Poesia de Mell Renault traz autenticidade da vida no interior de Minas em novo livro, ‘Cortejo’
Obra carrega elementos das culturas do congado, do bordado, das lavadeiras e das benzedeiras
Todo mineiro leva um pouco de Minas consigo, não importa para onde seja ou quanto tempo passe. Refletindo sobre essa origem, Mell Renault escreveu o livro de poesias Cortejo, que conta a história de vida da personagem Maria e o seu dia a dia na serra mineira. Este é o terceiro lançamento da poeta, que descreve a publicação como um produto dos detalhes da rotina, muitas vezes despercebidos, e a autenticidade do interior. A obra e o processo criativo de Renault foram tema de entrevista com a mineira no programa Universo Literário desta quarta, 9.
Na conversa, a escritora revelou que a ideia inicial surgiu quando, no final de 2019, saiu na rua em Esmeraldas, onde vive, e se deparou com várias coroas de flor por conta do falecimento de um vizinho. Ela voltou para casa com o tema na cabeça: um livro que faria um passeio por uma cidade de Minas e exploraria as culturas do congado, do bordado, das lavadeiras e das benzedeiras. Segundo contou, foram algumas semanas de pesquisa para sentar e escrever de uma vez a poesia que conta a história de Maria.
“Todo mundo que tem uma vivência ou alguma memória de interior vai se identificar muito com a Maria. Eu me identifico, não porque morei no interior a minha vida inteira, mas porque muitas das histórias que são retratadas, eu escutava da minha vó, da minha mãe, das minhas tias, das bordadeiras e das benzedeiras. Eu frequentei as casas para entender o que é essa cultura do benzimento e também descobri que os bordados da minha cidade são mundialmente conhecidos, ouvi histórias de mulheres que criaram filhos com os bordados. Acho que tem muito de mim, mas tem muito de todo mundo que tem essa memória do interior. E quem não tem talvez se identifique um pouco porque perpassa pelo imaginário coletivo dessa vida do interior”, explicou.
A entrevista também passou pelo início de Mell Renault na literatura. Aos 13 anos, ela ganhou um livro de João Cabral de Melo Neto do pai que a fez decidir ser poeta quando crescesse. A escritora contou que a única maneira de ser lida, então, era escrever à mão e entregar às pessoas e, assim, começou a produzir seus fanzines, distribuir no comércio e vender nos ônibus. O trabalho artesanal se tornaria então uma marca de seu fazer literário. A poeta comentou ainda o processo criativo de outras obras e suas influências, compostas principalmente por uma tríade feminina – Adélia Prado, Orides Fontela e Hilda Hilst – e outra masculina – Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Manoel de Barros.
Produção: Carlos Ortega e Marden Ferreira, sob orientação de Luiza Glória e Hugo Rafael
Publicação: Alessandra Dantas