Projetos universitários ensinam Libras para melhorar atendimento médico da comunidade surda
Iniciativas da UFMG e da PUC Minas oferecem conteúdo em vídeo sobre a Língua Brasileira de Sinais para profissionais de saúde
A capacitação de profissionais da saúde para atender pessoas com alguma deficiência auditiva é essencial para um atendimento médico inclusivo. Em muitos desses casos, a comunicação entre paciente e médico se dá por meios como a escrita, a leitura labial ou com a ajuda de intérpretes. Porém, esses métodos não funcionam sempre. Não são todos da comunidade surda que são familiares com a leitura labial ou tem o português como primeira língua. Além disso, intérpretes nem sempre são disponibilizados pelas instituições onde ocorre o atendimento. Por isso, o ideal é que essa comunicação seja feita pela Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Para ensinar os profissionais da saúde a lidar melhor com situações como essa, foram criados os projetos Um Sinal Basta, do Diretório Acadêmico Alfredo Balena, da Faculdade de Medicina da UFMG, e Mãos que Comunicam, do Diretório Acadêmico Horizontal de Medicina da PUC Minas. Ambos foram lançados em 2020 e atuam disponibilizando pequenas vídeo-aulas direcionadas ao profissional da saúde, buscando ensinar alguns sinais da Libras que podem ajudá-lo.
O programa Expresso 104,5 desta quarta, 9, apresentou duas entrevistas. A primeira foi com a estudante de Medicina da UFMG Luana Dornelas, organizadora do projeto Um Sinal Basta. A aluna do 5º período contou ter a percepção de que a acessibilidade a pessoas surdas era um assunto pouco abordado desde que entrou na faculdade e quando ela passou a integrar o D.A. teve a ideia da iniciativa.
Não houve dificuldade em encontrar pessoas para participar, pois muitos graduandos tinham conhecimento básico em Libras. Luana considerou ser fundamental o ensino da Língua, pois mesmo com o direito a intérpretes em serviços de saúde garantido por lei, nem sempre eles estão presentes. Além disso, há situações em que o surdo não confia no intérprete e quer ter contato apenas com o profissional de saúde, como em uma consulta ginecológica.
A acadêmica também detalhou o desenvolvimento do projeto. “Começamos ensinando o básico, expressões como ‘oi’, ‘boa tarde’, ‘bom dia’, ‘tudo bem?’, e depois fomos para palavras da área da saúde, palavras que estão relacionadas a sintomas, a doenças e especialidades médicas. Fazemos vídeos simulando consulta entre os próprios alunos que fingem ser médico e paciente para mostrar que por mais que se saiba só o básico, isso facilita muito a comunicação”, resumiu.
Na sequência, a conversa foi com o estudante de Medicina da PUC Betim Gustavo Morais, que criou com a colega Noele Queiroz o projeto Mãos Que Comunicam, inspirado na iniciativa da UFMG. O aluno, que é surdo oralizado, levantou a discussão da inclusão dos deficientes auditivos na área da educação médica quando passou a integrar o movimento estudantil. Ele comentou sobre a adesão dos graduandos do curso de Medicina.
“Muitas pessoas se incomodaram com a ignorância diante desse tema. Eles perceberam que realmente precisam aprender Libras para promover o melhor atendimento porque podem aparecer pacientes com deficiência auditiva que usem Libras como primeira língua. Como que eles vão se comunicar? Afinal, o objetivo do médico é promover a cura e se ele não está possibilitado a se comunicar com esse paciente surge um obstáculo. Então, isso mexe muito com eles”, concluiu.
Mais informações sobre os projetos e os vídeos de cada iniciativa podem ser acessados nos perfis do Instagram do Diretório Acadêmico Alfredo Balena, da Faculdade de Medicina da UFMG, e do Diretório Acadêmico Horizontal de Medicina da PUC Minas.
Produção: Alexandre Miranda e Filipe Sartoreto
Publicação: Alessandra Dantas