Coura sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória